quinta-feira, março 19, 2009

Todo sobre mi madre, por André Silva

Arrepiante é a palavra que encontro para descrever o trabalho do realizador Pedro Almodóvar. Neste minha demanda a ver algumas obras do cineasta espanhol, tenho sido invadido sempre pelo mesmo sentimento: uma simples e humana sensação de tristeza. Não só pelas histórias dramáticas que nos são apresentadas, mas também pela descomplexa forma como é traduzida a realidade social. Hoje apresento “Todo sobre mi madre”, produzido em 1999. Apesar de drama, encontramos rasgados traços de uma comédia leve e descomprometida, contributo do excelente desempenho das personagens femininas como Cicilia Roth, Marisa Paredes, Penélope Cruz e Antónia San.
Manuela, interpretada por Cicilia Roth, é uma enfermeira que mora sozinha com o filho, que acaba de festejar o seu 17º aniversário. No dia do aniversário, os dois vão assistir a um espectáculo de teatro, trazendo à memória do rapaz o objectivo de encontrar e conhecer o seu pai. Porém, a vida acaba para o filho de Manuela, consequência de um atropelamento mortal. Disposta a reencontrar o pai do rapaz e revelar-lhe toda a verdade, Manuela deixa o emprego e parte para Barcelona. A personagem acaba tornando-se o núcleo da história que dará um novo sentido à sua vida, enquanto que a sua ajuda e influência acabam por mudar o rumo das vidas das pessoas que a rodeiam.
Vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro e Palma de Ouro de Melhor Director no Festival de Cannes de 1999, “Tudo sobre minha Mãe” é uma obra por vezes bizarra, tocante, chocante, mas muito interessante. Mergulhar no universo de Pedro Almodóvar parece significar entrar na própria realidade da sociedade contemporânea, conhecendo muitos dos problemas e limites à condição humana. Exibe-nos a história de várias actrizes que vivem constantemente numa situação de dupla representação, no palco e na vida real, sujeitas a simular e dissimular sentidos para viver e sobreviver.
O nome original do filme é uma homenagem de Pedro Almodóvar ao filme All About Eve (em português, A Malvada), do realizador Joseph L. Mankiewicz, de 1950. Relembro uma frase dita pela personagem Agrado que me ficou na cabeça: “Uma pessoa é tanto mais autentica quanto mais se parece com aquilo que sempre sonhou para si mesma".
“Todo Sobre Mi Madre” tem o invulgar atributo de nos desvendar situações aparentemente surreais, que estão indiscriminadamente mais presentes na nossa vida do que aquilo que imaginamos.

autor: André Silva

1 comentário:

Francisco disse...

“Uma pessoa é tanto mais autentica quanto mais se parece com aquilo que sempre sonhou para si mesma".
Muito interessante...