terça-feira, abril 30, 2013

CINEdrio: O futuro da Cinemateca: que direcção?

melancolia contemporânea: CINEdrio: O futuro da Cinemateca: que direcção?

Ouvir numa das sessões do indie na cinemateca dizer-se, no final de uma apresentação elogiosa à secção director's cut, "e esperamos assim estar cá para o ano (silêncio) haja indielisboa (silêncio) e haja ainda cinemateca". Depois leio isto e arrepio-me dos pés à cabeça.

segunda-feira, abril 29, 2013

Esta 5ª f.: "THE GODDESS OF 1967"


Design: Teresa Chow

Com aquele que é, provavelmente, um dos mais belos cartazes que por aqui já passou (cortesia da nossa designer Teresa Chow), o Cineclube FDUP exibe, esta quinta-feira, 2 de Maio, The Goddess of 1967 (2000), de Clara Law.

Às 18h15, na sala 0.01 (piso do bar). Todos convidados! Até lá!

The Goddess of 1967 (2000) é o filme que nos traz Clara Law, nome-charneira da chamada "Segunda Vaga" do cinema de Hong-Kong (anos 80), a mesma em que se integra, por exemplo, Wong Kar-wai, um realizador que o Cineclube já teve oportunidade de exibir. Cineasta focada no tema da diáspora chinesa e dos resultados que essa interculturalidade origina (o amor, a solidão, o choque), é mais uma ambiciosa aposta do Cineclube na divulgação do cinema asiático menos conhecido entre nós.






segunda-feira, abril 22, 2013

Herzog e agora em Vila Nova de Famalicão

 
Para aqueles que recentemente perderam o ciclo do realizador alemão Werner Herzog no cinema Passos Manuel organizado pela Milímetro; para aqueles que não perderam, mas querem ver muito mais; para aqueles que simplesmente gostariam de dar uma espreitadela à Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão; para todos esses ficam aqui as informações sobre o ciclo em torno deste mesmo (e grande!) realizador e da sua relação com Klaus Kinski, ciclo este organizado pelo Cineclube de Joane (que já há algum tempo andava a merecer uma mençãozinha neste blog!).
 



HERZOG – Kinski: QUERIDOS INIMIGOS [entrada livre]
 
No primeiro semestre de 2012, em colaboração com o Goethe Institut, montamos um ciclo dedicado à obra de Werner Herzog, com catorzes filmes que enunciavam o cineasta germânico como um criador de um catálogo da civilização humana e onde deixamos deliberadamente de fora os filmes que Herzog construiu em parceria com Klaus Kinski. Estas cinco obras de ficção instalam-se através de narrativas desenroladas em ambientes não contaminados e originários, num vai e vem entre o interior de mentes irracionais e os locais inóspitos e desregrados onde as lendas se cultivam, propícios ao isolamento e à alienação, com o propósito de intentar feitos ousados e constituir visões ilimitadas, que erram no tempo, para lá do fim do mundo, até ao princípio do mundo. Os filmes apresentam uma linguagem que os aproxima, pela ferocidade, de um documentário de uma rodagem problemática, alimentada pela relação intensa (disputada e arriscada) entre Herzog e Kinski, transformada em processo criativo, que o cineasta explanou através do documentário O Meu Querido Inimigo (1999).
 
Ciclo montado em parceria com o Goethe Institut, a Confederação (Miragaia) e o Cineclube Aurélio Paz dos Reis
 
Cineclube de Joane, Maio de 2013
 
Programação
 
Aguirre, o Aventureiro (1972) – 2 de Maio (5.ª feira)
Woyzeck, Soldado Atraiçoado (1979) – 8 de Maio (4.ª feira)
O Meu Melhor Inimigo (1999) – 10 de Maio (6.ª feira)
Cobra Verde (1987) – 15 de Maio (4.ª feira)
Nosferatu, o Fantasma da Noite (1979) – 16 de Maio (5.ª feira)
Fitzcarraldo (1982) – 17 de Maio (6.ª feira)
 
A todos Bons Filmes!

sábado, abril 20, 2013

MAMMA ROMA E PIER PAOLO PASOLINI

Aqui fica a crítica distribuída na sessão do Mamma Roma, de Pier Paolo Pasolini, no passado dia 11 de Abril.

