quinta-feira, dezembro 29, 2011
Não é que tenha achado por aí além o mais recente filme de G. Clooney, mas o que segue aqui abaixo (cujo texto original se encontra neste blog) não deixa de fazer sentido (não no que respeita à linha política da crítica, mas no resto):
"Há um aspecto curioso na crítica cinematográfica portuguesa que eu arrisco a chamar de mais “conservadora” e “direitista”, apesar de hoje em dia grande parte dela se poder integrar neste rótulo (ao contrário do que aconteceu nos tempos áureos da crítica, nos anos 50, 60 e 70, onde era maioritariamente “de esquerda” e dita “progressista”). Esse aspecto repete-se de filme para filme, quando estes tentam de alguma forma criticar, ou beliscar sequer, o sistema capitalista e as estruturas políticas norte-americanas ou de outros países de democracias ocidentais. Quando surge um filme destes, como o recente caso de “Nos Idos de Março”, a crítica mais insistente é que o título não traz nada de novo e se mostra uma repescagem do cinema “progressista” dos anos 70, de Sidney Lumet, de Martin Ritt, de Sidney Pollack ou Alan J. Pakula.
Curiosamente (e isto só é visível para quem já tenha uns anos destas lides e alguma memória, como é o meu caso), nos anos 70, não estes críticos, mas alguns outros idênticos a estes, diziam que os filmes de Sidney Lumet, de Martin Ritt, de Sidney Pollack ou Alan J. Pakula não traziam nada de novo e repescavam o cinema “progressista” dos anos 30 e 40, onde aí sim, havia John Ford, Frank Capra, William Wyller e quejandos. Ou seja, quando se problematizam questões sociais e poliíticas, o melhor é enxotar a obra e depreciá-la, sobretudo em função do passado, porque esse já parece não incomodar ninguém, encerrado em cinematecas para cinéfilos e curiosos, longe dos olhares do grande público".
quarta-feira, dezembro 28, 2011
Pós-Graduação em Gestão de Organizações sem Fins Lucrativos
O fundador do Cineclube e nosso amigo Guilherme Blanc irá leccionar algumas matérias relacionadas com fundraising no terceiro sector, no âmbito da Pós-Graduação em Gestão de Organizações sem Fins Lucrativos, ministrada pela Business School da Universidade do Porto.
Para os interessados, aqui fica o link: http://www.egp-upbs.up.pt/?page_id=2108
As inscrições ainda estão abertas!
Para os interessados, aqui fica o link: http://www.egp-upbs.up.pt/?page_id=2108
As inscrições ainda estão abertas!
segunda-feira, dezembro 26, 2011
Ciclo "Música de Câmara"
Novo ciclo da Milímetro, dedicado às interpenetrações entre Música e Cinema, nesta semana ainda em ritmo natalício. Às 22h, no Passos Manuel.
PROGRAMA COMPLETO:
27 e 28 de Dezembro
“Tempo of a restless soul”, de Manu Riche e Renaat Lambeets
Documentário sobre Tom Barman, vocalista dos dEUS. Estreia em Portugal.
29 de Dezembro
“Joy Division”, de Grant Gee
A história dos Joy Division, contada pelos antigos elementos da banda e pelas pessoas que mais de perto a acompanharam.
30 de Dezembro
“Ne change rien”, de Pedro Costa
Documentário intimista sobre a cantora e actriz Jeanne Balibar.
segunda-feira, dezembro 19, 2011
domingo, dezembro 18, 2011
mini-ciclo "PORTAS FECHADAS" (20 e 21 DEZ.)
A Milímetro volta a exibir bom cinema português nesta terça e quarta feira (20 e 21 Dez.) no mini-ciclo "PORTAS FECHADAS", no Cinema Passos Manuel. Às 22h.
20 DEZ.
TRANSE" (2006), de Teresa Villaverde
21 Dez.
MAL NASCIDA" (2007), de João Canijo
20 DEZ.
TRANSE" (2006), de Teresa Villaverde
21 Dez.
MAL NASCIDA" (2007), de João Canijo
quarta-feira, dezembro 14, 2011
os filmes que já vimos
Foi bom, muito bom, termos ontem cerca de 30 cinéfilos, simpatizantes e amigos a ver bons filmes e a lancharem pelo meio, num ambiente descontraído e dialogante como desde sempre o Cineclube FDUP se propôs a ser.
Para nós, organização, significa, também, um retorno pelo trabalho que desenvolvemos, o qual, muitas das vezes, nos parece invisível. Portanto, e resumindo: muito obrigado por terem vindo, esperamos que tenham passado um bom bocado. O Cineclube FDUP vai continuar aí como pólo de divulgação cinematográfica para todos os que gostam de estar numa sala escura a ver - e vou plagiar o Bresson à descarada, ele não se importa - uma escrita com imagens em movimento e sons.
A programação deste semestre fica por aqui. Voltamos em Fevereiro... Até lá e bons filmes!
terça-feira, dezembro 13, 2011
SESSÃO DUPLA - Aviso
sábado, dezembro 10, 2011
SESSÃO DUPLA: "OS FILMES QUE NÃO VIMOS EM 2011"
Design: Luísa Beato
Esta terça-feira, e em vésperas natalícias, o Cineclube FDUP despede-se para férias com uma sessão a pensar em todos aqueles que apoiam o clube de cinema mais antigo do panorama universitário.
"OS FILMES QUE NÃO VIMOS EM 2011" é o nome da sessão dupla em que serão exibidos "YOU, THE LIVING" (2007), de Roy Andersson e "ESSENTIAL KILLING" (2010), de Jerzy Skolimowsky. Dois filmes aclamados pela crítica, exibidos em tudo o que é festival e, ainda assim, com uma distribuição escassa no nosso país. Deste ponto de vista, os dois filmes são casos paradigmáticos, já que ambos nunca tiveram exibição comercial, no ano de 2011, na cidade do Porto, mas apenas em Lisboa.
Por isso, e num momento em que florescem na cidade nichos de divulgação cinematográfica, o que permite, de certo modo, suprir a paupérrima distribuição das salas de cinema do circuito comercial (com a excepção, vital, da Medeia Campo Alegre, e outros acasos pontuais), esta é uma boa oportunidade para vermos dois filmes de realizadores consagrados e com um percurso próprio no cinema.
Começaremos às 18h15, com "YOU, THE LIVING". Das 19h50 às 20h20, ofereceremos um pequeno lanche, ao que se seguirá a exibição do tão aguardado "ESSENTIAL KILLNG", que valeu a Skolimowsky e a Vincent Gallo os prémios de melhor filme e melhor actor, respectivamente, no Festival de Veneza deste ano.
Pedimos que quem desejar lanchar e confraternizar no intervalo dos filmes, nos envie um email para cineclubefdup@gmail.com , para que possamos organizar a logística da melhor forma.
De resto, estão todos convidados! Cinéfilos, simpatizantes, curiosos, amigos, amigos de amigos, familiares, estudantes, não-estudantes,... Venham todos, temos o maior gosto! Até lá!
Esta terça-feira, e em vésperas natalícias, o Cineclube FDUP despede-se para férias com uma sessão a pensar em todos aqueles que apoiam o clube de cinema mais antigo do panorama universitário.
