quarta-feira, novembro 14, 2012

Doclisboa'12: Hotel Monterey, Chantal Akerman


Crítica por: André Guerreiro
Por muito que os filmes de Chantal Akerman possam divergir no enredo, e na acção objectiva que apresentam, nunca estão apartados de uma consciência do espaço de onde se desenrolam, quase como se fossem reflexo da vida do ser que albergam.  Em Hotel Monterey o espaço arquitéctonico não funciona como mais um elemento subtil de interpretação psicológica de uma determinada personagem, mas sim o unico elemento de caracterização existente, retrato de uma flutuante multidão anónima. A solidão do simples passageiro que nunca parte porque outra figura abstracta preenche o seu lugar, não há nomes, nem caras, no Hotel Monterey. Apenas a construção, em tempos com certeza grandiosa, mas agora desolada e esquecida, por mais que ainda em funcionamento. As paredes despidas e os cantos vazios demonstram a ausência de pessoas e longas estadias; são nos sítios de passagem encontramos alguma moldura humana. No elevador, nos quartos, onde param homens que não se mexem, ainda que num longo plano, se revelam quase como mobília do local : provavelmente um empregado. Mesmo Chantal (vemos apenas suas costas) aparece e desaparece de um quarto, mesmo ela é mais uma transeunte sem cara.

Para reforçar o sentimento de isolamento metafórico, o som está absolutamente ausente deste filme, nem sons ambiente que nos distraiam da propositada ausência de acção. São 65 minutos de quasi-retratos Hopper-like de um realismo urbano, consubstanciando a alienação da vida moderna americana (tal como era objectivo de Hopper, também). A partir dos 30 minutos, a camara começa a mover-se, e a desenhar esboços de travellings até ao que pode chamar o ponto de fuga das imagens que apresenta, até ao climax final, a fuga do prédio e o acesso à skyline americana.

Argumentam os detractores do filme que este não é mais que uma aborrecida colagem de imagens sem um objectivo prático, a verdade que este, por mais que seja marcado pela ausência de narrativa, não deixa de ter algo para dizer. E como é belo o cinema que mesmo com o movimento que o caracteriza estando algo ausente, consegue transmitir tantas ideias, pelo facto de escolher objectivamente representar as naturezas mortas tal como elas são.

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