Crítica por: André Guerreiro
Por muito que os filmes de Chantal Akerman possam divergir
no enredo, e na acção objectiva que apresentam, nunca estão apartados de uma
consciência do espaço de onde se desenrolam, quase como se fossem reflexo da
vida do ser que albergam. Em Hotel
Monterey o espaço arquitéctonico não funciona como mais um elemento subtil de
interpretação psicológica de uma determinada personagem, mas sim o unico
elemento de caracterização existente, retrato de uma flutuante multidão anónima.
A solidão do simples passageiro que nunca parte porque outra figura abstracta
preenche o seu lugar, não há nomes, nem caras, no Hotel Monterey. Apenas a
construção, em tempos com certeza grandiosa, mas agora desolada e esquecida,
por mais que ainda em funcionamento. As paredes despidas e os cantos vazios
demonstram a ausência de pessoas e longas estadias; são nos sítios de passagem
encontramos alguma moldura humana. No elevador, nos quartos, onde param homens
que não se mexem, ainda que num longo plano, se revelam quase como mobília do
local : provavelmente um empregado. Mesmo Chantal (vemos apenas suas costas)
aparece e desaparece de um quarto, mesmo ela é mais uma transeunte sem cara.
Para reforçar o sentimento de isolamento metafórico, o som
está absolutamente ausente deste filme, nem sons ambiente que nos distraiam da
propositada ausência de acção. São 65 minutos de quasi-retratos Hopper-like de
um realismo urbano, consubstanciando a alienação da vida moderna americana (tal
como era objectivo de Hopper, também). A partir dos 30 minutos, a camara começa
a mover-se, e a desenhar esboços de travellings até ao que pode chamar o ponto
de fuga das imagens que apresenta, até ao climax final, a fuga do prédio e o
acesso à skyline americana.
Argumentam os detractores do filme que este não é mais que
uma aborrecida colagem de imagens sem um objectivo prático, a verdade que este,
por mais que seja marcado pela ausência de narrativa, não deixa de ter algo
para dizer. E como é belo o cinema que mesmo com o movimento que o caracteriza estando
algo ausente, consegue transmitir tantas ideias, pelo facto de escolher
objectivamente representar as naturezas mortas tal como elas são.
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