sábado, janeiro 31, 2009

O século XIX

A impossibilidade lógica de compreender a década de 80 e 90 do século XIX em cinco posts dedicados a cada uma das décadas, fez aglutinar os existentes num único post. Não podemos aqui falar de filme como o conceito que hoje conhecemos, dai a referir-me a esta época como pré-história do cinema. Como tal vejo estes pequenos filmes, que raramente excedem um minuto, mais com um interesse de historiador que busca entender uma época passada, analiso-os como documentos, fragmentos daquilo que um dia foi apenas mais uma invenção como tantas outras.



Este é o primeiro filme a historia, ao contrario do que muitos acreditam, não é dos irmãos Lumiere, mas sim de Louis Le Prince.



O inventor, residia em Inglaterra, na cidade de Leeds, que seria retratada na sua segunda obra acima exibida.

Apesar destes terem sido os primeiros, os grandes pioneiros daquilo que virá a ser uma indústria de milhões e milhões, foram os Lumière Brothers. A eles se deve a ideia de produzir e distribuir as películas filmadas, a sua primeira exibição foi do filme “ A fabrica “, no Grand Café de Paris. A data, é já 1895, ou seja 7 anos depois do primeiro filme. A este seguiram-se outros, principalmente filmagens da família Lumiere em diferentes situações, cenas do quotidiano e algumas brincadeiras.





De referir ainda o importante contributo do inventor Americano Thomas Eddison.



E por fim, uma das primeiras obras de um dos meus favoritos, Georges Méliès, do qual falarei um pouco mais na primeira década do século XX.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Décadas Do Cinema

Começo hoje uma nova rubrica aqui no blog do cineclube. Proponho-me a lançar para aqui 5 filmes por década, desde “ A saída da Fabrica “ dos mais importantes irmãos do cinema (os Lumiere e não os Cohen, como muitos queriam), até aquele que poderá ainda ser feito até ao final deste ano. Não pretendo com isto ditar ou tentar explicar quais os mais importantes, ou os com mais sucesso, pretendo sim fazer uma escolha pessoal, o que vi ou senti, e de certa forma tentar enquadrar o cinema como um todo. A partida é uma tarefa Hercúlea ou quase impossível, e certamente que cada um de voz terá a sua lista. Eis a minha, espero que gostem, ou que encontrem aqui algum que seja vossa referência. Para facilitar o vosso acesso a todos os textos em simultâneo, vou criar uma marca no fim de casa artigo.


Roky Erickon - You're gonna miss me



Ao ler o ultimo post deste blog, deparo-me com uma citação minha de há algum tempo atrás. O autor do referido post, recordei-me então, disse um dia que as minhas referências eram erradas, lembrei-me de uma, impar no seu tempo e reflexo do meu final neste mundo, uma muito obscura que nunca com ele partilhei. Roky Erikson, um dos maiores autores e compositores deste século, também presente na industria cinematográfica. Por pena minha nunca consegui ver os seus filmes, apenas um documentário belíssimo sobre os seus problemas pessoais. Fica um pouco do documentário aqui, e o desejo de um dia absorver toda a sua experiência.



Wikipedia:

Mental illness and legal problems:

In 1968, while doing a stint at Hemisfair, Erickson started speaking nonsense. He was diagnosed with paranoid schizophrenia and sent to a Houston psychiatric hospital, where he involuntarily received electroconvulsive therapy.
The Elevators were vocal proponents of mescaline (peyote), LSD, and marijuana use, and were subject to extra attention from police. In 1969, Erickson was arrested for possession of one marijuana joint in Austin. Facing a ten-year prison term, Erickson pled not guilty by reason of insanity. He was first sent to the Austin State Hospital. After several escapes, he was sent to the Rusk State Hospital for the Criminally Insane, where he was subjected to more electroconvulsive therapy and Thorazine treatments, ultimately remaining in custody until 1972.

• isto faz parte de um artigo mais extenso

Este e o filme que gostava de conseguir: Demon Angel a Day and Night with Roky Erickson

