terça-feira, dezembro 09, 2014

9 Dez.: OS AMANTES CRUCIFICADOS, de Kenji Mizoguchi


Esta terça-feira, 9 de dezembro, o Cineclube FDUP encerra a sua programação regular para o primeiro semestre do ano lectivo 2014/2015 com OS AMANTES CRUCIFICADOS (Chikamatsu Monogatari, Japão, 1954), de Kenji Mizoguchi.

A sessão terá início pelas 18h15, e a entrada, como de costume, é gratuita.




«Durante a fuga, há uma extraordinária cena de amor num lago. Mizoguchi, a propósito dela, pegou-se com o argumentista, o grande Yoda Yoshikata que lhe escreveu quase todos os filmes. Acusava a cena de não ter intensidade dramática. Quando Yoda, desiludíssimo, pois, na opinião dele, jamais fizera melhor trabalho, lhe perguntou o que queria dizer com isso, Mizoguchi respondeu: “Olha, vê, por exemplo a cena em que os amantes fazem amor no barco, depois de terem decidido suicidar-se. É idiota e ridícula. Se querem matar-se, é inimaginável que pensem em fazer amor. Metem-se no barco pensando apenas na morte. Tanto basta para mostrar o estado de alma deles naquela altura. Chegam ao meio do lago. E, subitamente, deixam de querer morrer. Não porque tenham medo da morte. Mas porque, ao contrário dos melodramas em que breves momentos roubados à morte são os mais doces da vida, o valor da existência dos momentos futuros - por poucos e breves que venham a ser - extinguiu a tentação da morte, constituiu a única e verdadeira abertura. Não podemos morrer assim, é isso que os amantes devem pensar. É isso que é verdadeiramente trágico.”»

- João Bénard da Costa sobre OS AMANTES CRUCIFICADOS (texto na íntegra em http://www.focorevistadecinema.com.br/FOCO1/benard-amantes.htm)

terça-feira, novembro 25, 2014

25 de novembro: O MEU CASO (1986)

Por razões externas à nossa vontade, a exibição da obra BRANDOS COSTUMES, de Alberto Seixas Santos, revelou-se impossível.

No seu lugar, o Cineclube FDUP exibirá esta terça-feira, dia 25 de novembro, a obra O MEU CASO, de Manoel de Oliveira, várias estórias, dentro de uma peça, dentro de um filme. A sessão terá início pelas 18h15, realizando-se na sala 0.01 da FDUP. A entrada, como de costume, é livre.


segunda-feira, outubro 27, 2014

28 de outubro: DILLINGER MORREU (1969)


O Cineclube FDUP apresenta, esta terça-feira, dia 28 de outubro, DILLINGER MORREU, obra importante na filmografia do italiano Marco Ferreri. O surrealismo subversivo de Ferreri encontra expressão no Glauco de Michel Piccoli, um designer industrial que chega a casa para encontrar a mulher na cama e um jantar frio.
 
A sessão tem início pelas 18h15 e é, como de costume, gratuita.

segunda-feira, outubro 13, 2014

Programação Cineclube FDUP 1º semestre 2014/2015



O Cineclube FDUP está de regresso com a sua programação regular semestral. A abrir, e já na próxima Terça-feira, dia 14 de Outubro, pelas 18h15, O APICULTOR (O Melissokomos, 1986), de Theodoros Angelopoulos, filme pertencente à Trilogia do Silêncio, a segunda do realizador grego, onde, como é transversal a toda a sua filmografia, nos deparamos com as fronteiras e limites no Homem, reveladas num permanente movimento de procura e trazidas em longos e silenciosos planos. Spyros, Marcello Mastroianni, professor retirado, deixa a sua família para trás, para embarcar numa viagem pela Grécia, vivendo da criação de colmeias. Estou constantemente a perder as minhas colmeias, será talvez a frase com que melhor se define. 