Texto por: Rita Carvalho
MAMMA ROMA e PIER PAOLO PASOLINI[1]

“Ajudem-me! Doem-me os braços! Porque me puseram aqui? ” Será esta a pergunta-chave de Ettore numa das últimas, mas também mais inquietante, cenas do filme Mamma Roma. Aqui, Ettore encontra-se deitado em roupa interior, preso a uma mesa que contém um buraco no centro, bem no sítio onde permite que a urina verta assertivamente para um balde colocado rigorosa e astuciosamente em sítio concertado. A transpirar enquanto treme de frio, e depois de toda a incompreensão e tentativa de libertação (ele bem tentou!), pede que parem, que o ajudem, promete portar-se bem e termina em acto de desejo: quer apenas que o levem de volta para onde vivia, para o sítio onde era pequeno. Mas que sítio seria este? Não seriam certamente os arredores da grande Roma (o borgate) onde agora se encontrava, não; seria porventura o campo, que o mesmo é dizer a simplicidade, julgamos nós. E julgámo-lo não apenas pelos elementos que o filme nos oferece, mas (e fundamentalmente) pelo que sabemos da vida do realizador. Pier Paolo Pasolini seria seduzido pela ruralidade e respectivos camponeses, costumes e dialectos (e veja-se aqui como um mero exemplo a sua poesia escrita em friulano, cuja tentação para em tal dialecto escrever viria pelo próprio a ser descrita como “uma espécie de paixão mística, de felibrígio”, que o levaram a apoderar-se dessa “velha língua”). Porém, avança nessa descrição, “com muita ingenuidade decidi ser incompreensível e, para tal, escolhi o dialecto friulano. Era para mim o cúmulo do hermetismo, da obscuridade, da recusa da comunicação. Ora aconteceu uma coisa que não esperava. O uso deste dialecto proporcionou-me o gosto da vida e do realismo. Através do friulano aprendi que as pessoas simples, por meio da sua linguagem, acabam por existir objectivamente, com todo o mistério do seu carácter camponês”. Aí quererá Ettore regressar, ao início, a tal existência objectiva (se é que ela terá de facto existido!), ainda que entre porcos e galinhas que se passeiam no chão de terra batida, entre a mesa e os convidados de um casamento, início este que se perde num quotidiano vagueado e sem rumo e do qual nunca mais ouviremos falar senão no fim.

Ler tal anseio de Ettore, filho adolescente de Mamma Roma (Anna Magnani, numa ou em mais uma brilhante interpretação) levado para o borgate no auge da sua adolescência, numa exasperada tentativa de mudar de vida (a dela – (até aí) marginal – e a dele – potencializando-a, julgava ela, maternalmente), implica impreterivelmente duas abordagens em si interpenetradas.

A primeira será a consciência de que se trata Pasolini de um realizador do neo-realismo italiano, ainda que com abundantes variações do inicial (aquele de Sica, de Rosselini ou de Visconti), nomeadamente no que concerne à utilização de actores não profissionais não para tornar as cenas o mais realistas possível, mas antes para que não parecessem tão reais (e falamos aqui já da introdução no cinema de uma dimensão mística, mítica e poética), e das significações que daqui devem ser apreendidas.

A segunda será a percepção de que, ainda que Mamma Roma se insira no primeiro período do cinema de Pasolini, iniciado com Accattone, período esse tão veemente associado ao tal neo-realismo de que falávamos, seria limitativo querer ver no filme o objectivo de uma mera apresentação da realidade – e leia-se em “realidade” a miserabilidade e marginalidade vivida no borgate; leia-se ali a vida vivida à margem dos valores burgueses espácio e temporalmente situados, na Itália de 1962, conjugada com a persistente, generosa e bela tentativa da busca de alguma felicidade, senão da felicidade ela mesma (e note-se a lindíssima cena em que a nossa Mamma Roma ensina ao seu pequeno Ettore uns quantos passos de dança no quarto do pequeno apartamento que orgulhosamente conseguiu para ambos; ou dos esforços que Mamma Roma faz para se integrar, a ela e ao seu).