"OS FILMES QUE NÃO VIMOS EM 2011" é o nome da sessão dupla em que serão exibidos "YOU, THE LIVING" (2007), de Roy Andersson e "ESSENTIAL KILLING" (2010), de Jerzy Skolimowsky. Dois filmes aclamados pela crítica, exibidos em tudo o que é festival e, ainda assim, com uma distribuição escassa no nosso país. Deste ponto de vista, os dois filmes são casos paradigmáticos, já que ambos nunca tiveram exibição comercial, no ano de 2011, na cidade do Porto, mas apenas em Lisboa.
Por isso, e num momento em que florescem na cidade nichos de divulgação cinematográfica, o que permite, de certo modo, suprir a paupérrima distribuição das salas de cinema do circuito comercial (com a excepção, vital, da Medeia Campo Alegre, e outros acasos pontuais), esta é uma boa oportunidade para vermos dois filmes de realizadores consagrados e com um percurso próprio no cinema.
Começaremos às 18h15, com "YOU, THE LIVING". Das 19h50 às 20h20, ofereceremos um pequeno lanche, ao que se seguirá a exibição do tão aguardado "ESSENTIAL KILLNG", que valeu a Skolimowsky e a Vincent Gallo os prémios de melhor filme e melhor actor, respectivamente, no Festival de Veneza deste ano.
Pedimos que quem desejar lanchar e confraternizar no intervalo dos filmes, nos envie um email para cineclubefdup@gmail.com , para que possamos organizar a logística da melhor forma.
De resto, estão todos convidados! Cinéfilos, simpatizantes, curiosos, amigos, amigos de amigos, familiares, estudantes, não-estudantes,... Venham todos, temos o maior gosto! Até lá!
terça-feira, dezembro 06, 2011
próxima semana: SESSÃO DUPLA
segunda-feira, dezembro 05, 2011
6 Dez.: "SUPER FLY", de Gordon Parks Jr.
Design: Luísa Beato
A programação regular do Cineclube encerra esta terça-feira, dia 6 de Dez., com o filme "SUPER FLY" (1972), de Gordon Parks Jr. É às 18.15, na sala 1.28.
"SUPER FLY" imortalizou a blaxploitation, género cinematográfico emergente nos anos 70, pouco tempo depois das lutas pelos civil rights, e das quais Martin Luther King foi, para toda a comunidade negra, um símbolo (e, também ele, imortal). "SUPER FLY" é o filme icónico, talvez mesmo "o" filme da blaxploitation (só com ele rivalizando "SHAFT", realizado um ano antes), ao condensar em si toda a "fúria de viver" de uma população recorrentemente marginalizada pelo classe dominante (a branca) de então. Com música de Curtis Mayfield, nome maior da soul e do funk norte-americanos (e, ele próprio, um activista pelos direitos civis), é este um filme-documento de uma época, de uma comunidade, de uma inteira civilização chamada América.
E, como já foi anunciado, para a semana haverá SESSÃO DUPLA! Em breve, divulgaremos cartaz. Estejam atentos!
A programação regular do Cineclube encerra esta terça-feira, dia 6 de Dez., com o filme "SUPER FLY" (1972), de Gordon Parks Jr. É às 18.15, na sala 1.28.
"SUPER FLY" imortalizou a blaxploitation, género cinematográfico emergente nos anos 70, pouco tempo depois das lutas pelos civil rights, e das quais Martin Luther King foi, para toda a comunidade negra, um símbolo (e, também ele, imortal). "SUPER FLY" é o filme icónico, talvez mesmo "o" filme da blaxploitation (só com ele rivalizando "SHAFT", realizado um ano antes), ao condensar em si toda a "fúria de viver" de uma população recorrentemente marginalizada pelo classe dominante (a branca) de então. Com música de Curtis Mayfield, nome maior da soul e do funk norte-americanos (e, ele próprio, um activista pelos direitos civis), é este um filme-documento de uma época, de uma comunidade, de uma inteira civilização chamada América.
E, como já foi anunciado, para a semana haverá SESSÃO DUPLA! Em breve, divulgaremos cartaz. Estejam atentos!
terça-feira, novembro 29, 2011
Ciclo "FASSBINDER: TRILOGIA DO PÓS-GUERRA"
O próximo ciclo da MILÍMETRO tem início já esta quarta-feira, 30 Nov., com "O CASAMENTO DE MARIA BAUN" (1979).
Às 22h, no Passos Manuel.
terça-feira, novembro 22, 2011
Crítica "O ESPELHO"
Com duas dezenas de espectadores, "O ESPELHO" foi precedido de uma excelente apresentação introdutória da parte do Prof. Doutor Mário Graça Moura, certamente enriquecedora para todos os que assistiram à obra-prima de Andrei Tarkovsky.
A próxima sessão, que encerra a programação para este semestre, terá lugar no dia 8 de Dezembro, com o filme "SUPERFLY".
Mas os filmes não ficam por aqui!
Quase como uma oferenda natalícia, o Cineclube FDUP realizará uma especial sessão dupla, dia 13 de Dezembro (terça-feira), que contará, ainda, com um pequeno lanche entre os dois filmes (a anunciar brevemente). Será um momento não só para vermos bons filmes, mas também para todos aqueles que acarinham este projecto confraternizarem e trocarem impressões. Estejam atentos!
Aqui fica a crítica do Prof. Doutor Mário Graça Moura ao filme "O ESPELHO" (1975), de Tarkovsky.
CINECLUBE FDUP
SESSÃO 22 NOVEMBRO: "O ESPELHO" (1975), de Andrei Tarkovsky
Andrei Tarkovsky: O Espelho, Prof. Doutor Mário Graça Moura
‘O Espelho’ (1975) é a quarta das sete longas-metragens de Andrei Tarkovsky (1932-1986). Pensado nos anos 60, foi um projecto inicialmente rejeitado pela burocracia soviética. O filme acabaria por ser rodado na década seguinte mas, após o seu visionamento, as autoridades permitiram apenas uma distribuição limitada na URSS e proibiram a exibição no Festival de Cannes (no qual ‘Andrei Rubleev’ (1969) e ‘Solaris’ (1972) tinham sido premiados e ‘Stalker’ (1979), ‘Nostalgia’ (1983) e ‘O Sacrifício’ (1986) viriam a sê-lo). ‘O Espelho’ adquiriu entretanto a reputação de ser o filme mais pessoal – e talvez o mais difícil – de uma obra composta por filmes que não poderiam ter sido feitos por nenhum outro realizador e que são certamente exigentes.
Trata-se de facto, por maioria de razão, de um filme pessoal: baseia-se em acontecimentos reais, vividos pelo realizador e pela sua família. Por sua vez, a representação desses acontecimentos, passados em épocas diversas, é intercalada com a representação de sonhos – claramente sinalizados, no entanto – e com fragmentos de documentários; e a montagem obedece a um princípio de associação de ideias mais do que a uma lógica narrativa. Todavia, a estruturação com base em princípios que, como tem sido observado, remetem para a poesia é característica de outros filmes de Tarkovsky – filmes nos quais, como aqui, encontramos personagens e cenas misteriosas, que parecem resistir inclusivamente a uma interpretação simbólica. ‘O Espelho’ vai mais longe do que os outros filmes do realizador apenas na medida em que, como tem sido assinalado, constitui uma experiência de subjectividade total: os acontecimentos que compõem o filme são-nos apresentados tal como a mente do protagonista os recorda ou imagina. Significativamente, o protagonista (quando adulto) está sempre fora de campo.