14 Out.: O APICULTOR (O Melissokomos, 1986), Theodoros Angelopoulos. 

28 Out.: DILLINGER MORREU (Dillinger è morto, 1969), Marco Ferreri.

11 Nov.: DEIXA AS LUZES ACESAS (Keep The Lights On, 2012), Ira Sachs.

25 Nov.: BRANDOS COSTUMES (1975), Alberto Seixas Santos.

9 Dez.: OS AMANTES CRUCIFICADOS (Chikamatsu monogatari, 1954), Kenji Mizoguchi. 


A entrada é gratuita, na sala 0.01 da FDUP, pelas 18h15. Contamos com a tua presença! 

domingo, setembro 28, 2014

30 de setembro: VON HEUTE AUF MORGEN (1997) + ONDE JAZ O TEU SORRISO? (2001)


Terça-feira, dia 30 de Setembro, o Cineclube FDUP retoma a sua actividade, após a habitual pausa durante o Verão, com uma sessão especial dupla.

Começaremos com Von heute auf morgen (1997), da dupla Straub-Huillet, obra adaptada de uma ópera de Arnold Schönberg.

Segue-se Onde Jaz o teu Sorriso? (2001), de Pedro Costa, filme-homenagem ao casal Straub-Huillet e, quase em simultâneo, verdadeira lição de Cinema.

Será uma tarde preenchida na sala 1.01 da FDUP, com a sessão a ter início pelas 18h15, contando com uma breve pausa entre os filmes. A entrada, como de costume, é gratuita.

Contamos com a vossa presença!

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«"Onde Jaz o Teu Sorriso?" acompanha a montagem de uma terceira versão de "Sicília!". Este é, portanto, um filme sobre esse trabalho longo, doloroso, decisivo, de combate frente a "uma matéria que resiste", como dirá Straub. "Quando o Jean-Marie me disse que iam para uma escola no Norte de França montar uma terceira versão do 'Sicília!", pensei que, se calhar, era isso que eu queria filmar, a montagem", lembra Pedro Costa. "Ele disse logo: 'A montagem não se filma, não consegues'. Respondi-lhe: 'Mas posso tentar.' Ele ainda insistiu: 'Mas olha que aquilo é trabalho, como é que vais filmar?' Tentei explicar-lhe que queria filmar o cinema pelo trabalho longo, de forma a que na duração do meu próprio filme estivesse a duração do que é a montagem. E, aí, ele disse: 'Mas, atenção, porque não descobrirás segredo artístico nenhum, isso não existe.'"»

O resto do texto de Kathleen Gomes sobre Onde Jaz o teu Sorriso?, ali.

terça-feira, maio 20, 2014

indielisboa'14


OBSERVATÓRIO

Abus de Faiblesse (2013), de Catherine Breillat.


C'était moi, c'était pas moi. Maud é e não é Catherine Breillat. Isabelle Huppert, no papel de Maud, é e não é Catherine Breillat. Em Abus de Faiblesse (2013) Maud, realizadora, acorda com metade do corpo paralisado. Os primeiros momentos: uma absoluta incompreensão do seu corpo, imobilizado; um esforço agonizante para se movimentar. Ali o branco é nada menos do que aflitivo. Durante o processo de recuperação daquela parte do seu corpo que parecia estar perdida, subjugada à solidão e limitação que a doença acarreta e sem abandonar o projecto que começara antes do AVC, depara-se com Vilko, o rapper Kool Shen, um burlão agora num programa de televisão a exibir os seus feitos, leia-se, roubos. Tinha de o ter. Para o seu filme, quiçá em acto de compreensão, de salvamento, mas, ainda que não, certamente que com uma fascinada necessidade de posse. Possivelmente, uma identificação na atracção pelo perigo. Maud sabia-o e, ainda assim, procurava. C'était moi, c'était pas moi. A experiência da realizadora, não a personagem, mas Breillat ela mesma, não se distancia em nada do que aqui se descreveu, não com o ficcional Vilko, mas com o já condenado burlão de Hollywood, Christophe Racancourt. Por quem Breillat se deixou fascinar e foi ela mesma burlada, perdendo fortuna, casa, dignidade, enterrando-se, em jeito fúnebre, numa cama. Ela mesma terá assinado todos os cheques, a ver o que se sucederia e, ainda assim, fazendo-o. Tal como Maud, no filme. Em 2007 a realizadora terá publicado a história no livro Abus de Faiblesse, crime pelo qual Racancourt terá sido novamente condenado. E agora o filme, naquilo que parece ser uma derradeira tentativa de conciliação e distanciamento daquilo que lhe aconteceu, um ponto final, como se na perspectiva de alguém já exterior à história, só explicável naquela frase final de Maud, perante a família que não consegue perceber como se perde para as mãos de um já condenado burlão tamanha fortuna, e após a tragédia, C'était moi, C'était pas moi. 


