Apesar da longa carreira (leia-se difícil sobrevivência) no cinema,
A Casa é apenas a primeira longa metragem de Júlio Alves, pontuada por várias
curtas de relativo sucesso.
A Casa, filme a que lhe
assenta bem a frieza linguística do título, bem mais impessoal que a tradução inglesa
“The Home”. E é exactamente essa frieza
da abstracção do que significa uma casa, que antes de ser uma home é um mero edifício, um conjunto
desconjuntado de materiais (sendo que o realizador faz questão de abusar desta
subtileza, que só o é nos primeiros planos).
Antes da concretização do
desenho, do sonho de outrem, outros sonhos moram lá. Sonhos esses alimentados
pela criação de raízes alheias, que é do dinheiro que a matéria destes se torna
concreta. António, Zé Maria e João,
são os trabalhadores que habitam a casa e a acompanham na sua fase embrionária
de vida, a forma-la antes de ela ter personalidade.
Vários destinos são ali cimentados, sendo
daí que o filme extrai a sua força e sentido, da dicotomia existente entre o fim
do processo de construção representar um novo local de habitação para x pessoa,
instituição sem rosto, e ao mesmo tempo significar o fim de um capítulo de vida
para os trabalhadores que acompanhamos.
Filme que cumpre aquilo a que se
propõe - esse clássico eufemismo para filme pouco ambicioso- apesar de sustentado por
ambições. Ambição de uma vida melhor, de uma vida diferente, de trabalhadores
emigrantes, que apenas procuram a matéria prima para construir uma casa que
possam chamar sua.
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