Por outras palavras, ‘O Espelho’ é a memória que um homem tem da sua vida (e da vida da sua família) num momento de particular lucidez, em que parece ser capaz de ver ou entender o que antes não tinha visto ou entendido – e o filme está por isso montado de uma forma que reflecte o modo como a memória opera. Esse momento de particular lucidez é, aparentemente, o momento da sua morte, que constitui, como o próprio realizador viria a observar, o único elemento falso do filme – pois o homem em causa é, evidentemente, o próprio Tarkovsky. Para além de vermos o cartaz de ‘Andrei Rubleev’ a sugeri-lo, a mãe do protagonista (quando idosa) é a própria mãe do realizador – a voz do seu pai aparece igualmente, lendo os seus poemas – e grande parte do filme decorre numa casa que é uma réplica da casa da família do realizador, reconstruída no local onde essa casa existia.
A figuração da memória do protagonista apresenta um aspecto particularmente relevante. Há cinco personagens centrais: o protagonista, a sua mulher, o seu filho, a sua mãe e o seu pai, que no entanto está quase sempre ausente. Duas dessas personagens surgem-nos em várias fases da sua vida. Ora a actriz que representa a mulher do protagonista representa também a sua mãe quando jovem – há, aliás, um comentário da mulher sobre a sua parecença com a mãe do protagonista – e o actor que representa o protagonista quando adolescente representa também o seu filho. Por sua vez, a separação do protagonista e da sua mulher, e a dos seus pais, sugerem um paralelo entre aquele e o seu pai. As vidas de algumas personagens – na memória (lúcida) do protagonista – são portanto um espelho de outras vidas. É de resto através de espelhos que em certos momentos se passa do presente para o passado, ou para o sonho, e vice-versa.
Mas há ainda uma explicação adicional para o título do filme. Tarkovsky revelou que vários espectadores lhe disseram que tinham visto no filme a sua própria vida – o que, à primeira vista, é paradoxal, mesmo tratando-se de espectadores russos da mesma geração que o realizador. E no entanto não o é, porque o cinema, ou mais genericamente a arte, podem fazer-nos ver – e podem fazer com que nos vejamos a nós próprios – com uma lucidez particular, tal como sucede ao protagonista de ‘O Espelho’ no momento da sua morte; e essa lucidez pode levar-nos, mesmo estando longe do contexto histórico e geográfico do filme, a reconhecer nas vidas retratadas – que por sua vez espelham outras vidas – a nossa própria vida, passada ou futura. Não por acaso, ‘O Espelho’ começa com uma cena, que pode ser interpretada como uma metáfora do poder do cinema, em que um rapaz gago, através da hipnose, é curado e pode finalmente falar. E uma das sequências fundamentais do filme é um sonho, primeiro relatado e depois magnificamente figurado, sobre a impossibilidade de regressar à casa da infância, ou de recomeçar.
Como sempre em Tarkovsky, a atenção obsessiva ao movimento da câmara e ao som fazem de ‘O Espelho’ uma experiência visual e sonora de uma intensidade rara. Destacam-se, por exemplo, as imagens do vento – algumas criadas com a intervenção de helicópteros – e das gotas de água; ou o uso da luz nas cenas de interiores. Bruegel – de quem um quadro é recriado – e Leonardo da Vinci inspiram algumas das cenas. E o filme acaba com uma sequência verdadeiramente hipnótica, uma das duas ou três mais comoventes da obra do realizador, em que o pai do protagonista pergunta à mãe se prefere ter um filho ou uma filha, enquanto se ouve o início da ‘Paixão segundo S. João’, de J.S. Bach. Depois a mãe olha – por um momento, inclusivamente, olha para nós – e literalmente vemos com ela o sentido da sua vida.
domingo, novembro 20, 2011
22 Nov.: "O ESPELHO", de Andrei Tarkovsky
Design: Luísa Beato
O Cineclube FDUP volta a animar o panorama universitário do Porto, desta feita com um dos filmes maiores de Andrei Tarkovsky - "O ESPELHO" (ZERKALO), de 1975. Filme onde, talvez mais do que em qualquer outro, o cineasta russo expõe, autobiograficamente, as suas reflexões em torno da memória, a infância e a nostalgia. Tudo isto acompanhado de um primor visual que no cinema de Tarkoksvy atinge, como é sabido, níveis superlativos.
A acrescer ao banquete, teremos a apresentação, que muito honra o Cineclube, do Prof. Doutor Mário Graça Moura (FEP), bem como uma crítica (escrita) da sua autoria.
Por isso, melhor era impossível: é já esta terça-feira, às 18h15 (e com direito a uma surpresa!)
Venham e tragam um amigo. Ate lá!
O Cineclube FDUP volta a animar o panorama universitário do Porto, desta feita com um dos filmes maiores de Andrei Tarkovsky - "O ESPELHO" (ZERKALO), de 1975. Filme onde, talvez mais do que em qualquer outro, o cineasta russo expõe, autobiograficamente, as suas reflexões em torno da memória, a infância e a nostalgia. Tudo isto acompanhado de um primor visual que no cinema de Tarkoksvy atinge, como é sabido, níveis superlativos.
A acrescer ao banquete, teremos a apresentação, que muito honra o Cineclube, do Prof. Doutor Mário Graça Moura (FEP), bem como uma crítica (escrita) da sua autoria.
Por isso, melhor era impossível: é já esta terça-feira, às 18h15 (e com direito a uma surpresa!)
Venham e tragam um amigo. Ate lá!
terça-feira, novembro 15, 2011
Zabriskie Point
Fica aqui um comentário que escrevi, noutras paragens, a propósito da mais-que-famosa cena da explosão em Zabriskie Point (1970), de Michelangelo Antonioni.
"Explosões"
Entre tantas outras interpretações (suponho eu, não tive paciência para confirmar), há duas possíveis para um momento singular em Zabriskie Point. Falo, sem novidade, da sequência da explosão. Ora, há nela um instante (um plano, mais concretamente) muito especial. Depois de vermos tudo explodir (roupas, móveis, electrodomésticos ou, metaforica mas justamente, o poder, o dinheiro, o consumismo, o materialismo, enfim, o capitalismo), há um plano onde Antonioni filma a detonação de uma quantidade gigantesca de livros e calhamaços. Eis a dúvida: a literatura, o conhecimento, a... Cultura a explodir?
Há quem veja na explosão dos livros, como é o caso do inglês David Thomson, a destruição de bens que, mesmo não sendo materiais, não possuem um valor espiritual, interior, próprio. Donde, a inclusão da deflagração de todas aquelas páginas e palavras na explosão do tudo, i. e., do conjunto das coisas que não são realmente importantes para os homens: "the repeated explosion of the desert home - deprived of the violence by silence - speak for the helpless sterility of material things: not just of material goods, but the irrelevant accumulation of things that have no interior significance" (David Thomson, The New Biographical Dictionary of Film, Knopf, 2010, p. 28). É nestas things that have no interior significance que se encaixam os livros, a meu ver.