Al Doilea Joc (The Second Game, 2014), de Corneliu Porumboiu.

















Corneliu Porumboiu, realizador da nova vaga romena e vencedor da Câmera de Ouro em Cannes com 12:08: East of Bucharest, aponta agora a câmara, num único plano fixo, para um ecrã de televisão. A emissão terá a duração de 90 minutos, o tempo exacto de um jogo de futebol. No caso, não um jogo qualquer, mas um jogo entre Steaua e Dinamo, em 1988, arbitrado por Adrian Porumboiu, pai do realizador. Como banda sonora, eles mesmos, pai e filho, Adrian e Corneliu Porumboiu que comentam o jogo, a própria arbitragem e, ainda, a Roménia no ano que seria o último antes da queda de Ceausescu. Em termos plásticos, o resultado será o de uma imagem captada por três câmaras de televisão, em 1988, de um campo de futebol revestido de branco, pela neve que cai incessantemente, onde os jogadores vão deixando as suas marcas de corrida e estratégias de ataque. Num jogo que não deveria ter acontecido - assim o queria Ceausescu, pelo Steaua, e assim o queria a polícia política, pelo Dinamo -, mas que aconteceu graças à persistência de Adrian, apesar das ameaças de morte e da neve. Naquilo que poderia ser somente um jogo de futebol, mas que aqui se transforma numa declaração sobre uma Roménia que não mais existe, impressa a branco, em tom absolutamente desdramatizado, como se quer. Quem quer ver um filme sobre um jogo velho? Pergunta o pai ao filho, avisando-o, à partida, de que o filme não terá, certamente, qualquer audiência. E, enquanto isso, os jogadores esforçam-se em campo para alcançar a baliza do adversário por entre a neve. Excepto quando se adivinham problemas entre eles, já que a violência não era permitida na televisão, pelo menos aí, quando a terceira câmara gira subitamente, focando-se na bancada, onde uma multidão de guarda-chuvas assistia ao jogo, debaixo de neve, naquele que será talvez o mais sublime plano do filme, plano este que não o chega bem a ser. 



CINEMA EMERGENTE

Costa da Morte  (Coast of Death, 2013), de Lois Patiño.

















A Costa da Morte assim o é porque será a costa onde vão dar os corpos desaparecidos que o mar traz - Como quando apareceram aqui os corpos desaparecidos na queda da ponte em Portugal, relembra uma mulher de quem percebemos a silhueta a banhar-se na imensidão do mar, agora límpido e calmo, mas usualmente turbulento e impenetrável. Situada na região da Galiza, seria, a Costa da Morte, o fim do mundo durante o Império Romano. E, como não poderia deixar de acompanhar aquilo que é o imaginário do fim do mundo, uma terra repleta de lendas e mitos, que vivem, ainda hoje, com quem ali vive também. A morte nunca se afasta do imaginário daqueles habitantes, que convivem, numa estreita e íntima relação, com um oceano trágico. Patiño, que recebeu com A Costa da Morte o prémio de melhor realizador emergente em Locarno 13', constrói o documentário a partir de uma visão etnográfica da região e seus habitantes, acostumados, porque enraizados nela, a uma paisagem drástica de naufrágios e infortúnios. Os personagens: pescadores, marisqueiros na apanha do percebes, agricultores.
A abordagem de Patiño torna-se sublime, porém, a partir do momento em que assume uma lente paisagística deste fim do mundo. Nunca o fim do mundo pareceu tão apelativo, tão belo. Em longos e estáticos planos da paisagem, do mar e da terra e do misticismo que os rodeiam, o uso do ecrã é absurdamente capaz e total. No plano geral, onde se costuma ver somente horizonte, vê-se aqui movimento, como quando em primeiro plano surge o mar, em segundo um camião, que trabalha e divide, e em terceiro a costa, com os banhistas em jeito de pontos. E é delicioso, este trabalho plástico, onde a imagem vale tudo e o que se ouve são longínquos relatos dessincronizados de pessoas que vão aparecendo, aqui e ali, sempre em ponto minúsculo, como na verdade o são, perante a imensidão natural que os (nos) rodeia. A lenda mistura-se com a história, e ambas se misturam com a paisagem e o nevoeiro, em gesto místico, naquilo que parece por momentos deixar de ser um documentário para passar a viver no campo da poesia.



