quarta-feira, maio 30, 2012

Esta 6ª f.: LUBITSCH, no Passos Manuel




Esta 6ª f., 1 Junho, às 22h, no cinema Passos Manuel. Cortesia da Milímetro.

segunda-feira, maio 07, 2012

VII Ciclo: "A Justiça no Cinema", no TCA



Associação Jurídica do Porto, em parceria com a Associação Sindical dos Juízes Portugueses - Direcção Sindical Norte e o Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, realizará o VII ciclo de cinema jurídico "A Justiça no Cinema", no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Indie Lisboa 2012 : A Casa, de Júlio Alves


Apesar da longa carreira (leia-se difícil sobrevivência) no cinema, A Casa é apenas a primeira longa metragem de Júlio Alves, pontuada por várias curtas de relativo sucesso.

 A Casa, filme a que lhe assenta bem a frieza linguística do título, bem mais impessoal que a tradução inglesa “The Home”.  E é exactamente essa frieza da abstracção do que significa uma casa, que antes de ser uma home é um mero edifício, um conjunto desconjuntado de materiais (sendo que o realizador faz questão de abusar desta subtileza, que só o é nos primeiros planos).

 Antes da concretização do desenho, do sonho de outrem, outros sonhos moram lá. Sonhos esses alimentados pela criação de raízes alheias, que é do dinheiro que a matéria destes se torna concreta. António, Zé Maria e João, são os trabalhadores que habitam a casa e a acompanham na sua fase embrionária de vida, a forma-la antes de ela ter personalidade.

Vários destinos são ali cimentados, sendo daí que o filme extrai a sua força e sentido, da dicotomia existente entre o fim do processo de construção representar um novo local de habitação para x pessoa, instituição sem rosto, e ao mesmo tempo significar o fim de um capítulo de vida para os trabalhadores que acompanhamos.

Filme que cumpre aquilo a que se propõe - esse clássico eufemismo para filme pouco ambicioso- apesar de sustentado por ambições. Ambição de uma vida melhor, de uma vida diferente, de trabalhadores emigrantes, que apenas procuram a matéria prima para construir uma casa que possam chamar sua.

IndieLisboa 2012: "De Jueves a Domingo", de Dominga Sotomayor


"De Jueves a Domingo", a primeira longa-metragem da chilena Dominga Sotomayor, estreada em competição e premiada no Festival Internacional de Roterdão, venceu nesta edição do IndieLisboa o Grande Prémio de Longa Metragem “Cidade de Lisboa”.

Esta é uma obra que não se identifica com um só género cinematográfico. Começa por sugerir um road movie, quando uma família inicia uma viagem longa de automóvel, para o norte do Chile, em busca de um terreno que ninguém sabe exactamente onde é. (Um pormenor que nos faz recordar o filme de Wim Wenders, em que Travis vive obcecado com a propriedade que comprara no meio do deserto, em Paris, Texas.) 

A certa altura, porém, apercebemo-nos de que não é uma simples viagem de férias. Através do olhar de Lucía, a filha mais velha, observamos a ruptura iminente do casal, ainda que subtil. Os silêncios prolongados e desconfortáveis acabam por ser o mais forte sinal da falta de entendimento entre os pais que - descobrimos mais tarde - já se haviam "separado" ainda antes da partida. É esta saliente componente dramática - ainda que partilhe um pouco da apatia e desprendimento associados ao road movie, que faz com que "De Jueves a Domingo" se trate de um híbrido de géneros. 

Ainda assim, o divórcio parental acaba por perder importância face ao aspecto mais forte do filme, que é o seu registo familiar, o do retrato fiel da infância. Percebe-se que entre o banco da frente e o de trás há uma forte barreira, ainda que invisível, que divide dois mundos muito distintos. 

A descrição desse mundo à parte, das crianças, é tão fidedigna que nos faz recordar a nossa própria infância de uma forma pouco habitual, transcendendo a mera referência. Os banhos de rio, as primeiras lições de condução, a vista da janela traseira do carro com a marca gravada no canto inferior do vidro, as birras intermináveis e a cedência dos pais (às vezes não), as mais insólitas posições no banco do carro numa viagem longa, a rivalidade entre irmãos (o nível do sumo no copo, que deve ser milimetricamente igual), os sons da consola de jogos, tudo é ternurento e nostálgico, sem cair nos exageros cor-de-rosa, evitando a felicidade perfeita e cristalizada que, mesmo nessa idade, não existe.

