terça-feira, janeiro 13, 2009

Wild Orchid



Wild Orchid (1989), de Zalman King, é um filme de que gosto muito. É vulgarmente apontado como filme erótico. Eu partilho desta opinião. Mas o mesmo já não acontece quando o vejo referido como um filme tão-somente erótico.
Muito resumidamente, o enredo gira em torno de Claudia Dennis, um jovem advogada americana que na sua vida profissional conhece e passa a relacionar-se com James Wheeler, um amigo da sua chefe de trabalho que lhe vai virar a cabeça do avesso.
Orquídea Selvagem (em português) é um filme cujo erotismo está fora do cliché meramente sexual (daí a crítica ao mero erotismo). É uma carga brutal de sensualismo, tentação e paixão.
Há muito de redentor na personagem de Claudia Dennis (intepretada pela belíssima Jacqueline Bisset). Já não me lembro se a personagem era ou não virgem, mas a verdade é que o Sexo surge em toda a película, aos olhos de Claudia, como algo que, não deixando de ser híbrido, confuso e perturbador, tem também o seu quê de libertação e salvação [embora isto não seja propriamente uma novidade... :)]. Esta ideia surge, a meu ver, bem expressa no clip que abaixo deixo. É quando Claudia está numa viagem de negócios no Rio de Janeiro. Há todo um desejo, uma carnalidade, um desejo tempestuoso em cada gesto e em cada expressão. O castanho da pele, as cores, as roupas, a música. É uma linguagem desconhecida e perturbadora para uma jovem ameriana tímida e, claro está, inocente.
E depois há... Mickey Rourke. O sex-symbol, o matador, o galã... que é impotente. Tal e qual. É ele que veste a personagem de James Wheeler, homem que aos olhos de Claudia encarna a Tentação e o Mistério em pessoa. Mesmo para o espectador que está de fora - não obstante poder parecer a certa altura foleiro tanto charme - é impressionante o quão poderoso é cada gesto de James, sempre muito vagaroso e meloso nas palavras e seguro nos gestos. Por vezes até nos parece que está a zombar de alguma personagem romântica mítica, tamanha é a confiança e a subtileza da linguagem (oral e corporal, como disse).
Se virmos o argumento, tecnicamente falando, apenas como a plot, então Wild Orchid é fraco. Não há grandes surpresas na história nem desvios de relevo nas personagens - mesmo Claudia vai manter o seu nebuloso puritanismo até ao fim da película.
Agora se virmos um argumento, e para o caso é como eu vejo, como um conjunto ascético de sensações que pretende, não dar respostas, mas sugerir descomprometidamente Sexo e Sensualidade, então este Wild Orchid é um esboço de linhas finas (e tortas, também) da intemporal atracção e desejo entre corpos.
Última nota para a banda sonora. O visual é acompanhado imaculadamente por uma sonoridade magnífica, a fazer jus ao espiritualismo e mistério de todo o filme. Destaque então para Geronimo (OXOSSI, música principal), Nana Vasconcelos, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Underworld.

Muito mais haveria a dizer, mas acontece que vi o filme faz já algum tempo. Resta esse portentoso carnaval brasileiro e uma outra cena entre as duas personagens princpais.



2 comentários:

Guilherme Silva disse...

Meu Deus Noronha, o meu irmão mais velho ainda se vai tornar o teu melhor amigo... :D
Este também é um personal favorite dele.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.