INDIEMUSIC

Alan Vega: Just a Million Dreams (2013), de Marie Losier.

















Alan Vega, artista visual, escultor e, fundamentalmente, músico precursor do rock electrónico minimalista, ficará na história da música associado ao duo punk (a ele acresce o também delirante Martin Rev) mais emblemático da cena dos anos 70, os Suicide. Neste documentário de Losier, cineasta e programadora de cinema, mas, mais do que isso, amiga do músico e compositor dos sintetizadores, vemos um Alan que é o Alan que vive no imaginário de todos e quaisquer fãs de Suicide, um alucínio, mas que é também um Alan dedicado à sua família, Liz, mulher e colaboradora e Dante, o filho. Alan envelheceu, mas fê-lo da forma como desenhou toda a sua vida, na excentricidade. 

segunda-feira, maio 12, 2014

13 de Maio: Berberian Sound Studio


Amanhã, dia 13 de Maio, o Cineclube FDUP estreia-se no Cinema de Terror com Berberian Sound Studio (2012), de Peter Strickland. O filme será exibido pelas 18h15, na sala 0.01 da FDUP (Faculdade de Direito da UP).

"Berberian Sound Studio has something of early Lynch and Polanski, and the nasty, secretive studio is a little like the tortured Mark Lewis's screening room in Powell's Peeping Tom, but that gives no real idea of how boldly individual this film is. In fact, it takes more inspiration from the world of electronic and synth creations and the heyday of the BBC Radiophonic Workshop, and it is close in spirit to Kafka's The Castle or to the Gothic literary tradition of Bram Stoker and Ann Radcliffe: a world of English innocents abroad in a sensual, mysterious landscape."

A crítica de Peter Bradshaw pode ser lida na íntegra aqui.

quarta-feira, maio 07, 2014

indielisboa '14: "Double Play: James Benning and Richard Linklater"

Gabe Klinger, crítico de cinema, transporta-se para o outro lado e apresenta-nos um documentário qual retrato de dois cineastas norte-americanos de obras e percursos que em pouco,  em mesmo muito pouco convergem. James Benning e Richard Linklater surgem perante a câmara e aos olhos de Klinger em conversa sobre as suas incongéneres perspectivas sobre o cinema e, bem assim, sobre a vida. No fundo, diferentes estilos de cinema, diferentes estilos de vida, ou vice-versa. Um único (e forte!) elemento os une: o basebol.
 
Construído a partir de conversas filmadas entre ambos os realizadores num único fim-de-semana no Texas e imagens de arquivo que se propõe a explorar e examinar o cinema de ambos e de cada um, revisita-se em Double Play o cinema destes dois homens; os lugares, em acto de saudosismo salubérrimo, onde outrora decorreram as acções dos seus filmes como fundo de uma conversa entre dois amigos que, queríamos nós, não conhecesse um fim tão imediato, pelo menos aos nossos olhos, os dos espectadores.
 