Todavia, e esta é a interpretação que eu faço, parece-me a mim, do que conheço da personalidade de Antonioni (um tipo muito fino, inteligente e anti-dogmático, nada dado a radicalismos fáceis) e do ambiente que impregna todo o filme (a contra-cultura americana dos anos 60 - seus clichés, fragilidades e antinomias -, que se cruza com o encontro de dois jovens, também eles, de certa forma, em contra-corrente com essa contra-cultura), que a explosão em causa (a dos livros, em concreto) pode ter um outro significado. Que é o de sugerir (em forma de pergunta) o seguinte: se mandarmos tudo (capitalismo, suas idiossincrasias e avatares) pelos ares, não destruímos, também, aquilo a que damos realmente valor?
Assim vistas as coisas, o filme de Antonioni (um homem de esquerda, é certo, mas sem se comprometer com ditames de espécie alguma na sua arte), acaba por ficar no meio de dois mundos. O mundo da juventude revolucionária, por um lado, cujas contradições movediças e debilidades internas são expostas (tal como fez Godard, em La Chinoise). E o mundo capitalista, este fortemente parodiado e criticado - pense-se, respectivamente, na cena em que os empresários visionam um anúncio publicitário ominoso, estupidificante, típico das sociedades de consumo; e na cena final, na casa prestes a explodir, em que os grandes planos fazem dos rostos dos empresários autênticos donos dos terrenos ("donos do mundo", desumanos e agarrados a cálculos económicos) simulados nas maquetes. E que meio-termo é esse?
É, justamente, aquele onde se situa um pensamento - político? - , uma concepção do mundo, que se interroga profundamente sobre fenómenos contestários de massa (a contra-cultura americana, de pendor acentuadamente esquerdista, no caso), mas que, simultaneamente, se furta terminantemente a aceitar um mundo onde o poder e o dinheiro comandem a vida. Ao filmar, primeiro, a explosão de bens materiais supérfluos, e, depois, livros (pensamentos, sentimentos, palavras, teorias), não está Antonioni a lembrar-nos o que, em parte, aconteceu na História? Não foram homens que, querendo sofregamente terminar com este ou aquele sistema, por projectarem nas suas cabeças um novo mundo, melhor e mais verdadeiro ("mudar o mundo", em português escorreito), acabaram por apagar tudo, inclusivamente aquilo que tinham por nobre?
É evidente que, neste contexto, o regime comunista da União Soviética assomará imediatamente às nossas cabeças, pois ele partiu da aversão de um conjunto de indivíduos a um sistema - o capitalista (tal como os jovens americanos da contra-cultura, embora com nuances fundamentais: logo à cabeça, a guerra do Vietnam, e, obviamente, a radical diferença entre os níveis de vida nos EUA dos anos 60 e os da Rússia czarista do início do séc XX). Contudo, parece-me, a leitura de Antonioni é mais abrangente: ela interpela e interroga toda e qualquer intenção destruidora (absolutizante, neste sentido), pois ela sempre correrá o risco de, eliminando o que de inútil - fútil, inane, materialista, etc. - considera viciar a humanidade, cair num subjectivismo total, o qual, em último termo, se reduz à censura e à repressão. E é aí, nesse preciso momento, que o que outrora se tinha por grandioso, sublime, assume um valor relativo e passa a poder ser objecto de eliminação, como se de um processo administrativo se tratasse. Por esse motivo é que livros, filmes e músicas extraordinárias, que hoje consideramos praticamente como património da humanidade, já foram, em tempos, destruídas, queimadas, apagadas da história (ou, pelo menos, foram feitas tentativas nesse sentido - felizmente, nunca com absoluto sucesso). Posta de outra maneira, a pergunta que fiz acima mantém o sentido original: onde começa e onde acaba o que é realmente importante para nós, homens? Quais os riscos (senão as certezas) de se tentar eliminar aquilo que, subjectivismos à parte, não tem realmente valor para as nossas vidas?
Não é por acaso que a explosão se passa no domínio da ficção, i.e., no domínio da imaginação de uma personagem (Daria), a qual, depois de rever, na sua cabeça, como seria, sorri e vai embora - e vai embora, quase diríamos, em paz com o mundo. Não é à toa, também, que a personagem em causa (a par da outra personagem, Mark) se situa à margem (ou, o que é o mesmo, no meio) desses dois mundos de que atrás falei. Daí a fuga, a evasão da realidade, e a procura de um outro mundo - o tal do deserto, momento demiúrgico de uma grandeza poética que não cabe em palavras -, mas este sim, verdadeiramente novo, onde todos teríamos que recomeçar do zero (areia, rochas e pouco mais) e apenas com o Amor como meio de nos relacionarmos e comunicarmos (onde o dinheiro e o poder, portanto, não estariam presentes para contaminar - introduzindo mecanismos artificiais diferenciadores e hierarquizantes - as relações humanas). Ou, nas palavras de David Thomson: "the prelude to a new society in which people regress to the primitive energy of desert creatures" (p. 27).
"Explosões"
Entre tantas outras interpretações (suponho eu, não tive paciência para confirmar), há duas possíveis para um momento singular em Zabriskie Point. Falo, sem novidade, da sequência da explosão. Ora, há nela um instante (um plano, mais concretamente) muito especial. Depois de vermos tudo explodir (roupas, móveis, electrodomésticos ou, metaforica mas justamente, o poder, o dinheiro, o consumismo, o materialismo, enfim, o capitalismo), há um plano onde Antonioni filma a detonação de uma quantidade gigantesca de livros e calhamaços. Eis a dúvida: a literatura, o conhecimento, a... Cultura a explodir?
Há quem veja na explosão dos livros, como é o caso do inglês David Thomson, a destruição de bens que, mesmo não sendo materiais, não possuem um valor espiritual, interior, próprio. Donde, a inclusão da deflagração de todas aquelas páginas e palavras na explosão do tudo, i. e., do conjunto das coisas que não são realmente importantes para os homens: "the repeated explosion of the desert home - deprived of the violence by silence - speak for the helpless sterility of material things: not just of material goods, but the irrelevant accumulation of things that have no interior significance" (David Thomson, The New Biographical Dictionary of Film, Knopf, 2010, p. 28). É nestas things that have no interior significance que se encaixam os livros, a meu ver.
Todavia, e esta é a interpretação que eu faço, parece-me a mim, do que conheço da personalidade de Antonioni (um tipo muito fino, inteligente e anti-dogmático, nada dado a radicalismos fáceis) e do ambiente que impregna todo o filme (a contra-cultura americana dos anos 60 - seus clichés, fragilidades e antinomias -, que se cruza com o encontro de dois jovens, também eles, de certa forma, em contra-corrente com essa contra-cultura), que a explosão em causa (a dos livros, em concreto) pode ter um outro significado. Que é o de sugerir (em forma de pergunta) o seguinte: se mandarmos tudo (capitalismo, suas idiossincrasias e avatares) pelos ares, não destruímos, também, aquilo a que damos realmente valor?
Assim vistas as coisas, o filme de Antonioni (um homem de esquerda, é certo, mas sem se comprometer com ditames de espécie alguma na sua arte), acaba por ficar no meio de dois mundos. O mundo da juventude revolucionária, por um lado, cujas contradições movediças e debilidades internas são expostas (tal como fez Godard, em La Chinoise). E o mundo capitalista, este fortemente parodiado e criticado - pense-se, respectivamente, na cena em que os empresários visionam um anúncio publicitário ominoso, estupidificante, típico das sociedades de consumo; e na cena final, na casa prestes a explodir, em que os grandes planos fazem dos rostos dos empresários autênticos donos dos terrenos ("donos do mundo", desumanos e agarrados a cálculos económicos) simulados nas maquetes. E que meio-termo é esse?