Na verdade, existirá (e existe!) uma crítica suficientemente implícita para que facilmente perceptível à Itália e respectiva sociedade dos tempos a revelar. Não fosse de Pasolini que estivéssemos a falar! Tido por muitos como o maior intelectual da Itália do pós II Guerra Mundial, homossexual, marxista e ateu, com uma das mais provocantes vozes de discórdia político-cultural (seja do período do fascismo, seja do pós-guerra a que nos queiramos referir), ingénuo seria não perceber aqui a aversão pelas opções económico-políticas do pós-guerra, com base, claro está, no capitalismo, nas quais Itália se apoiava para suplantar os traumas de um regime fascista, de uma guerra e consecutivo processo de reconstrução. E percebemos isso mesmo na mota oferecida ao filho, como se o presente o fosse salvar do (des)rumo em que se encontrava (eles bem o tentaram, naquela cena linda para morrer em que nela viajam, amarrados, como se assim estivesse bem, como se bastasse); mas percebemo-lo ainda melhor no facto de Mamma Roma regressar sucessivamente à sua vida anterior de prostituta: se, por um lado a sua força quer representar um país que se esforça por se erguer e ver um futuro próspero (ou algum, pelo menos!), por outro, ela e a decadência que a envolve pretendem mostrar que aquele não pode ser o percurso a seguir, ou a marginalidade em que está enrolada não terá fim, tal como as potencialidades do seu filho não verão a luz do dia (a não ser através daquela pequena janela, mas aí…). Onde, em tal processo, ficam estas pessoas, pergunta-se. Ver em Anna Magnani somente a denúncia de uma mãe a lutar pela vida de seu filho, ainda que dolorosamente belo, não basta. Aliás, Mark Cousins veio afirmar “Mamma Roma is herself and the city”[2] com algum propósito.   

E regressando agora àquele início já mencionado, e à introdução de um cariz místico e poético neste que é, ainda assim, um filme com sérias intenções neo-realistas, falemos pois da introdução no cinema de um assumido ateu do questionar do papel da posição das crenças e do papel da Igreja e da herança cristã (e de como esse carácter místico vem inclusive acrescentar ao realismo com que Pasolini nos apresenta as pessoas e a sociedade nos seus filmes, ou seja, bem situadas). Onde queremos chegar: à cena final. Quando o mundo desaba e todos os esforços realizados fracassam ou, pior, corrompem ainda mais as almas simples e modestas como a de Ettore poderia ter sido, uma imagem: lá ao longe, uma cúpula de uma Igreja. Uma questão: servirá ela de uma réstia de salvação, ou de elemento de desacreditação total?

Para um ateu, permitir que tal questão permanecesse no ar poderia soar estranho. Mas não para Pasolini que um dia afirmaria “I may be an unbeliever, but I am an unbeliever who has a nostalgia for a belief”[3]. Controverso porque criticado por todas as frentes (pela Igreja católica, pelas suas opções sexuais e políticas, e por marxistas, pela introdução nas suas obras de elementos tão religiosos ou, melhor, místicos – o maior exemplo disso estava ainda por vir, precisamente em 1964 com o Evangelho Segundo São Mateus), apresentou-se na verdade situado acima de qualquer uma dessas posições. Não teve nunca problemas em fazer distinções entre crença e herança histórica, ou ir ainda mais além, e diferenciar a crença da nostalgia por uma crença. Às críticas responde “Que mais dizer para desencorajar esses inquisidores importunos? Não gosto do catolicismo, como instituição (…) porque a minha religião, ou antes o meu espírito religioso (…) se sente ofuscado. Resta esse cripto-cristianismo com que os mais agressivos me estigmatizam, como tara vergonhosa. Dir-lhes-ei que é difícil para um Ocidental não ser cristianizado, a não ser que seja mesmo cristão crente. Com mais razão para um italiano. Gostaria de evitar dizer, por demasiado banal, que sou – culturalmente – cristão, e que não escolhi, geograficamente falando, a minha situação, desse ponto de vista. Quanto à visão religiosa que possamos ter do mundo – tanto eles como eu –, ela dispensa o idealismo cristão. Tenho tendência para um certo misticismo, para uma contemplação mística do mundo, é sabido. (…) uma irresistível necessidade de admirar os homens e a natureza, de reconhecer a profundidade onde outros apenas pressentem a aparência inanimada, mecânica das coisas. (…)” E sobre Deus: “Pela minha parte, lamento muito, mas não acredito. (…) Entre mim e a realidade histórica criou-se a espessura do mito”.