terça-feira, janeiro 27, 2009

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford

Ainda não encontrei ninguém que tivesse tão boa opinião sobre o filme quanto a minha. Sei que há quem nutra a mesma ou ainda maior admiração por este, mas temo-os escondidos com medo de se revelarem.
As opiniões que encontro ficam-se pelo mau e o medíocre. E não percebo porquê. É verdade que não tem toda a acção de Mission Impossible: III, ou todo o humor do Family Guy, ou ainda o enredo encruzilhado de Pulp Fiction, mas a verdade é que o tenho como um filme brilhante no que toca à conjugação de estética e enredo. Sinceramente, vejo-o como um filme incólume, sem erros a apontar. Desde a perfeição técnica (montagem esplêndida, e nada de boom mikes ou crew visíveis) à total coerência do enredo e decorrer deste, acredito mesmo que este filme não deve ter uma única goof a apontar no IMDB (mas não vou ver, porque conheço a minúcia critica do meio).
Mas como a perfeição técnica nunca fez de nenhum filme uma obra sublime, este filme conta com algo de ainda mais arrebatador. A história de Jesse James e Robert Ford, apesar de falaciosa, é exposta com singular paixão e através de memoráveis prestações, tanto por parte de Brad Pitt como Casey Affleck. Conta também com uma total harmonia entre enredo, cenário e fotografia. É uma história melancólica, num cenário melancólico, com uma fotografia melancólica. Julgo ser esta a melhor definição para este Triunvirato de bom gosto.
Um amigo descreveu-o como “um filme de duas horas e meia que conta uma história que podia ser contada em vinte minutos”, outro como “um tédio de duas horas, que quando parece terminar ainda se arrasta por outros trinta minutos”, e um irmão acusou-me de “o ter feito desperdiçar horas do seu precioso tempo”. E mais uma vez, não percebo porquê. Ou se calhar até percebo…
O filme passa muitas vezes por promessa de pura acção, pois toda a ideia de assassinato cobarde leva-nos por todo um imaginário de planos engenhosos de traição, com muitos disparos e explosões de fogo e metal à mistura. Pois tal não acontece neste filme, de todo, o que muitas vezes se pode revelar algo frustrante e vexante.
A verdade é que este filme segue os passos de dois homens singulares e a sua relação, relação essa num limbo entre a amizade e o ódio. Para mal dos meus pecados, tratarei de fazer uma analogia que temo escandalosa e pouco consensual. Revejo a relação de Jesse James e Robert Ford na relação de Jesus e Judas, na adaptação do tema por Martin Scorsese, em 1988. Neste, e se bem me recordo, é Jesus quem objectivamente convence e incita Judas a trai-lo, tendo como objectivo deste fim macabro o realizar de velhas profecias, o Reino de Paz e a glória futura. No caso de Jesse James e Robert Ford, o panorama é muito idêntico. Jesse, herói e benfeitor para uns, némesis e grande meliante para o poder estabelecido, encontra-se numa encruzilhada existencial. Doente e sem amigos, sente o cerco apertar-se, e encontra em Robert Ford, seu admirador e seguidor, seu amigo e seu inimigo, a libertação. È indiscutível que Jesse sabia que Ford o ia assassinar, e ainda assim se entregou a esse triste fim, que inesperadamente lhe trouxe glória infinita (ainda hoje é uma lenda orgulhosa no sul dos EUA) e muitos seguidores (desde então milhares de crianças foram baptizadas com seu nome, em sua honra).
Devo já advertir que a lenda de Jesse James é, hoje em dia, tida como imprecisa e falaciosa. Ele nunca foi um Robin dos Bosques do velho Oeste, tão pouco um benfeitor em prol da comunidade. Foi sim um ladrão egoista e um assassino, que apenas por razões politicas atingiu o status que ainda hoje lhe é conferido. O filme não envereda nesta viciada adaptação da verdade, a não ser no título, algo desajustado. De resto, nunca é Jesse James interpretado como um herói e benfeitor.
Concluindo, acho que este filme tem tudo para mais tarde ser recordado como uma das melhores obras da primeira década do Século XXI. Sem dúvida. Desde as fabulosas interpretações, com especial relevo para as duas personagens principais (sim, porque a meu ver, é Robert Ford a personagem principal), à maravilhosa fotografia muito ao estilo das obras de Terrence Malick, todo o filme ficou gravado na minha memória com um must-see para os meus filhos.

Last Exit To Brooklyn - 1990



Que bela forma de começar a manha. Mais um filme de bairro para ganhar força para encarar o dia. Destaco as cenas de violência que neste filme são realizadas com uma técnica e um realismo deliciosos, Greasers à maneira a mostrar o que é ser um Low Life. Final um pouco deprimente, mas fica ao critério de cada um …




Allmovie:

Hubert Selby's controversial 1964 cult novel Last Exit To Brooklyn is adapted to the big screen by director Ulrich Edel in this drama. The story is set in the early 1950s in Red Hook, Brooklyn, a blighted waterfront town of boarded-up storefronts and striking factory workers. Harry Black (Stephen Lang), a machinist put in charge of the local union strike office, suddenly finds himself one of the most important men in town. But for all his sudden power, there's something disturbing Harry. He rejects his wife's caresses and discovers himself infatuated with a frail young man who calls himself Georgette (Alexis Arquette), who has a crush on well-muscled hood Vinnie (Peter Dobson). But Harry doesn't confront his problem head-on until he falls head-over-heels in love with Regina (Zette), a local transvestite. As the strike becomes more intense, Harry sinks deeper into an obsessive affair with Regina, using the strike fund to shower him/her with personal gifts. As Harry sinks into obsession, other characters float through the decaying streets. There's the attractive prostitute Tralala (Jennifer Jason Leigh) who falls in love with a sailor about to be shipped overseas. There is also an agreeable young man named Tommy (John Costelloe) who is beaten by his soon-to-be father-in-law Big Joe (Burt Young) for making his daughter Donna (Ricki Lake) pregnant. Everything comes to a tragic conclusion as the workers' strike escalates into a violent confrontation.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

American Graffiti (1973)



Sem duvida um dos melhores filmes que já vi. Não o digo com a leviandade de quem fala apenas de ver um filme sobre o seu tema favorito. Falo de quem vive o cinema em todo o seu esplendor. A 7ª arte no seu mais belo, falarei sempre da beleza deste filme como falo de obras como o “Easy Rider”,”Barry Lyndon” ou o “Apocalyspe Now”. Produzido por Coppola logo após o sucesso do “ The Godfather “, tendo como realizador George Lucas. É o retrato de uma época perdida. A visão da geração que mais marcou o século XX. A geração do Baby Boom. Um filme a não perder a todos que verdadeiramente apreciam o cinema em todos os sentidos, desde a narrativa, a fotografia, as técnicas de filmagem, a banda sonora, e o tema. Se não é perfeito, pouco falta …. Ainda curiosa a participação de Harrison Ford.