É, justamente, aquele onde se situa um pensamento - político? - , uma concepção do mundo, que se interroga profundamente sobre fenómenos contestários de massa (a contra-cultura americana, de pendor acentuadamente esquerdista, no caso), mas que, simultaneamente, se furta terminantemente a aceitar um mundo onde o poder e o dinheiro comandem a vida. Ao filmar, primeiro, a explosão de bens materiais supérfluos, e, depois, livros (pensamentos, sentimentos, palavras, teorias), não está Antonioni a lembrar-nos o que, em parte, aconteceu na História? Não foram homens que, querendo sofregamente terminar com este ou aquele sistema, por projectarem nas suas cabeças um novo mundo, melhor e mais verdadeiro ("mudar o mundo", em português escorreito), acabaram por apagar tudo, inclusivamente aquilo que tinham por nobre?
É evidente que, neste contexto, o regime comunista da União Soviética assomará imediatamente às nossas cabeças, pois ele partiu da aversão de um conjunto de indivíduos a um sistema - o capitalista (tal como os jovens americanos da contra-cultura, embora com nuances fundamentais: logo à cabeça, a guerra do Vietnam, e, obviamente, a radical diferença entre os níveis de vida nos EUA dos anos 60 e os da Rússia czarista do início do séc XX). Contudo, parece-me, a leitura de Antonioni é mais abrangente: ela interpela e interroga toda e qualquer intenção destruidora (absolutizante, neste sentido), pois ela sempre correrá o risco de, eliminando o que de inútil - fútil, inane, materialista, etc. - considera viciar a humanidade, cair num subjectivismo total, o qual, em último termo, se reduz à censura e à repressão. E é aí, nesse preciso momento, que o que outrora se tinha por grandioso, sublime, assume um valor relativo e passa a poder ser objecto de eliminação, como se de um processo administrativo se tratasse. Por esse motivo é que livros, filmes e músicas extraordinárias, que hoje consideramos praticamente como património da humanidade, já foram, em tempos, destruídas, queimadas, apagadas da história (ou, pelo menos, foram feitas tentativas nesse sentido - felizmente, nunca com absoluto sucesso). Posta de outra maneira, a pergunta que fiz acima mantém o sentido original: onde começa e onde acaba o que é realmente importante para nós, homens? Quais os riscos (senão as certezas) de se tentar eliminar aquilo que, subjectivismos à parte, não tem realmente valor para as nossas vidas?
Não é por acaso que a explosão se passa no domínio da ficção, i.e., no domínio da imaginação de uma personagem (Daria), a qual, depois de rever, na sua cabeça, como seria, sorri e vai embora - e vai embora, quase diríamos, em paz com o mundo. Não é à toa, também, que a personagem em causa (a par da outra personagem, Mark) se situa à margem (ou, o que é o mesmo, no meio) desses dois mundos de que atrás falei. Daí a fuga, a evasão da realidade, e a procura de um outro mundo - o tal do deserto, momento demiúrgico de uma grandeza poética que não cabe em palavras -, mas este sim, verdadeiramente novo, onde todos teríamos que recomeçar do zero (areia, rochas e pouco mais) e apenas com o Amor como meio de nos relacionarmos e comunicarmos (onde o dinheiro e o poder, portanto, não estariam presentes para contaminar - introduzindo mecanismos artificiais diferenciadores e hierarquizantes - as relações humanas). Ou, nas palavras de David Thomson: "the prelude to a new society in which people regress to the primitive energy of desert creatures" (p. 27).
segunda-feira, novembro 14, 2011
Ciclo de Animação, no CineFEUP
Nem de propósito, quando ainda há pouco tempo o nosso Cineclube havia exibido um filme de animação ("MARY AND MAX", de Adam Elliot), o Cineclube da Faculdade de Engenharia da UP (CineFEUP) vem propôr um interessante ciclo dedicado exclusivamente ao cinema de animação.
Esta iniciativa aparece, note-se, numa altura em que o cineclubismo universitário se vem afirmando cada vez mais na cidade do Porto. A par do nosso Cineclube FDUP (o mais antigo no panorama universitário), o CineICBAS, CineFMUP e o CineFEUP asseguram, todos eles, uma programação regular e muito interessante. A mim, pessoalmente, dá-me uma enorme satisfação assistir a este movimento, não só pelo que de interventivo e cultural ele representa, mas, também, de uma perspectiva mais prática, pela quantidade de bons filmes que me permitem ver, em boas condições, e gratuitamente. Esperemos que estes projectos se mantenham de boa saúde por muito tempo!
Aqui fica um pouco mais sobre o ciclo de animação levado a cabo pelo CineFEUP:
CICLO DE ANIMAÇÃO
Do Rato Mickey ao Doraemon, desde tenra idade que nos habituamos à técnica da animação de imagens para simular situações que a realidade tantas vezes limita. Mas com o passar dos anos, esse mundo mágico vai perdendo aos poucos o seu encanto. Porquê? Não sabemos, nem é nosso interesse saber. A animação está viva e recomenda-se, dos mais novos aos mais velhos e só nos interessa demonstrá-lo.
Em pareceria com a Casa da Animação, o CineFEUP estreia a sua actividade deste ano lectivo com um ciclo dedicado a esta técnica na sétima arte, prometendo trazer de volta o interesse de todos. Durante o mês de Novembro exibiremos semanalmente, às Terças, uma curta metragem nacional com apresentação pela Casa da Animação, seguido de uma longa de culto, cobrindo várias técnicas, do stop-motion ao Flash.
15 de Novembro
Desassossego (2010), de Lorenzo degl'Innocenti
Corpse Bride (2005), de Tim Burton
22 de Novembro
Viagem a Cabo Verde (2010), de José Miguel Ribeiro
Spirited Away (2001), de Hayao Miyazaki
29 de Novembro
O Homem da Cabeça de Papelão (2010), de Luís da Matta Almeida e Pedro Lino
Waltz With Bashir (2008), de Ari Folman
Todas as sessões se realizam às 21:00 na sala B003 da FEUP e têm entrada gratuita.
Mais detalhes do ciclo podem ser encontrados no nosso website:
http://www.cinefeup.org/ciclodeanimacao.html
Bem como no evento do Facebook:
https://www.facebook.com/event.php?eid=139143672858169
quarta-feira, novembro 09, 2011
ciclo "TERRATREME"
A Milímetro inicia hoje um novo ciclo com o filme "BAB SEBTA" (2008), de Pedro Pinho e Frederico Lobo.
Às quartas-feiras, pelas 22h, no Passos Manuel.
A Sombra dos Antepassados Esquecidos
Sergei Parajanov, 1965
A beleza em estado de filme.
(O vídeo está dobrado em russo, mas é o único que se encontra com qualidade de imagem aceitável.)
Mary and Max
Adam Elliot, 2009
Estamos na década de setenta. Mary Dinkle tem 8 anos e vive num subúrbio de Melbourne pintado a sépia. Nos tempos livres, o pai dedica-se à taxidermia, a mãe às chávenas de xerez, e Mary vê os Noblets com o seu galo de estimação enquanto sorve colheradas de leite condensado.