É neste contexto que a estrutura familiar clássica - pai, mãe, filho e filha, se desconstrói, à medida que as memórias se desvanecem e Lucía cresce, no tempo de um filme.

quarta-feira, maio 02, 2012

IndieLisboa 2012: Competição Internacional Curtas 6



Le facteur humain ("O Factor Humano")
Thibault Le Texier, França, 2011, 28’

Para ilustrar os métodos de administração científica popularizados por Frederick Taylor (o conhecido "Taylorismo"), Thibault Le Texier seleccionou inúmeras imagens de filmes institucionais americanos realizados a partir da década de '70, disponíveis em arquivos para livre utilização, bem como alguns textos de manuais de gestão do início do séc. XX.

Este trabalho de edição não é, porém, um puro documentário, na medida em que recorre a instrumentos ficcionais, através da narração de um conjunto de cartas escritas pelo autor. Ouvimos uma conversa conjugal, entre o marido engenheiro que se deslocou para uma fábrica para aplicar os princípios Tayloristas e a mulher que se entusiasma com estas ideias e acaba por também as adoptar nas lides domésticas.

Apesar de reconhecermos nesta obra um esforço sério de pesquisa e reconstrução histórica, sentimos que teria como fim mais útil a sua inserção num qualquer programa escolar de História, aliando aspectos lúdicos e pedagógicos.








Mupepy Munatim

Pedro Peralta, fic., Portugal, 2012, 18’

"Mupepy Munatim" é o projecto final de Mestrado em Estudos Fílmicos de Pedro Peralta, estudante da Universidade Lusófona, e segue o percurso de um homem que, tendo partido para França, regressa a Portugal para procurar a campa da sua mãe. 

Desde o bairro do Zambujal, passando pela Igreja de Odivelas, até ao prado onde mãe e filho se reencontram, sob uma árvore frondosa, os planos são poucos e longos, mas não especialmente belos ou contemplativos. Não que haja muito a dizer, mas acaba por não haver também muito sentimento nesta procura, neste caminho de lembrança e de saudade. Para evocar tais recordações, resta-nos apenas a música, cantada em Kikongo, para nós o único momento encantador desta pequena obra.




Les navets blancs empêchent de dormir
Rachel Lang, fic., França/Bélgica, 2011, 27’

"Os Nabos Brancos Impedem de Dormir" é a segunda parte de uma trilogia de filmes que partilham a mesma actriz principal, Salomé Richard, seguindo-se a "Pour Toi Je Ferai Bataille, o trabalho de final de curso de Rachel Lang que recebeu no Festival de Locarno o Leopardo de Prata, na categoria de curtas-metragens.

Ana e Boris têm um relacionamento à distância, e quando ela se dirige a Bruxelas para o visitar, apercebe-se de que, depois de cinco anos em permanentes rupturas e reconciliações, talvez tenha chegado o momento da separação definitiva. 

Depois de uma festa algo descontrolada e de uma noite de insónia devida à ausência de Boris para "comprar tabaco", (apesar de haver quem diga que são os nabos brancos que impedem de dormir, têm demasiada Vitamina C), Ana decide-se. Ele responde-lhe que sabe que ela regressará, que nunca ninguém o amou tanto como ela, "sem contar com a mãe". 

Nesta teia intrincada de emoções e reviravoltas sentimentais, de silêncios e desilusões, Rachel Lang descreve com solidez e realismo as dificuldades dos relacionamentos naquilo que ela diz ser uma tragicomédia, em que o tema principal é intercalado com pequenos apontamentos cómicos, como o da amiga que tem o aquecimento avariado e usa o forno para aquecer a casa, aproveitando entretanto para fazer dezenas de bolos ou do soldado atiradiço que é rejeitado com uma só tirada sarcástica da nossa protagonista.




Sielunsieppaaja/Soul Catcher
PV Lehtinen, doc./exp., Finlândia, 2011, 14’

Esta curta-metragem finlandesa insere-se na categoria do documentário experimental, e relaciona genericamente três temas. 

Observamos, em primeiro lugar, uma colónia de formigas na sua labuta frenética. Depois aparece um grupo de veraneantes numa praia próxima de Helsínquia, filmados ora em plano fixo, modo retrato, ora em movimento rápido, numa perspectiva semelhante à das formigas. Por último, vemos uma família Masai, por vezes enquadrada no interior de uma câmara fotográfica de grande formato, numa subtil referência à crença de que a fotografia rouba a alma do sujeito fotografado. 

Filmado sem diálogos, este filme baseia-se no poder da captura da imagem fotográfica para cristalizar uma essência humana ou natural. 


IndieLisboa 2012: The Last of England, de Derek Jarman (1987)


  Existem filmes difíceis de criticar. Por não se conseguir discernir uma linha de história obvia e linear, tão útil para a compreensão do normal espectador como do critico atento a qualquer incongruência que o permita disparar mecanicamente os já estudados adjectivos padrão, ou pior, filmes com ausência absoluta de narrativa estruturada, de desenvolvimento de personagens, de lugares comuns onde déjà-vus fílmicos possam acontecer, para descanso do critico que não pode simplesmente rotular o filme de “experiência sensorial”.