Allmovie:

It's the last night of summer 1962, and the teenagers of Modesto, California, want to have some fun before adult responsibilities close in. Among them are Steve (Ron Howard) and Curt (Richard Dreyfuss), college-bound with mixed feelings about leaving home; nerdy Terry "The Toad" (Charles Martin Smith), who scores a dream date with blonde Debbie (Candy Clark and John (Paul Le Mat ), a 22-year-old drag racer who wonders how much longer he can stay champion and how he got stuck with 13-year-old Carol (Mackenzie Phillips) in his deuce coupe. As D. J. Wolfman Jack spins 41 vintage tunes on the radio throughout the night, Steve ponders a future with girlfriend Laurie (Cindy Williams), Curt chases a mystery blonde, Terry tries to act cool, and Paul prepares for a race against Bob Falfa (Harrison Ford), but nothing can stop the next day from coming, and with it the vastly different future ushered in by the 1960s. Fresh off The Godfather (1972), producer Francis Ford Coppola had the clout to get his friend George Lucas's project made, but only for $750,000 on a 28-day shooting schedule.);
Despite technical obstacles, and having to shoot at night, cinematographer Haskell Wexler gave the film the neon-lit aura that Lucas wanted, evoking the authentic look of a suburban strip to go with the authentic sound of rock-n-roll. Universal, which wanted to call the film Another Slow Night in Modesto, thought it was unreleasable. But Lucas' period detail, co-writers Willard Huyck's and Gloria Katz's realistic dialogue, and the film's nostalgia for the pre-Vietnam years apparently appealed to a 1973 audience embroiled in cultural chaos: American Graffiti became the third most popular movie of 1973 (after The Exorcist and The Sting), establishing the reputations of Lucas (whose next film would be Star Wars) and his young cast, and furthering the onset of soundtrack-driven, youth-oriented movies. Although the film helped spark 1970s nostalgia for the 1950s, nothing else would capture the flavor of the era with the same humorous candor and latent sense of foreboding.



Awards:

Best Picture - Musical or Comedy (win) 1973 Golden Globe
New Star of the Year - Male (win) Paul Le Mat
1973 Golden Globe
Best Screenplay (win) Willard Huyck
1973 New York Film Critics Circle
Best Screenplay (win) Gloria Katz
1973 New York Film Critics Circle
Best Screenplay (win) George Lucas
1973 New York Film Critics Circle
U.S. National Film Registry (win) 1994 Library of Congress
100 Greatest American Movies (win) 1998 American Film Institute

Werewolves On Wheels



Todos dizem que estou a ficar demente, será verdade? Aqui esta o que hoje de manha vi em download concluído no Emule. Parece ser brutal!

A biker gang visits a monastery where they encounter black-robed monks engaged in worshipping Satan. When the monks try to persuade one of the female bikers, Helen, to become a satanic sacrifice the bikers smash up the monastery and leave. The monks have the last laugh, though, as Helen, as a result of the satanic rituals, is now possessed and at night changes into a werewolf, with dire results for the biker gang



Um bem haja para toda a malta do Brasil !

domingo, janeiro 18, 2009

Belarmino (1964)



Quase nunca aqui me lembro de se falar de cinema português, como tal faço-o agora. Belarmino foi dos filmes que mais gostei feitos em Portugal( poderei dizer até que foi dos únicos), realizado numa época conturbada da nossa historia esta repleto de simbolismo. Vi-o mais ou menos na mesma altura que o Raging Bull, creio que há 7 ou 8 anos, nunca o revi, mas no entanto recordo cada momento do filme com uma nitidez espantosa, como diriam os antigos, “ outros tempos “, encarando assim esta película como um testemunho do nosso passado, que muitos hoje já esqueceram.

Wikipedia

Belarmino (1964) é um documentário português de longa-metragem realizado por Fernando Lopes, sobre um pugilista de nome Belarmino Fragoso.
É um dos primeiros filmes da geração do Novo Cinema português, inspirado pela Nouvelle Vague francesa mas sempre fiel ao neo-realismo, cujo pioneiro no cinema português foi Manuel Guimarães, na década anterior.
No caso de Belarmino, há marcas evidentes de Rocco e seus Irmãos (1960), de Visconti, no tema, no enquadramento social do problema, e de Chronique d'un été (1961) de Jean Rouch, na sua abordagem pelo documentário, pelo cinema directo com recurso à entrevista.
O filme estreou no cinema Aviz, em Lisboa, a 19 de Novembro de 1964

Sinopse

Belarmino é um antigo campeão de box, de humildes origens, que teve momentos de glória mas que o capital explorou. Nutre-se agora de memórias, sofre de nostalgia. Vive como um marginal, deambulando pela cidade de Lisboa. Para ganhar a vida é engraxador e pinta fotografias.