Do outro lado do oceano, Max Horovitz habita uma Nova Iorque cinzenta, mas à sua margem. Na sua meia-idade obesa e hipocondríaca, Max tem dificuldades em adaptar-se a uma cidade onde imperam os atropelos ambientais e os avanços sexuais, e encerra-se num mundo próprio, rodeado de Noblets -sim, também ele, e receitas hipercalóricas.
Um golpe do acaso fez com que Mary descobrisse a morada de Max numa lista telefónica e decidisse escrever-lhe, dando início a uma longa amizade por correspondência baseada na experiência do próprio autor do filme, Adam Elliot.
A voz de ambos (sendo que a de Max é especialmente bem interpretada por Philip Seymour Hoffman) só vive através das suas cartas - são raros os diálogos neste filme, e é nesta troca silenciosa de palavras que se aprofundam as duas personagens e se desenvolve a temática do filme. A abordagem da doença - Max sofre da síndrome de Asperger, como descobrimos mais tarde, da solidão, da (a)normalidade e, em último caso, da amizade, é feita frequentemente com mordacidade e sem ceder a moralismos - não sendo embora insensível, e é por causa desse tom que não se pode cometer a ingenuidade de confundir filmes de animação com filmes infantis.
Não significa isto que Mary and Max não nos suscite carinho. Além das personagens, a própria estética do filme é algo de especial. A sensação de que todos os elementos são cuidadosamente escolhidos não é absurda; esta animação foi construída através da técnica de "claymation", uma forma de stop-motion na qual todos os objectos são feitos à mão, a partir de barro ou plasticina, e fotografados frame a frame, para criar a ilusão de movimento (deste género são também conhecidos Wallace e Gromit, ou A Fuga das Galinhas). Desta tridimensionalidade sem linhas rectas resulta o seu aspecto algo descuidado, mas humano e envolvente - não há aqui qualquer trabalho digital.
É também de referir o salpicar constante de pequenas referências e apontamentos cómicos, contrastantes com o tom predominantemente pessimista do filme e escondidas em sítios tão improváveis como cartazes de sem-abrigo, t-shirts de personagens secundárias, ou mesmo lápides. Os toques de vermelho inseridos na Nova Iorque monocromática, por exemplo, foram inspirados na Lista de Schindler, do Steven Spielberg.
Esta é, afinal, uma história simples, e pode ser bem resumida pelos objectivos de vida de Max: a infância cristalizada nos bonecos dos Noblets, chocolate q.b. (então se forem cachorros...) e um amigo, de preferência não imaginário.
terça-feira, novembro 08, 2011
uma delícia
Foi com "MARY AND MAX" (2009), de Adam Elliot, que o Cineclube FDUP apostou, pela primeira vez, no cinema de animação, audácia que foi devidamente recompensada pela doçura de um filme que, em tom de brincadeira, trata, com profundidade, de coisas sérias (e talvez seja esta, vejo agora, uma das pechas do filme - o facto de, através de uma estrutura formalmente imersa na fantasia e, justamente, na animação, se apegar, porventura em demasia, à realidade, às vidas e problemas dos homens reais, com todas as limitações criativas que daí advêm... Mas isto seria questão para desenvolver com tempo).
Em breve ficará aqui disponível a folha de sala com a crítica da Inês Viana.
Assim sendo, vemo-nos agora dia 22 de Novembro, com esse magnífico filme de Andrei Tarkovsky - "O ESPELHO" (1975).
Até lá!
segunda-feira, novembro 07, 2011
Premiados passatempo "CINANIMA 2011"
Aqui fica a lista dos premiados do passatempo "CINANIMA 2011". Os premiados deverão proceder ao levantamento do bilhete na bilheteira do local da sessão respectivo.
LISTA DE PREMIADOS PASSATEMPO CINECLUBE FDUP E CINANIMA 2011:
Guilherme Silva
Cristina Ramos Alves
Inês Merino
Diana Barra
Vanessa Carvalho
Ana Sofia Nico
Rita Carvalho
Teresa Chow
André Guerreiro
Tiago Parente
Graça Canto Moniz
LISTA DE PREMIADOS PASSATEMPO CINECLUBE FDUP E CINANIMA 2011:
Guilherme Silva
Cristina Ramos Alves
Inês Merino
Diana Barra
Vanessa Carvalho
Ana Sofia Nico
Rita Carvalho
Teresa Chow
André Guerreiro
Tiago Parente
Graça Canto Moniz
domingo, novembro 06, 2011
8 Out.: "MARY AND MAX" (18h15)
Design: Luísa Beato
O Cineclube retoma a sua programação já esta terça-feira, dia 8 Out., com o filme "MARY AND MAX" (2009), de Adam Elliot, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo cinema de animação.
Na sala 1.28, às 18h15. Sorteio de um bilhete para cinemas UCI!
Apareçam e tragam um amigo! Até lá!
O Cineclube retoma a sua programação já esta terça-feira, dia 8 Out., com o filme "MARY AND MAX" (2009), de Adam Elliot, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo cinema de animação.
Na sala 1.28, às 18h15. Sorteio de um bilhete para cinemas UCI!
Apareçam e tragam um amigo! Até lá!
segunda-feira, outubro 31, 2011
Passatempo "CINANIMA 2011"
O Cineclube FDUP e o CINANIMA 2011 associam-se para a realização de um passatempo on-line, oferecendo 5 bilhetes para cada sessão não competitiva (conferir aqui) do 35º Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, que terá lugar de 7 a 13 de Novembro. Aproveita!
Para ganhares um bilhete duplo, envia email para cineclubefdup@gmail.com com a resposta à seguinte pergunta:
Como se chamam e quantas são, no total, as secções a concurso no CINANIMA 2011?
A par da resposta correcta, os participantes deverão registar o seu nome e o do seu acompanhante, bem com o nome do filme/sessão pretendida. O mesmo participante pode solicitar bilhetes duplos para todas as sessões não competitivas que pretender. No caso de desejar assistir ao Cinanima 2011 sem acompanhante, basta inscrever o seu nome.
As respostas deverão ser dadas até ao final do dia 5 de Novembro, momento em que termina o passatempo.
Boa sorte!
Mais info em: http://cinanima.pt/2011/
sexta-feira, outubro 28, 2011
Amarcord
Federico Fellini, 1973
“A m’arcord” significa “eu recordo-me”, no dialecto da região italiana onde Fellini cresceu. Por isso dizem que é este o seu filme mais autobiográfico; mas ao contrário de outros filmes, como o 8 ½, em que observamos o balanço de toda uma vida, ou uma carreira, neste a nostalgia dilui a memória, e através da perspectiva adolescente – personificada em Titta, que estas recordações e fantasias se conjugam, conduzindo a narrativa de um modo surreal, etéreo, mágico, como toda a infância nos surge, quando a evocamos.
Esta lembrança tem lugar numa pequena aldeia costeira da Itália fascista dos anos 30, e remonta aos festejos da chegada da primavera; espera-se com bons augúrios o início do novo ciclo.
