sexta-feira, março 27, 2009

M, por André Silva



“Who are you...all of you?...Criminals! Perhaps you're even proud of being able to break safes, to climb into buildings or cheat at cards...Things you could just as well keep your fingers off...But I...I can't help myself! I haven't any control over this evil thing that's inside me – the fire, the voices, the torment...I want to escape...but it's impossible.”
Hans Beckert

Alguém mata consequentemente crianças numa cidade alemã, sem que o criminoso seja encontrado pela polícia. Esta é a história que nos conta o realizador alemão Fritz Lang no filme “M” de 1931. Escrito pelo próprio Lang e pela sua mulher, The von Harbou, “M” é o primeiro filme sonoro alemão, apesar de já ter realizado diversos filmes anteriormente. Considerado como um drama-thriller, tornou-se num clássico do cinema, e das melhores obras de Lang. Importante obra durante a época da ascensão do Partido Nazi alemão, por fazer uma alusão à autoridade estadual e à necessidade de punição dos criminosos.
Supostamente baseado na vida real, no caso do serial killer Peter Kürten, o “ Vampiro de Düsseldorf ”, autor de vários crimes na década de 1920, não muito tempo antes deste filme ter sido realizado. Um fantástico filme noir alemão, onde não faltam diversos elementos que compõe o estilo noir: uma cidade escura com ruas desertas, ambientes instáveis, cânticos negros como por exemplo sobre o famoso “Bogeymen” e sobre assassinos, as patológicas paranóicas dos indivíduos e o clássico fatalismo a que estas obras nos habituaram. Através do contraste da iluminação, dos efeitos fortes, e dos grandes ângulos, Lang consegue sugerir-nos uma presença espiritual maléfica que paira sobre a cidade, e nos traduz uma sensação de perdição dos seus habitantes. “M” é mais do que uma paisagem sobre uma mente humana desequilibrada. Com o seu clima de terror palpável e a sua directa ligação à mentalidade da máfia alemã, esta obra desenha com uma assustadora precisão, os escuros contornos da sociedade nazi. Há um constante paralelismo entre a polícia e o submundo da máfia, e a forma como eles funcionam e se organizam. Típico de Fritz Lang, o filme vê a polícia e os criminosos de uma forma quase indistinguível.
Não há qualquer violência na tela, mas o sentimento de ameaça é insuportavelmente intenso e persegue o espectador durante todo o filme, especialmente quando o assassino assobia uma melodia musical ameaçadora. O filme contém duas sequências constantes; por um lado uma escala de diálogos, e por outro lado espaços de música e efeitos sonoros. Lang utilizou o som como se fosse um outro elemento visual, editando-o livremente. Inicialmente, o criminoso não é mostrado ao espectador, fazendo com que cada pessoa individual crie os detalhes e características do assassino, de acordo com a sua própria imaginação e criatividade. Destaque para o cativante desempenho de Peter Lorre, que interpreta o assassino Hans Beckert.
“M” é um dos filmes mais conhecidos de realizador Fritz Lang, e provavelmente a sua maior obra cinematográfica. Praticamente inventando o psicopata serial killer típico do cinema, “M” esteve bem à frente do seu tempo, tanto em termos de estilo como em termos de história, ao passar uma mensagem de protecção familiar ás mães daquela época. Visivelmente impressionado com os registos deste realizador, sem dúvida.

autor: André Silva

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem... André, deixa-me dizer-te que tens o dom da palavra... estou maravilhad com as tuas criticas. sao fantasticas.. suscitam em mim uma vontade extrema de assistir aos filmes que relatas...

PARABÉNS....

O cineclube tem muita sorte em contar com o teu contributo neste projecto...

Mais uma vez parabéns... continua...