Enquadramento histórico

O início da década de sessenta é marcado pela agitação social (greves universitárias), por importantes movimentações da esquerda, clandestina, por um certo bulício cultural e editorial que a PIDE perseguia. Germinando nos meios universitários, fanáticos de certos filmes que viam nos seus cine-clubes, inúmeros intelectuais marcariam presença na vida do seu país até ao final da década. Mergulhado nesse contexto, Belarmino espelha com certa nitidez o modo de ver as coisas que uma geração sofrida mas rebelde se impunha.

sábado, janeiro 17, 2009

Rescue Dawn ( Espirito Indomavel )




Foi com agrado que vi hoje chegar do Showtime( o clube de cinema ao fundo da minha rua) a mais recente obra de Werner Herzog. O realizador, pelo qual guardo grande estima, e na minha opinião talvez o melhor que a Alemanha viu nascer no pós guerra, autor de Aguirre The Wrath of God, obra brilhante sobre o conquistador espanhol, e uma viagem alucinante à mente humana, aos motivos, a ganância, crueldade e o culminar na demência. Da película referida, falarei a seu tempo, mas recordo-a pois de certa forma partilham a forma e o contexto, embora em épocas díspares. Daw Rescue passa-se no Vietname em 1966. Os EUA preparavam-se para bombardear o Laos numa operação confidencial. A verdadeira acção do filme começa quando o caça de Dieter é abatido. Este consegue sobreviver, mas encontra-se subitamente cercado por centenas de Km de selva Hostil, piorando a situação é capturado pelos Vietcongs que o aprisionam em conjunto com outros pow’s. A história ganha o seu valor a partir de então. Cada elemento tem a sua personalidade, e como tal tem a sua forma de reagir aos obstáculos interpostos. A força de vontade e esperança ganham neste contexto um impacto quase divino na mente do jovem tenente. A sua fuga ciente das adversidades é espantosa, o destino reservado a todos que daquele campo escaparam poderá reflectir-se na sua capacidade de acreditar na mudança, e na sua força de carácter. O Vietname, tema tão rebatido em inúmeros filmes, ganha aqui uma cor mais humana, como que um grito à consciência sobre o erro da intolerância. Sim podemos dizer que é um filme de guerra, que a crueldade e a selvajaria substituem a trama misteriosa de um actor sensual, e que aparentemente vemos apenas a fuga de alguém para junto dos seus. Seguramente que quem analisa assim uma obra de cinema, não mais ve por exemplo no “ três de Maio “ de Goya que um conjunto de homens a disparar sobre outros, bárbaros todos eles numa apologia de sangue e morte, falhando a suma beleza do quadro por tudo o que ele representa. Não participam aqui estrelas de Hollywood, mas podemos ver em acção dois actores formidáveis, Christian Bale e Steve Zahn. O filme relata factos verídicos.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Por falar no Mickey Rourke,

o actor acabou de ganhar o Grammy de melhor actor pela performance em The Wrestler (não vi), de Darren Aronofsky. Li opiniões muito positivas sobre o filme, o que temperou a minha pré-conceptualizada aversão pelo wrestling.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Wild Orchid



Wild Orchid (1989), de Zalman King, é um filme de que gosto muito. É vulgarmente apontado como filme erótico. Eu partilho desta opinião. Mas o mesmo já não acontece quando o vejo referido como um filme tão-somente erótico.
Muito resumidamente, o enredo gira em torno de Claudia Dennis, um jovem advogada americana que na sua vida profissional conhece e passa a relacionar-se com James Wheeler, um amigo da sua chefe de trabalho que lhe vai virar a cabeça do avesso.
Orquídea Selvagem (em português) é um filme cujo erotismo está fora do cliché meramente sexual (daí a crítica ao mero erotismo). É uma carga brutal de sensualismo, tentação e paixão.
Há muito de redentor na personagem de Claudia Dennis (intepretada pela belíssima Jacqueline Bisset). Já não me lembro se a personagem era ou não virgem, mas a verdade é que o Sexo surge em toda a película, aos olhos de Claudia, como algo que, não deixando de ser híbrido, confuso e perturbador, tem também o seu quê de libertação e salvação [embora isto não seja propriamente uma novidade... :)]. Esta ideia surge, a meu ver, bem expressa no clip que abaixo deixo. É quando Claudia está numa viagem de negócios no Rio de Janeiro. Há todo um desejo, uma carnalidade, um desejo tempestuoso em cada gesto e em cada expressão. O castanho da pele, as cores, as roupas, a música. É uma linguagem desconhecida e perturbadora para uma jovem ameriana tímida e, claro está, inocente.
E depois há... Mickey Rourke. O sex-symbol, o matador, o galã... que é impotente. Tal e qual. É ele que veste a personagem de James Wheeler, homem que aos olhos de Claudia encarna a Tentação e o Mistério em pessoa. Mesmo para o espectador que está de fora - não obstante poder parecer a certa altura foleiro tanto charme - é impressionante o quão poderoso é cada gesto de James, sempre muito vagaroso e meloso nas palavras e seguro nos gestos. Por vezes até nos parece que está a zombar de alguma personagem romântica mítica, tamanha é a confiança e a subtileza da linguagem (oral e corporal, como disse).
Se virmos o argumento, tecnicamente falando, apenas como a plot, então Wild Orchid é fraco. Não há grandes surpresas na história nem desvios de relevo nas personagens - mesmo Claudia vai manter o seu nebuloso puritanismo até ao fim da película.
Agora se virmos um argumento, e para o caso é como eu vejo, como um conjunto ascético de sensações que pretende, não dar respostas, mas sugerir descomprometidamente Sexo e Sensualidade, então este Wild Orchid é um esboço de linhas finas (e tortas, também) da intemporal atracção e desejo entre corpos.
Última nota para a banda sonora. O visual é acompanhado imaculadamente por uma sonoridade magnífica, a fazer jus ao espiritualismo e mistério de todo o filme. Destaque então para Geronimo (OXOSSI, música principal), Nana Vasconcelos, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Underworld.