Começa assim o desfile: aqui, tudo é exaltação, festiva e quase circense, barulhenta e colorida, e é nesse caos desconcertante que nos movemos, como um carrossel que nos embala ao longo da história, com altos e baixos, mas nunca saindo verdadeiramente do seu eixo.
Sentamo-nos à mesa com a família de Titta, que embora roçando os limites da disfuncionalidade, não deixa de soar - e é exactamente essa a palavra - familiar.
Fazemos parte do seu grupo, seguimo-lo para a escola e sentimo-nos alunos; o rol de professores e respectivas manias não pode ser considerado menos do que hilariante.
Conhecemos os seus vizinhos. Volpina, o tio, o cego, o advogado, a Gradisca, a mulher da tabacaria, todos personagens caricaturais e improváveis dentro do tom hiperbólico que é recorrente no filme.
A denúncia do governo fascista também não passa despercebida, e muito menos cede a remorsos ou sentimentos de indignação; dando antes lugar, novamente, à ridicularização das situações, até ao absurdo - a famosa parada é o melhor exemplo disso mesmo.
Todo este folclore não implica, contudo, uma superficialidade da abordagem, ou falta de substância (os filmes do Kusturica demoram ainda uns anos a chegar); sente-se indiscutivelmente um sentimento de verdadeira afeição a tudo o que este bairro e os seus habitantes representam, como se de uma homenagem se tratasse, já para não falar daqueles momentos transcendentes de beleza - aqui a palavra-chave é pavão, e mais não digo.
Inês Viana
terça-feira, outubro 25, 2011
"Sangue do meu Sangue"
Republico neste espaço, com alterações, a crítica que escrevi a propósito de "Sangue do meu Sangue", o mais recente filme de João Canijo.
Antes de tudo e mais alguma coisa, um aviso à navegação: nunca vi outro filme de João Canijo (ignorantia non excusat, bem sei, mas o adágio não me parece relevante para o que vou dizer nas linhas seguintes) e, portanto, não estou a par da sua carreira (a única coisa sua que me chegou foi um comentário, bem interessante por sinal, a um filme do Cassavetes, que vem naqueles "extras" dos dvds).
Agora vamos ao que interessa.
João Canijo filma muitíssimo bem, disso não há dúvida, e só esse facto já é razão para dar graças, tão pouco são os realizadores portugueses assim dotados (mesmo falando, por exemplo, de um João César Monteiro, de quem gosto muitíssimo, não se reconhece nele uma técnica e uma estética deste calibre). Não só naqueles planos "divididos", em que temos duas cenas a decorrer em simultâneo (o que é um estímulo quase "naturalista" à atenção do espectador, porque tantas vezes as coisas se passam assim no nosso quotidiano), mas também na forma pausada, reflexiva, com que deixa as imagens fluírem no plano. Toda a cena inicial, feita de travellings e panorâmicas demoradas (a da última cena lá no alto, antes de passar ao bairro, é fabulosa) e, de um certo modo, "documentaristas", é de uma mestria indubitável. Portanto, quanto a este capítulo, estamos conversados.
Depois vem a questão da representação. Apregoou-se por aí aos sete ventos que estaríamos perante uma interpretação fantabulástica, onde o trabalho de actores de Canijo - à Mike Leigh, segundo dizem: um processo complexo e semi-livre de construção de personagens, que resulta de um diálogo dialéctico realizador-actores, os quais dispõem de um espaço de auto-construção muito amplo, e onde predomina uma grande carga de improvisação - seria por demais evidente. Pois bem, não posso estar mais em desacordo. Rita Blanco é sim ou sopas: ou se gosta muito ou se detesta. Eu nunca gostei particularmente e, muito honestamente, ainda continuo a preferir vê-la na série "Conta-me como foi". De quem gostei, e que para mim foi uma revelação, foi de Anabela Moreira, essa sim, convicente e terrivelmente decadente no respectivo papel. Quanto ao resto, a coisa oscila entre o mediano (Cleia Almeida, Rafael Morais, Nuno Lopes) e o fraco (Francisco Tavares). Fora deste campeonato, está Marcello Urgeghe (o amante-senhordoutor-vilãozinho), a jogar claramente nos distritais. A sua interpretação é de tal forma má que nunca percebemos por que razão tudo o que lhe sai da boca parece declamado (vamos acreditar que isto não fez parte do tal espaço de "auto-construção"...) e, pior, vazio de sentido, o que é particularmente grave quando se repetem interminavelmente coisas como "amo-te, "amo-te tanto", "preciso de ti". Além do tom ridiculamente poético com que as diz (parecem banalidades de alguém melancólico que está a pedir um café ao balcão, e que acabou de ler Álvaro de Campos), não tem qualquer presença de espírito num filme em que a sua personagem é (ou devia ser) absolutamente central, e com isto já se vê um dos aspectos por onde o filme falha redondamente (diga-se, já agora, que as cenas de amor do casal não entusiasmam nem um bocadinho). Um autêntico fantasma durante todo o filme, uma não-personagem, um falhanço dos pés à cabeça. Se os diálogos - formalmente falando, porque, na substância, assemelham-se mais a solilóquios - com a sua amante já são o que são, é ainda mais confrangedor assistir às suas conversas com a esposa (uma Beatriz Batarda perfeitamente lateral, sem chama, um adereço simbólico para dizer que existe uma mulher, traída, que sofre).
Agora, a portugalidade.
É notório (não o podia ser mais) o interesse de João Canijo em documentar essa portugalidade século XXI - feia, porca e má - do nosso país e seu património cultural (é o "cultural" que temos). Nada contra isto, muito pelo contrário. A questão está na forma como isso pode ser feito. E Canijo fá-lo no formato mais "telenovesco" possível, o mesmo é dizer, do modo mais fácil, gratuito e imediatista. Será que é preciso bombardear o espectador durante quase três horas com posters do Tony Carreira a piscar o olho ao plano, música pimba, relatos de futebol (Cristiano e companhia) em voz "off" ou personagens com camisolas da selecção nacional vestidas? Não é, e fazê-lo só demonstra uma certa dificuldade em retratar um determinado tema com algo mais para além do superficial e do folhetinesco. Basta pensarmos em Teresa Villaverde ("Mutantes", uma obra que também incide sobre a juventude, a marginalidade e a falta de rumos) ou, para o chamar uma vez mais, João César Monteiro, para encontrar essa mesma portugalidade filmada, mas, desta feita, sem recorrer a estereótipos cristalizados. É que não o fazendo, e isto é fulcral para o entendimento do que aqui vai dito, o que ressalta é uma incomparavelmente maior genuinidade do objecto que se retrata, das suas idiossincrasias, seus tiques e vícios. Esse filme de Teresa Villaverde, ou a famosa triologia de João de Deus, de César Monteiro, captam, na perfeição, o nosso país e o que é "ser português" - ou alguém tem dúvidas? Está tudo lá, mas agora introduzido de forma sóbria, subtil, dando ao espectador menos a "ver" (como faz flagrantemente Canijo, que nos espeta pelos olhos adentro todas as marcas imagéticas da portugalidade) e mais a procurar, a reflectir, a (re)descobrir. O que também acaba por constituir, está bom de ver, um maior campo de liberdade (e de interesse, et por cause) para um espectador que não queira identificar tudo na primeira jogada (claro que só faz sentido falar nisto se estivermos a falar de um realizador-autor como João Canijo; para realizadores que fazem filmes por encomenda, esta questão nem se põe). Mas vou ainda mais longe e arrisco fazer a seguinte pergunta: de tão exacerbado que é o retrato do nosso portuguesismo (o tal bombardeamento de "etiquetas"), não sairá a própria realidade falseada? Eu penso que sim. Tenho quase a certeza que sim. Por circunstâncias várias que não interessam para aqui contar, tive e tenho contacto com muitas pessoas que podiam ser as deste filme, a viver ali, num bairro como aquele. E as coisas não são "tão" assim - a realidade portuguesa, a dos bairros sociais e das vidas que aí se cruzam, não é como João Canijo a descreve, ou, pelo menos, não é tão suja, tão porca e tão má. Isto poderá ser refutado - sim, existirão muitos lugares do país onde a vida é assim ou pior ainda. Mas, bem entendido, e é nesto contexto que digo isto, do que se está aqui a falar é de Cinema, na vertente de ficção. Não é uma reportagem televisiva nem um documentário propriamente dito. E o cinema-ficção, por mais realista que pretenda ser, deve saber tratar o seu objecto com distância e sobriedade, não caíndo na "etiquetização" fácil e agressiva de uma realidade social que é bem mais densa e complexa do que isso (logo à partida, tome-se a título de exemplo, é muito duvidoso que alguém naquela casa, pela sua idade e inserção socio-urbana, goste de Tony Carreira - e goste o suficiente para colocar um poster seu na parede de casa).
