quarta-feira, novembro 14, 2012

Doclisboa'12: News From Home, Chantal Akerman


Crítica por: André Guerreiro

News From Home é uma obra absolutamente pessoal de Chantal Akerman. Por mais óbvia que pareça esta afirmação, a verdade é que nunca a vemos, nem há outras personagens que a representem como medium figurado ( como, por exemplo, nos trabalhos mais recentes de Woddy Allen, em que há uma transferência da sua persona para outro actor, outra realidade)
  É necessário atender ao contexto vivencial de Chantal Akerman para não confundir este filme com uma ode visual à America suburbana, qual início de Down By Law de Jim Jarmusch: Chantal, originária de Bruxelas, decide ir viver para os Estados Unidos, mais concretamente para Nova Iorque.


Como qualquer jovem que viva em saudável contacto com as autoridades parentais, Chantal recebia cartas da mãe a descrever assuntos familiares e a esgrimir as genéricas preocupações relativamente à vida da filha: Frio; fome;saúde; cabelo novo?Fica-te bem;amigos. Esta situação de temporário exílio e a manutenção de contacto com a sua anterior realidade alimentam de substrato humano o que conceptualmente é muito simples: longos planos da cidade americana entrecruzados com a leitura, em voz off, de Chantal do conteúdo das cartas da progenitora, representação ulterior de tudo o que conhecia e lhe era familiar.

O que torna este filme tão pessoal não é apenas o facto de serem concretamente as cartas da mãe de Chantal a serem lidas por Chantal, mas o que nos é deixado ver e ouvir ao mesmo tempo. Este voyerismo (que parece em tempo real) de algo tão intimo como a correspondência familiar está submergido não da glamourosa Nova Iorque, mas sim de paisagens desoladas, naturezas mortas de uma sociedade cinzenta. Vemos, portanto, a cidade, mas através do olhar de Chantal.
Percebemos, então, a sinestesia existente entre o que o olhar estranho e frio (real?) de Chantal opta captar da cidade e os sentimentos sobre ela, sabendo assim que Chantal sofre. Sofre da quase inevitável alienação urbana e o anonimato traduzível quer nas ruas vazias à noite quer no metro cheio de gente, onde os sons maquinais que todos ouvem são o único elemento comum a todas estas vivências e identidades tão dispares, que deixam de ser importantes na sua individualidade.  A própria voz da mãe e, consequentemente, a ligação familiar, começa a perder volume e intensidade, vergando-se perante a inevitável força negativa da distância e do meio urbano.

Esta tese de estarmos a receber a própria valoração da vida de Chantal por telepatia visual com esta é confirmada no final do filme, num longo plano filmado desde um barco, que lentamente ,afastando-se da paisagem nova iorquina, demonstra o finalizar da experiência e o regresso a casa.

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