Muito mais haveria a dizer, mas acontece que vi o filme faz já algum tempo. Resta esse portentoso carnaval brasileiro e uma outra cena entre as duas personagens princpais.



domingo, janeiro 11, 2009

Boyz 'N the Hood ( A malta do bairro )



Director John Singleton's debut chronicles the trials and tribulations of three young African-American males growing up in South Central Los Angeles. When young Tre (Cuba Gooding Jr.), a bright underachiever, begins to show signs of trouble, his struggling professional mother (Angela Basset) sends him to live with his father (Lawrence Fishburne), a hard-nosed, no-nonsense disciplinarian. There he befriends Ricky (Morris Chestnut), a burgeoning football star, and Doughboy (Ice Cube, in a standout performance), a would-be gang banger. Over the years, each chooses his own path: Tre seems bound for college; Ricky is a blue-chip running back with his pick of schools; Doughboy is a dope dealer and bona fide gangster who drifts in and out of the county juvenile facility. All is well until, without warning, a rival gang chases down Tre and Ricky with tragic results. Doughboy immediately prepares for revenge, forcing Tre to decide whether to jeopardize his future and, perhaps, his life for the price of revenge and self-respect. Sometimes riveting, Boyz'N the Hood is not without its problems. The film tries to cram every single issue facing the black community into an hour and a half of screen time, making the film seem at times forced. The symbolism seems forced as well, and the film is often unbearably heavy-handed. Also, the characterization often relies on cardboard cut-outs; every white character in the film is a one-dimensional bigot, and the black police officer with whom Tre and his father deal is even worse than his Caucasian counterparts. Still, the unevenness of the film is redeemed by some moments of true brilliance.



Creio que o allmovie ja fez uma apresentação mais do que correcta. Resta apenas referir a excepcional banda sonora do filme.



Este é aquilo que chamo um dos " filmes da minha vida ", aqueles que mais marcam. Não tem respostas faceis nem diz o que todos querem ouvir. Um clássico, o icone da juventude perdida. É este o sonho americano ?

sábado, janeiro 10, 2009

RIP - Jim "Johnny Cakes" Witowski




Morreu John Costelloe mais conhecido pelo seu papel de Johnny Cakes na serie " Os Sopranos ".

Discos Voadores


Este é um dos filmes de cinema espanhol que mais me marcou. Um tema que à partida remete-nos para a ficção científica, é neste filme a pedra basilar de uma dissertação sobre a liberdade, e os sonhos de uma pessoa. Até onde estas disposto a ir? Que sacrifícios consentes para atingir a felicidade?

A força do poder

Este dispensa qualquer tipo de apresentação, uma obra-prima …



E que dizer do final ?

Sempre se falou, ou tem-se a ideia que os filmes tentam retratar o que se passa na verdade, baseados em factos e pessoas. No decorrer do meu estudo sobre o crime organizado tive acesso a textos que não só põem em causa esta noção como apresentam argumentos contrários. Sendo este filme o grande exemplo exposto, aquele que levou a um Boss da Campânia a mandar edificar uma casa exactamente igual a de Tony Montana, sendo designada de Hollywood.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Da mudança de imagem

A um mês de celebrar 2 anos, sentiu-se a necessidade de levemente renovar a imagem ao blog do Cineclube FDUP. Assim, alterou-se o cabeçalho, bem como um ou outro pequeno pormenor mais.
Quanto ao novo cabeçalho, este não surgiu apenas da ideia de apresentar algo fresco e cativante, mas também de apresentar algo relacionado com o cinema. Das várias ideias sobre a mesa, entre velhos projectores de cinema a resmas de película de filme, destacou-se uma. Desde menino que me deixei fascinar pelo efeito do excesso de luz sobre a película de filme. Adorava as fotografias que o meu pai deixava queimar, adorava o tom “torrado” dalgumas fotografias que ele tirara com a sua velha Zenit…
Mais tarde, fiquei também fascinado com o final do The Last Temptation of Christ de Martin Scorsese, uma longa cena em que vemos Cristo rendido e crucificado, em que lentamente (e ao que parece, acidentalmente) a película começa a deteriorar-se e a “queimar”, deixando um efeito espectacular, algo surreal.
Assim, foi toda a ideia da fragilidade da película, a beleza do acidente e do imperfeito, que inspiraram esta nova imagem. Se está bem conseguida ou não, isso já é outra história…

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Gael Garcia Bernal

A todas as fans deste actor, apresento o seu novo filme. No Mexico já esta em exibição, com pena minha creio que nunca chegará a Portugal. Temos sempre os meios ilicitos para o arranjar. Senhoras e senhores:



Chocante não ?

Parece ser um filme fantastico ...
eis o trailer:


Perdita Durango ( Dance With The Devil )


Este é no meu entender a obra-prima de Alex de la Iglesia. Violência, uma Femme Fatale, México, Rituais de Santeria, Screamin’ Jay Hawpkins, tudo para passar uma noite agradável junto com um maço de Lucky’s e uma garrafa de Jameson, ou fiel a nacionalidade do realizador, um maço de Celtas e uma litrona de Mahou.
Para os que gostam de ver estrelas de Hollywood em acção, há a promessa de um James Gandolfini em grande!