Falamos aqui de Linklater, realizador da trilogia BEFORE, dono de uma mansão - onde pode praticar as tacadas de basebol que quiser -, com uma vida desafogada, em contraponto com James Benning, realizador de cinema independente e muitas vezes experimental, que vive numa pequena casa isolada no bosque, e para quem a paisagem no cinema cumpre uma função muito própria: a do tempo. E será este elemento, o tempo, que se afirmará como algo de comum entre o cinema dos dois cineastas, ainda que abordado, como não poderia deixar de ser, de formas diversas por cada um, em cada um. Para Benning a abordagem ao tempo afirma-se através de longos planos, planos infinitos (veja-se o close-up da água da torrente numa sequência sem fim no remake de Benning do Easy Rider) em cada filme, aquilo que Klinger denomina de duração na tela. Se assim o é para Benning, não o será tanto para Linklater, onde o tempo surge entre filmes, nos personagens que se repetem, mas que mudam, crescem, envelhecem, vivem e assumem diferentes perspectivas sobre a própria vida de filme para filme. Esta dupla relação com o tempo inspiraria Klinger para afirmar que o cinema pode fazer o tempo ser explícito ou invisível ou ambíguo; nas nossas vidas, contudo, o tempo move-se apenas num sentido e, bem assim, filmar um documentário que, nas suas palavras, se dedica à compreensão das marcas do tempo, da duração, não apenas nas (suas respectivas) obras cinematográficas, mas também na sua amizade e nas suas vidas.
 
Para Klinger, a distinção entre ambos os realizadores antitéticos existe, claro está, e existe até para ser filmada, mas não queiramos ir mais longe do que isto, não esperemos encontrar aqui uma análise ou tão-pouco um questionar sobre qual o cinema que vale mais, qual o melhor, qual o mais importante. No óptica de Klinger, tudo é cinema, inclusive a própria vida. Encontramos, contudo, uma clara reflexão sobre o cinema em si, vinda das mãos daquele que passou de crítico a realizador. Uma antítese? Uma transformação? Uma mudança de rumo na sua carreira? Não, antes uma continuação e extensão do seu papel de crítico, que insiste, agora através da lente, a pensar o cinema. Considera-se, afinal, um filho da nova vaga francesa, onde o cinema deixou de ser puro no sentido de deixar de ser apenas cinema, para passar a ser necessariamente uma reflexão sobre o cinema no próprio cinema, ideia que Double Play não permite desmentir e, acrescenta-se, fá-lo de forma exímia.
 
Double Play: James Benning and Richard Linklater, 2013, de Gabe Klinger.

indielisboa' 14: Refúgio e Evasão

Na secção Director's Cut Luís Alves de Matos apresentou o documentário Refúgio e Evasão (2014), título que nos remonta para Alberto Seixas Santos, enquanto jovem, bem como para os factores determinantes que o conduziam até à sala de cinema. A sala era, para ele, refúgio, um sítio onde me podia acolher, e evasão, que ao mesmo tempo podia abrir horizontes, abrir espaços, espaços que existiam em volume numa tela sem volume. Seria esse o fascínio.

Num documentário que se debruça sobre a vida e obra, mas, mais do isso, sobre a percepção do cinema - do que é, do que já não mais é, do que, ainda assim, foi - de Alberto Seixas Santos, Luís Alves de Matos traz-nos um homem para quem o cinema representa já memória. Através da montagem de monólogos de Seixas Santos face a face com o espectador (câmara) , em cenário negro, e de imagens dos seus filmes- os que conhecem a sua assinatura , Brandos Costumes (1975) e Gestos e Fragmentos (1983) e aqueles que marcaram a sua vida - vemos o realizador e crítico, intimamente ligado ao movimento do Cinema Novo conhecido em Portugal a partir da década de 60, desconstruir o cinema, num ataque frontal a tudo quanto hoje se faz. Já não vai ao cinema porque já não lhe interessa, não o cinema, mas o cinema de hoje e, quando cai na tentação de ver um filme ao qual os nossos críticos atribuem várias estrelas, apercebe-se de que foi um erro. Aqui, aponta um grande culpado: o audiovisual. De resto, para tal Bresson já havia alertado. Quando questionado sobre se pessimista ou optimista em relação ao futuro do cinema, terá respondido 'Pesssista. Por causa da palavra audiovisual'.

