segunda-feira, maio 07, 2012

Indie Lisboa 2012 : A Casa, de Júlio Alves


Apesar da longa carreira (leia-se difícil sobrevivência) no cinema, A Casa é apenas a primeira longa metragem de Júlio Alves, pontuada por várias curtas de relativo sucesso.

 A Casa, filme a que lhe assenta bem a frieza linguística do título, bem mais impessoal que a tradução inglesa “The Home”.  E é exactamente essa frieza da abstracção do que significa uma casa, que antes de ser uma home é um mero edifício, um conjunto desconjuntado de materiais (sendo que o realizador faz questão de abusar desta subtileza, que só o é nos primeiros planos).

 Antes da concretização do desenho, do sonho de outrem, outros sonhos moram lá. Sonhos esses alimentados pela criação de raízes alheias, que é do dinheiro que a matéria destes se torna concreta. António, Zé Maria e João, são os trabalhadores que habitam a casa e a acompanham na sua fase embrionária de vida, a forma-la antes de ela ter personalidade.

Vários destinos são ali cimentados, sendo daí que o filme extrai a sua força e sentido, da dicotomia existente entre o fim do processo de construção representar um novo local de habitação para x pessoa, instituição sem rosto, e ao mesmo tempo significar o fim de um capítulo de vida para os trabalhadores que acompanhamos.

Filme que cumpre aquilo a que se propõe - esse clássico eufemismo para filme pouco ambicioso- apesar de sustentado por ambições. Ambição de uma vida melhor, de uma vida diferente, de trabalhadores emigrantes, que apenas procuram a matéria prima para construir uma casa que possam chamar sua.

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