Pasolini, porque tão controverso, polémico, e desinserido, depois de muitas acusações injuriosas, acabou assassinado em 1975, com vários ferimentos no corpo e o rosto desfigurado. Ficaram os seus textos, que de tão bem construídos quase nos fazem cair na falácia do “agora já não se faz disto!”, as pinturas e o seu cinema, aquilo que seria para ele um conjunto de cortes e reorganizações da vida em si e das variadas dimensões que a compõe, do mais real, ao mais poético e de que Mamma Roma será um estonteante exemplo. 







[1] Todas as citações que surjam ao longo do texto do próprio Pasolini são retiradas de um livro onde se compilaram algumas das suas entrevistas: “Pier Paolo Pasolini – As Últimas Palavras de um Ímpio (conversas com Jean Duflot)”, Distri Editora, 1985.
[2] In Sight&Sound, March 2013, Volume 23, Issue 3, p. 41
[3] In Sight&Sound, March 2013, Volume 23, Issue 3, p. 39

terça-feira, abril 16, 2013

"Je, Tu, Il, Elle": é já na 5ª feira!

 
 
 
 
O Cineclube FDUP apresenta, esta quinta-feira, dia 18 de Abril, o filme Je, Tu, Il, Elle (1976), de Chantal Akerman. O filme será exibido na sala 0.01, pelas 18:15h, e contará com a apresentação por David Pinho Barros, Mestre em Cinema pela Universidade de Lisboa.
 
  
Outra estreia absoluta é a de Chantal Akerman, cineasta que, inspirada na Nouvelle Vague francesa, construiu um percurso único marcado pelo experimentalismo e pela desmontagem das fronteiras entre a ficção (e da narrativa convencional que a ela costumamos associar) e o documentário, num universo pontuado pelas noções de linguagem, tempo e espaço (arquitectónico, também), mas também de solidão ou de intimidade. Je, tu, il, elle (1976) está aí para nos fazer mergulhar nesta idiossincrática filmografia.



Até lá e Bons Filmes!

segunda-feira, abril 08, 2013

Esta 5ª feira: "MAMMA ROMA"

 Design: Teresa Chow
 
 
Depois de sucessivos adiamentos, o Cineclube FDUP exibe, esta quinta feira, dia 11 de Abril, o aguardadíssimo Mamma Roma (1962), de Pier Paolo Pasolini.
 
Às 18h15, na sala 0.01 (piso do bar). Até lá!
 
 
Mamma Roma (1962) mergulha-nos no neo-realismo - tardio e, por isso, mais sofistificado, como que prenunciador das derivas estéticas difusas por vir - de um dos nomes maiores do cinema italiano (e da arte italiana, em geral, do século XX): Pier Paolo Pasolini, em estreia absoluta no Cineclube FDUP, traz-nos a histórica Anna Magnani num dos seus mais comoventes papéis.
 
 
P.S.: É favor ignorar a data que consta do cartaz (12 de Março). A data correcta é dia 11 de Abril, esta quinta-feira.

sexta-feira, abril 05, 2013

o jovem esqueleto


E não é que ontem, no nosso Cineclube a ver "A Regra do Jogo", dei por mim a lembrar-me dos Irmãos Lumière e do seu "Jovem Esqueleto"? A imagem que deixo é do filme do Renoir, no momento em que também um esqueleto dança. Coincidências, com certeza!



A Regra do Jogo, Jean Renoir, 1939

segunda-feira, abril 01, 2013

Esta 5ª f.: "A Regra do Jogo"

Design: Teresa Chow

Esta quinta-feira, dia 4 de Abril, pelas 18h15, na sala 0.01, o mais antigo Cineclube universitário do Porto retoma a sua programação com uma obra-prima da história do cinema: A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir.

Estão, obviamente, todos convidados. Até lá!

Dia 4 de de Abril é a oportunidade para ver uma das maiores obras da história do Cinema directamente da câmara de uma das suas maiores figuras, Jean Renoir, cineasta que, mesmo no turbilhão dos críticos dos Cahiers du Cinéma (Godard, Trauffaut, Rohmer, etc.) dos anos 60, manteve sempre o seu estatuto de Mestre e visionário. A Regra do Jogo (1939), filme-síntese-tratado da decadência da burguesia francesa (o relativismo, a amoralidade, a hipocrisia, etc.) e suas convulsões no período entre as duas grandes guerras que marcaram o século XX é a proposta do Cineclube FDUP para a iniciação à obra de Renoir.
cinema now also lives here (entre outros amontoados, pois claro!)