O que resta? Relembrar, em acto de desistência e saudade, todos os que marcaram. Rosselini, Dreyer, Lang, Renoir, Bresson, Straub vivem ali. Todos os que marcaram Seixas Santos, todos os que marcaram o cinema. E só assim o é por um motivo: o risco. Só as obras que correm riscos ficam, tudo o resto perece. Renoir construiu, Bresson desconstruiu, todos correram sérios riscos e assumiram-nos até ao fim. Poder-se-ia dizer que Seixas Santos corre o risco ao anunciar em tom grave o fim de um período onde efectivamente se criou, o que não será mais do que anunciar o fim do cinema assim como ele o conheceu, assim como o considera. Pelo seu tom assertivo, contudo, o risco na afirmação não aparenta ser grave.


quinta-feira, abril 24, 2014

Realizadores Independentes, Decisões Independentes



Começa hoje o IndieLisboa 2014. O Cineclube FDUP andará por lá. Para todas as informações, o site oficial do festival.

segunda-feira, abril 21, 2014

22 de Abril: À FLOR DO MAR (1986), de João César Monteiro



Amanhã, dia 22 de Abril, o Cineclube FDUP regressa ao cinema português com À Flor do Mar (1986), de João César Monteiro. O filme será exibido pelas 18h15, na sala 0.01 da FDUP (Faculdade de Direito da UP).
 
 
"À Flor do Mar perpassa a luz da perfeição e da “absoluta consonância” que seria a luz de Piero, como perpassam, os vários Roberts ou Robertos onde não podemos voltar (Jordan, Rossellini ou Browning), mas tudo isso ou todos esses são ideias sem materialização possível. A luz de Piero está para este filme como a música de Bach que nele se ouve. É um apelo, não é uma descrição. Os humanos são demasiado indiscretos para elas. E a consonância parece só existir nas naturezas mortas (donde, a importância delas e do tema da comida neste filme) ou então (outra sequência capital) noutro décor, quando Laura está na boite, entre encarnados."
 
 
O texto é de João Bénard da Costa e pode ser lido aqui.

domingo, abril 06, 2014

8 de Abril: A PRINCESA MONONOKE, de Miyazaki



Esta terça-feira, dia 8 de Abril, o Cineclube FDUP regressa ao registo do cinema de animação com o filme A Princesa Mononoke (Mononoke-hime), 1997, de Hayao Miyazaki, Japão. A exibição do filme decorrerá, como todas as sessões regulares, na sala 0.01 da FDUP, pelas 18h15.
 
 
"I go to the movies for many reasons. Here is one of them. I want to see wondrous sights not available in the real world, in stories where myth and dreams are set free to play. Animation opens that possibility, because it is freed from gravity and the chains of the possible. Realistic films show the physical world; animation shows its essence.
(...)
The drama is underlaid with Miyazaki's deep humanism, which avoids easy moral simplifications. There is a remarkable scene where San and Ashitaka, who have fallen in love, agree that neither can really lead the life of the other, and so they must grant each other freedom, and only meet occasionally. You won't find many Hollywood love stories (animated or otherwise) so philosophical. "Princess Mononoke" is a great achievement and a wonderful experience, and one of the best films of the year."
 
A crítica, de Roger Ebert, ali.


terça-feira, abril 01, 2014

Em Abril, no Passos Manuel

 
 
A milímetro regressa, em Abril, ao Passos Manuel, com Todas as Famílias. Para mais info., aqui.



domingo, março 23, 2014

25 de Março: THE BIG SLEEP (1946), de Howard Hawks

 
 
Terça-feira, dia 25 de Março, o Cineclube FDUP apresenta THE BIG SLEEP (À BEIRA DO ABISMO), 1946, de Howard Hawks. A sessão decorrerá na sala 0.01, pelas 18h15, na FDUP, com entrada gratuita, como sempre.
 
Contamos com a tua presença!
 
 
Bogart is Philip Marlowe, a private detective called in by an ageing sensualist when his pretty, tearaway daughter is being blackmailed. Yet Marlowe is enamoured of her sister: a cool customer played, of course, by Lauren Bacall. The movie's disturbing labyrinthine story of murder and betrayal now looks like a fable by David Lynch: and the witty, charged dialogue between the leads shows that no screen couple, before or since, had as much chemistry as Bogart and Bacall.

O texto completo, aqui.

terça-feira, março 11, 2014

Cancelamento da Sessão

Por motivos legais a Midas Filmes, distribuidora do filme O Espírito da Colmeia em Portugal, não permite ao Cineclube FDUP a sua exibição, ainda que no âmbito do cineclubismo universitário (não comercial, com função meramente educativa, destinado ao público jovem universitário). Assim sendo, vimo-nos forçados a cancelar a sessão. Pedimos também desculpa pelo cancelamento tardio, mas também só agora nos terá sido transmitida esta informação.

segunda-feira, março 10, 2014

Novo Colaborador Precisa-se

 


És estudante da FDUP? Interessas-te por Cinema e gostarias de saber mais? Estás interessado em integrar o Cineclube FDUP?
 