Roger Corman




Na altura de reis, decidi hoje não falar de um filme, mas precisamente do rei dos “ B’s “. Agora que metade dos que liam, já se foi embora devido ao tema a que me refiro, digo o seu nome, Roger Corman. Apesar de todo o preconceito que rodeia todo este género, sem pretensões snobes que muitas vezes rodeiam que ama o cinema independente ou as aspirações artísticas de um realizador da moda, este é o verdadeiro cinema de massas, feito com baixos custos para ser consumido por quem não tem poder de compra. Quer se queira ou não, apesar dos baixos custos podemos observar dentro do género os mais belos exemplos de cinema de qualidade. Entre eles, quem melhor e mais eficientemente usou os recursos ao seu dispor é Corman. Realizou sempre dentro dos géneros que mais gosto, desde o Horror, até ao crime e a ficção científica. Aluno de Oxford, deixou a faculdade para seguir o sonho de realizar e produzir, aproveitou uma oportunidade em Hollywood, e as suas qualidades de dirigir tornaram-no uma referência. É dos mais influentes realizadores de sempre, sendo ele quem deu oportunidade de brilhar aos mais brilhantes realizadores americanos do pos guerra, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Ron Howard, Peter Bogdanovich, Jonathan Demme, Donald G. Jackson, Joe Dante, James Cameron, entre outros. Foi também ele que levou à ascençao actores como Jack Nicholson, Peter Fonda, , Michael McDonald, Dennis Hopper, Talia Shire, ou Robert De Niro.
Os seus filmes marcaram épocas, como o Wild Angels, que com o Vanishing Point e o Easy Rider, formam as obras que definiram o espírito dos 60’s, a Contracultura.





Dez anos antes, lançou vários filmes de Sci-Fi que hoje são referencia e ícones do género. Não vos falarei certamente do Attack of the crab Monsters como uma grande obra cinematográfica, mas diria que o dilema exposto no Not of This Earth é soberbo, uma visão filosófica sobre a hipotética vida Extra terrestre. Bem sei que parece estranho pensar que pode haver filosofia e E.T’s mas por via das dúvidas vejam o filme para depois eu ter alguém com quem debater.





Muitos querem negar o que Corman representa, e apagar da historia este tipo de cinema, estou aqui para que não seja esquecido, e sugiro ao cineclube abraçar no futuro um filme dele, uma forma de dizer aqueles que nos apontam de elitistas que afinal temos, todos os géneros para todos os gostos.




para mais info: Wikipedia


para ver a sua obra completa: mandar-me um email com o filme que querem ver. Custos: 0.60cent já com iva

Cadillac Records




Antes de mais, um bom ano a todos os meus companheiros do cineclube. Este natal havemos de ter recalcado mais uns quantos filmes temáticos. Pessoalmente sinto-me sempre nostálgico e revejo alguns clássicos. Ricos e Pobres foi o eleito para a consoada. Aparte de festividades, o filme que venho hoje falar chama-se “ Cadillac Records “. Por cá ainda não soube nada de estreias, e não me admiro se nunca ca chegar. Ainda que uma falácia norteie toda a história do filme, deve ser visto. O Blues há muito esquecido por todos, vê aqui um suspiro, uma chama que teima em apagar-se a sua volta. Esta é a história da Chess Records, uma das mais importantes editoras do genero, oriunda de Chicago, lançou Muddy Waters, Chuck Berry, Howlin’ Wolf, Etta James, e inúmeros outros. Mas como Hollywood já tinha feito na historia da Atlantic Records, também aqui um projecto de irmãos foi cortado, ficando apenas o Leonard Chess, admirado com o facto de a historia não corresponder aquilo que sempre li sobre eles, fui investigar e descobri que o produtor é o filho de Leonard. Bem, Hollywood é mesmo assim … O filme tem também uma força muito grande, um retrato de uma América Racista que felizmente é já Historia. A todos os que estejam interessados em conhecer mais sobre o Blues, este é um filme a não perder. Ou se não gostarem do género sempre se podem entreter com as beldades que se vão passeando pelo ecrã. De notar ainda no detalhe que ninguém se lembra, ou pensa, quando criticam os celebres Gangstas, de ver que não é um fenómeno do hip hop, mas sim dos guettos, a violência sempre foi e sempre será uma presença. Ao ver o filme perceberão o porque das minhas palavras.

Três de uma vez

Marie Antoinette - Sofia Coppola

À primeira vista, há várias maneiras rápidas, nada abonatórias e falaciosas de descrever este filme: “Sexo e a Cidade no século XVIII”, um videoclip de duas horas, …mas a verdade é que gostei do filme.
Divertido, bem conseguido, e com uma fotografia bonita acima de tudo. È, também, uma estranha e nada habitual maneira de ver um membro da realeza, especialmente Maria Antonieta.

Children of Men - Alfonso Cuarón

Num futuro muito próximo, o Homem enfrenta adversidades nada impossíveis, mas raramente discutidas. Com cenas de acção totalmente inovadoras (e não falo de efeitos digitais), cativantes cenas muito extensas, e brilhantes actuações, Children of Men é sem duvida uma das mais fortes obras da recente vaga de autores mexicanos.

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - Andrew Dominik

Ao género da obra de Terrence Malick, The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford é um filme muito bonito, em que muitas vezes o enredo passa para segundo (ou terceiro, até) plano. A fotografia, a par com The New World de Malick e Marie Antoinette de Sofia Coppola, é brilhante, conseguida muito à custa do natural.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Rushmore - Sessão de 2/12/2008

Com as minhas desculpas pela publicação atrasada e "fora-de-horas", aqui vai a minha crítica ao "Rushmore" que foi distribuída na sessão, mas que por lapso me esqueci de pôr no Blog.
À laia de "New Year's Resolution" tentaremos passar a publicar as críticas logo a seguir à sessão, para que as pessoas que não possam ter estado presentes vão a correr à DVDteca buscar o filme!