Last of England é seguramente uma dessas experiências sensoriais, uma febril colagem de visões anunciadoras de uma Inglaterra pós-apocalíptica, tão avant-garde na forma que apresenta, como na clarividência profética do declínio.

Um punk a caminhar nas ruínas de uma civilização, um bebé sozinho rodeado de jornais como representantes institucionais de um conhecimento geral do fim, uma viúva a rasgar o vestido de noiva numa dança furiosa com as memórias, enquanto tudo à volta arde. São estas as declarações filtradas pelo psicadelismo contestatário e supostamente subtil da mente de Jarman, constituindo uma certidão de óbito do futuro da nação britânica, sem palavras e construído como poema visual, ainda que visceral e negro, como o poema Howl de Allen Ginsberg (um dos representantes da Beat Generation), fazendo sentido que conceptualmente entrecruze o imaginário selvagem na forma de fotogramas de Jarman.

Apesar das valências óbvias deste filme em categorias de originalidade e técnica, sendo que a materialização do imaginário é muitas vezes impressionante visualmente, e o sucesso de Jarman em conseguir retratar uma paisagem coesa de destruição e abstracto fim, sentimos que a mensagem e o móbil de toda estas imagens mentais são sempre a mesma, ideologicamente clichés. Mas o filme é imensamente pessoal, dizendo respeito aos medos e considerações do realizador, que faz filmes enquanto tudo à volta dele arde, no auto-de-fé dos seus valores morais. 

Como apenas podemos especular sobre a nossa capacidade de interpretação de tal obra e pessoa, podemos só humildemente considerar que existem filmes difíceis de criticar.

terça-feira, maio 01, 2012

IndieLisboa 2012: Cut, de Amir Naderi (2011)





A premissa deste filme japonês de realizador iraniano (Amir Nadeni) não podia ser mais interessante: a de um homem cujo amor ao cinema o leva a pôr em risco a própria vida

Shuji é um jovem (aspirante a) realizador em dificuldades económicas, cuja principal ocupação é a projecção de filmes no terraço do seu prédio, para uma mão-cheia de fiéis espectadores. Cartazes de filmes e realizadores e programas de sessões forram o apartamento de alto a baixo, cobrindo paredes, tecto, portas, até janelas, como se toda a luz e ar que entrassem fossem filtrados pelo cinema.

Nos tempos livres, empunha um megafone pelas ruas de Tóquio, gritando para as multidões apáticas  e apressadas aquilo que todos sabem mas se cansaram de dizer: o cinema de autor, enquanto criação e arte, perdeu o lugar para o cinema de mero entretenimento, que nasce e morre no espaço hermético dos multiplexes, também porque não está, à partida, destinado à posteridade. A propósito disso, e contra certas ideias feitas de que o cinema autoral é elitista, abstracto e intransponível, Shuji relembra também que o bom, o grande cinema clássico, é intemporal, e se cultiva, se educa, se sensibiliza, também diverte, também entretém; não há necessariamente uma cisão entre os dois mundos.

Esta paixão – fanatismo? - absorvente não lhe permite dedicar-se a qualquer tipo de trabalho, e assim, quando um dia é confrontado com o assassinato do irmão e a herança da sua dívida astronómica para com uma organização mafiosa, Shuji não tem outra hipótese senão vender o corpo de uma forma inusitada, leiloando a face e a integridade, tornando-se um saco de boxe humano, trocando socos por dinheiro.

Para resistir à tortura voluntária e vingar a memória do irmão, Shuji exige que a arena seja o quarto-de-banho imundo onde ele foi morto. Enquanto é espancado, relembra com fervor religioso todos os filmes que exibiu, todas as grandes obras que o marcaram mais profundamente que os golpes que agora lhe infligem. Quando regressa a casa, ao final do dia, adormece no embalo do som da película a ser projectada.

O vermelho-sangue, tom dominante do filme, é pontuado por cenas a preto e branco, em que Shuji se dirige às campas dos grandes realizadores japoneses – Kurosawa, Ozu, Mizoguchi, para lhes prestar homenagem e rezar por inspiração para que consiga criar algo à sua altura, em sua honra e do Cinema.

Apesar disto, “Cut” eventualmente cai na monotonia da violência e na repetição do discurso purista, o que acaba por retirar alguma força à mensagem valiosa que subjaz ao filme – uma metáfora fortíssima dos obstáculos que um criador cinematográfico enfrenta na construção do seu percurso, na criação e divulgação da suas obras, que se torna ainda mais relevante pelo seu pendor autobiográfico, uma vez que o realizador, Amir Naderi, se exilou nos Estados Unidos nos anos '80 e também ele abdicou da sua vida para se dedicar exclusivamente ao cinema.