Se estás interessado, aparece na próxima sessão do Cineclube, dia 11 de Março, pelas 18h15, na sala 0.01, ou envia-nos email para cineclubefdup@gmail.com
 

11 de Março: O ESPÍRITO DA COLMEIA (1973), de Víctor Erice


É já amanhã (Terça-feira, 11 de Março), o regresso do Cineclube FDUP, com o filme O Espírito da Colmeia (1973), de Víctor Erice. A sessão tem início às 18h15, na sala 0.01, na FDUP. A entrada é gratuita.




Autor fundamental do cinema contemporâneo, (...) o espanhol Víctor Erice é um extraordinário e raro cineasta. O seu trabalho, iniciado nos anos sessenta, composto por três longas-metragens realizadas entre 1973 e 1992 (O ESPÍRITO DA COLMEIA, O SUL, O SOL DO MARMELEIRO), e nesse sentido esparso, tem a marca de um extremo rigor, a centralidade do tempo, a primazia da luz, a noção da materialidade do próprio processo cinematográfico. (...)
A primeira longa-metragem de Víctor Erice é um dos melhores filmes espanhóis de sempre, construído à volta do mito de Frankenstein, recriado no espírito de uma criança depois de ver o filme de James Whale num cinema ambulante. O ESPÍRITO DA COLMEIA desenvolve- -se na atmosfera deprimente e opressiva da província espanhola nos anos que se seguiram ao fim da Guerra Civil e ao mesmo tempo num clima algo irreal.
 
Texto retirado da Cinemateca, ali.

sábado, março 08, 2014

Programação Cineclube FDUP 2º semestre 2013/2014

 

O Cineclube FDUP regressa este semestre com uma programação fértil e diversificada que, como não poderia deixar de ser, não fosse esse o seu mote original, tem como principal preocupação a sensibilização para as diferentes estéticas e filmografias da história do cinema, viajando por diversas épocas, correntes e geografias.  Ao público caberá pois assistir e, acreditamos, partir daqui para outros mundos, desenvolvendo os seus próprios interesses, opiniões e gostos.
 
Em jeito de novidade que, embora não sejam estreia no Cineclube FDUP, não são, ainda assim, um habitué, para este semestre, o Cineclube FDUP aposta na animação com Miyazaki e no cinema português, com João César Monteiro. Formato novíssimo (e para os mais corajosos) será mesmo o horror, pela mão de Peter Strickland.

As sessões manter-se-ão quinzenais e às terças-feiras, na sala 0.01, pelas 18:15h. A entrada permanece gratuita e universal.

Contamos com a tua presença!


CARTAZ:
 
11 de Março
O Espírito da Colmeia (1973), de Víctor Erice, Espanha

25 de Março
À Beira do Abismo (1946), de Howard Hawks, E.U.A.


8 de Abril
A Princesa Mononoke (1997), de Hayao Miyazaki, Japão


22 de Abril
À Flor do Mar (1986), de João César Monteiro, Portugal


13 de Maio
Berberian Sound Studio (2012) de Peter Strickland, Reino Unido

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Mónica e o Desejo

 
 
Bergman, por Irving Penn.
 
 
Começa hoje a contagem decrescente para o Ciclo Ingmar Bergman no Teatro Campo Alegre. Entre 20 de Fevereiro e 2 de Abril serão ali exibidos 17 filmes do realizador, vários deles na sua versão restaurada. A abrir encontramos Mónica e o Desejo (1953), filme a partir  do qual Harriet Andersson se vem a tornar um símbolo (e um dos belos!) do cinema e que se nos surge a abrir o ciclo por ser, também ele, a obra que mais marcaria o princípio do cinema de Bergman. Tudo isto, bem como o todos os detalhes relativos à programação do ciclo, ali.
 
 
 
Mónica e o Desejo (1953), de Ingmar Bergman.