“Rushmore” / “Todos Gostam da Mesma” (1998)

De Wes Anderson; Argumento de Wes Anderson e Owen Wilson;
Com Jason Schwartzman, Bill Murray, Olivia Williams e Seymour Cassel

“Rushmore” conta-nos a história de Max Fischer (Jason Schwartzman), um rapaz de 15 anos que estuda num prestigiado colégio, a Rushmore Academy, e que se recusa a permitir que a realidade limite as suas ambições. Logo no início, deparamo-nos com uma das mais geniais sequências do filme: a contagem dos inúmeros cargos de Max nas suas actividades extra-curriculares, algumas delas verdadeiramente insólitas – recorde-se a Rússia no Model United Nations, a Debate Team, os Rushmore Beekeepers, Caligraphy Club ou a Bombardment Society! Não obstante o seu brilhantismo em todas estas responsabilidades, especialmente na escrita e encenação de peças de teatro, Max é, nas palavras do Director da escola “one of the worst students we’ve got”, e juntando isso à sua irreverência, a ameaça de expulsão da escola paira sempre sobre a sua cabeça.
Tudo se complica quando o jovem conhece a mais recente professora primária do colégio, Miss Cross (Olivia Williams), e, perdidamente apaixonado, conjura com Herman Blume (Bill Murray), um milionário pai de dois colegas seus de quem se torna íntimo, o plano de erguer um aquário em sua homenagem. Max é então expulso da escola e começa uma nova etapa de conquista no liceu local. O mais surpreendente é que estaríamos à espera que ele não se integrasse, dada a sua peculiaridade, num ambiente que é o oposto do elitismo a que estava habituado, mas isso não acontece. De facto, Max continua a encenar as suas peças, e ganha novas admiradoras, como a encantadora Margaret (Sara Tanaka), mas nem por isso desiste de lutar por Miss Cross. Contudo, a trama ganha novos contornos quando Herman se envolve com Rosemary Cross, e os dois entram numa batalha de ataque e contra-ataque, que é absolutamente surreal atendendo à diferença de idades entre Max e Blume, e ao gozo que lhes dá aperfeiçoar as suas partidas – a sorriso de Herman quando se apercebe que a trama das abelhas é obra de Max é paradigmático.
“Rushmore” tem fortes elementos autobiográficos: foi filmado na escola que Anderson frequentou, em cujo auditório também ele encenava as suas peças, na maioria épicos de acção, e tal como Max, também Owen Wilson (co-argumentista) foi expulso do liceu. O filme também toca, embora de modo subtil, a questão do fosso entre classes sociais – percebemos isso quando vemos que Max frequenta Rushmore com uma bolsa de estudo e apresenta o pai como neurocirugião. E Max é, talvez, bem representativo de todos os artistas que usam o seu trabalho para ordenar e controlar o mundo à sua volta. As suas peças são o modo que ele encontra para isso, para aproximar e reintegrar as divisões do seu mundo, as amizades perdidas e inimizades acidentais, numa comunidade equilibrada e una.
Jason Schwartzman oferece-nos uma interpretação memorável, acrescentando um brilhantismo à personagem que o argumento não imaginava conferir, e não é por isso de espantar de Anderson tenha voltado a trabalhar com ele em “Darjeeling Limited”. Os pormenores são deliciosos: o sonho inicial do filme a resolver a equação impossível no quadro com a chávena de chá na mão, a sua boina vermelha e a dança de lugares na conversa com Miss Cross, a incoerência da petição sobre o ensino do latim, a sequência em câmara lenta para receber os aplausos pela peça com sangue no nariz, a cena de ciúmes ao jantar - no fundo, todo o seu comportamento e discurso é de o de uma pessoa de 30 anos, quando não passa de um miúdo de 15. Por isso, a nossa relação com Max vai desde achar que ele precisa de apoio psiquiátrico a começar a entendê-lo, e acabar por sentir um enorme carinho por ele, especialmente quando ele desiste de Rosemary depois da fabulosa cena da simulação do atropelamento e tenta reconquistar a amizade de Herman, ou quando ele desiste da escola e vai trabalhar com o pai, e tem finalmente orgulho em apresentá-lo a toda a gente como barbeiro e seu pai. Genuinamente comovente é a cena em que ele dedica a peça à memória da mãe, e a dança do final.
Quanto a Bill Murray, a sua personagem é a de um triste homem de sucesso, com filhos insuportáveis e de uma solidão patente. Entre as suas cenas mais memoráveis conta-se a da “bomba” para a piscina de cigarro no canto da boca, a cena da cenoura na conversa à porta com Rosemary, a sequência do elevador, entre outras. O seu Herman é verdadeiramente patético, e nisso Bill Murray é mestre, tal como já nos vem habituando, mas ainda assim supera as suas deprimentes e melancólicas personagens em “Lost in Translation” e “Broken Flowers”.
A filmagem, edição e fotografia é irrepreensível, e Anderson tem a grande qualidade de conseguir dar-nos o máximo de informação num mínimo de tempo de ecrã – captamos a essência das personagens com um gesto, um sotaque, adereços e tiques. Na cena final, em jeito de homenagem à reconciliação e à felicidade, a câmara de Anderson filma com movimentos e velocidade varíavel, aí sim, para “esticar” o momento, pintando-o com cores oníricas. No fim daquela dança, é uma sensação de leveza, de empatia e envolvimento que permanece, e no fecho desce o pano sobre esta imensa peça de teatro que é este filme, feito de detalhes, e que nos faz querer ir até Rushmore conhecer tão insuitados actores deste universo paralelo.
Também a banda sonora é de uma beleza enorme, juntando temas interpretados por Cat Stevens, John Lennon, The Kinks, Yves Montand, The Who, Rolling Stones, Donovan Leitch. Pessoalmente, tenho como único aspecto a criticar algo já habitual: a tradução do título do filme, que não se compreende de onde veio, já que são dois a “gostar” da mesma, e não “todos”! Rushmore é o nome da escola e parece-me uma analogia com o Monte Rushmore, uma espécie de Eldorado, o topo dos topos, que é o que Max pretende atingir, e por ser um nome universal não carecia de qualquer tradução.
Esta obra é plena de todos os aspectos que vêm falhando no cinema comercial mais recente: humor a sério, uma escrita lapidar, música que torna uma cena inesquecível, e sentimento. “Rushmore” é um dos melhores exemplos do brilhantismo do mundo de Anderson, cujo génio atingiu a excelência cinematográfica, considero, com o filme “Darjeeling Limited”.

“When one man, for whatever reason, has the opportunity to lead an extraordinary life, he has no right to keep it to himself” - Cousteau

domingo, janeiro 04, 2009

Self improvement is masturbation. Now self destruction...


"If you wake up at a different time in a different place, could you wake up as a different person?"
Não, acredito mesmo que é fisicamente impossível. Mas poderemos acordar como pessoas diferentes no dia seguinte a termos visto o Fight Club? Acredito também que não, mas não me admiraria se sim…
Lembro-me de ter visto o filme em 2002, mas não me lembro de este me ter fascinado e sensibilizado como neste natal. Admito que me é algo estranho dizê-lo, mas esta obra de David Fincher é virtualmente incólume. Tudo está bem nela. Tudo encaixa. Tudo é perfeito, um pouco contra a temática do filme…
Já houve quem me dissesse que nunca vira ou verá o filme porque “não gosta de filmes de porrada”, mas ter o Fight Club como um filme de porrada é uma pré-concepção errada, muito errada. È como achar a Lula e a Baleia um filme de animação, ou achar o Diamante de Sangue um bom filme. Cenas de combate, o filme tem apenas meia dúzia, que ao todo tomarão uns 8 minutos à película. Alias, esta errónea pré-concepção trouxe dissabores ao realizador, que, diz-se, ficou furioso quando viu publicidade ao filme ser especialmente feita no intervalo de combates, nos Estados Unidos.
Todo o filme é subversivo, temática e esteticamente falando. Não falo da subversividade de um filme sobre skaters adolescentes que fumam estupefacientes ao som de Korn ou Bob Marley. É algo diferente. No filme, combates de rua, entre amigos e desconhecidos, surgem como a mais eficaz forma de libertação. Libertação do dia-a-dia, da responsabilidade, do mobiliário Sueco, da arte incompreensível, da perfeição…
Das personagens, três há a focar. Tyler Durden, o Messias, o visionário, o sonho. Á sua volta orbitam Marla Singer, psicótica filha dos dias que correm, e principalmente o mirabolante insone Narrador, sem nome aparentemente. Das personagens nada mais direi. Seria como tirar o gás a uma Coca-Cola antes de a oferecer.
Tyler durden aparece-nos como um Messias, trazendo a salvação para uma vasta geração perdida no tempo e na sociedade. “We're the middle children of history. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our Great War's a spiritual war... our Great Depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars. But we won't. And we're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off.”
Auto-destruição como modo de regeneração, libertação de toda e qualquer pré-concepção moral como modo de…de…de libertação de toda e qualquer pré-concepção moral, sabão como modo de purificação social, são estes alguns dos princípios defendidos por Tyler, princípios a que muitos rapidamente sucumbem. Mas mais dizer não quero. Seria como oferecer-vos este filme com o DVD riscado e maltratado: uma falsa sensação de satisfação...
Como atrás disse, toda a estética do filme vai contra os habituais critérios. A fotografia é propositadamente granulada, imperfeita, algo de acordo com a temática do filme. Ao longo do filme o espectador é brindado com repentinas e fugazes aparecimentos de elementos estranhos ao cenário, nem sempre agradáveis. A banda sonora, a cargo da dupla Dust Brothers, completa na perfeição a dualidade e irreverência da película.
Por fim, as interpretações. Perfeitas, todas elas perfeitas, com especial destaque para Edward Norton, o Narrador, e Brad Pitt, no papel de Tyler Durden. Este ultimo especialmente, julgo-o no papel da sua vida (até ao momento). A caracterização de Tyler está perfeita. Tyler é tudo que o Narrador quer ser. Tyler é tudo que queremos ser. “All the ways you wish you could be, that's me. I look like you wanna look, I fuck like you wanna fuck, I am smart, capable, and most importantly, I am free in all the ways that you are not.” Brilhante.
Não, não acredito que tenha acordado uma pessoa diferente no dia a seguir a ter visto o Fight Club, mas aprendi muito.
Como fazer sabão por exemplo…