Como me disse a companhia com que fui ao cinema, o filme seria muito melhor se fosse mudo. É verdade. Mas concordar com isto não constitui, como pode parecer à primeira vista, qualquer sintoma patológico de aversão à fonética portuguesa cinematográfica - nada disso. O português que é falado nos filmes de tantos outros realizadores portugueses (Teresa Villaverde, César Monteiro, Pedro Costa ou Manoel de Oliveira) é, tanto quanto se saiba, exactamente o mesmo, e o problema não se coloca. O mudo funcionaria melhor tão-só pelas razões que atrás referi: Canijo filma bem, mesmo muito bem, daí que a força visual do filme (cenas de interiores e exteriores, actores, paisagem) resulte maculada pelo fraco desempenho na interpretação, a qual vive também, como é óbvio, da forma com os actores dizem o texto. E no dizer vai grande parte dos traços (psicológicos e físicos, até) da personagem que se interpreta...
Por fim, o argumento.
Atento o interesse primordial que subjaz ao filme de Canijo - o de documentar a tal portugalidade -, ele (argumento) não é, para o bem e para o mal, central na análise que se faça ao filme. Isto é: se o filme fosse uma obra-prima, o argumento, provavelmente, não era ponto de controvérsia; a não ser uma obra prima, o argumento também não releva por aí além, porque o que ressalta é a tal incapacidade (ou desvirtuamento, pelas razões que atrás ficaram expostas) do realizador em captar a realidade sociológica e cultural que pretende. Todavia, sempre se pode dizer, ainda assim, que, despido o filme do resto, o que sobra é uma argumento telenovesco, de trazer na algibeira, e cujo núcleo central (a relação adúltera) se conta em três ou quatro linhas, sem densidade nem nervo. Sim, está bem, há uma certa "surpresa", mas ela tem mais de estapafúrdia do que de excitante (gostava de dizer um pouco mais sobre isto, mas correria o risco de contar tudo, o que não interessa a quem ainda não viu o filme).
Por isto (e por tudo o mais que nos assalta quando estamos numa sala de cinema, mas que se nos escapa da memória teimosamente), é que fiquei tremendamente desiludido depois de ver "Sangue do meu Sangue". Até porque, nesse dia, levei comigo alguém a quem queria fazer crer as virtudes do (bom) cinema português. 1-0, estou a perder.
Antes de tudo e mais alguma coisa, um aviso à navegação: nunca vi outro filme de João Canijo (ignorantia non excusat, bem sei, mas o adágio não me parece relevante para o que vou dizer nas linhas seguintes) e, portanto, não estou a par da sua carreira (a única coisa sua que me chegou foi um comentário, bem interessante por sinal, a um filme do Cassavetes, que vem naqueles "extras" dos dvds).
Agora vamos ao que interessa.
João Canijo filma muitíssimo bem, disso não há dúvida, e só esse facto já é razão para dar graças, tão pouco são os realizadores portugueses assim dotados (mesmo falando, por exemplo, de um João César Monteiro, de quem gosto muitíssimo, não se reconhece nele uma técnica e uma estética deste calibre). Não só naqueles planos "divididos", em que temos duas cenas a decorrer em simultâneo (o que é um estímulo quase "naturalista" à atenção do espectador, porque tantas vezes as coisas se passam assim no nosso quotidiano), mas também na forma pausada, reflexiva, com que deixa as imagens fluírem no plano. Toda a cena inicial, feita de travellings e panorâmicas demoradas (a da última cena lá no alto, antes de passar ao bairro, é fabulosa) e, de um certo modo, "documentaristas", é de uma mestria indubitável. Portanto, quanto a este capítulo, estamos conversados.
Depois vem a questão da representação. Apregoou-se por aí aos sete ventos que estaríamos perante uma interpretação fantabulástica, onde o trabalho de actores de Canijo - à Mike Leigh, segundo dizem: um processo complexo e semi-livre de construção de personagens, que resulta de um diálogo dialéctico realizador-actores, os quais dispõem de um espaço de auto-construção muito amplo, e onde predomina uma grande carga de improvisação - seria por demais evidente. Pois bem, não posso estar mais em desacordo. Rita Blanco é sim ou sopas: ou se gosta muito ou se detesta. Eu nunca gostei particularmente e, muito honestamente, ainda continuo a preferir vê-la na série "Conta-me como foi". De quem gostei, e que para mim foi uma revelação, foi de Anabela Moreira, essa sim, convicente e terrivelmente decadente no respectivo papel. Quanto ao resto, a coisa oscila entre o mediano (Cleia Almeida, Rafael Morais, Nuno Lopes) e o fraco (Francisco Tavares). Fora deste campeonato, está Marcello Urgeghe (o amante-senhordoutor-vilãozinho), a jogar claramente nos distritais. A sua interpretação é de tal forma má que nunca percebemos por que razão tudo o que lhe sai da boca parece declamado (vamos acreditar que isto não fez parte do tal espaço de "auto-construção"...) e, pior, vazio de sentido, o que é particularmente grave quando se repetem interminavelmente coisas como "amo-te, "amo-te tanto", "preciso de ti". Além do tom ridiculamente poético com que as diz (parecem banalidades de alguém melancólico que está a pedir um café ao balcão, e que acabou de ler Álvaro de Campos), não tem qualquer presença de espírito num filme em que a sua personagem é (ou devia ser) absolutamente central, e com isto já se vê um dos aspectos por onde o filme falha redondamente (diga-se, já agora, que as cenas de amor do casal não entusiasmam nem um bocadinho). Um autêntico fantasma durante todo o filme, uma não-personagem, um falhanço dos pés à cabeça. Se os diálogos - formalmente falando, porque, na substância, assemelham-se mais a solilóquios - com a sua amante já são o que são, é ainda mais confrangedor assistir às suas conversas com a esposa (uma Beatriz Batarda perfeitamente lateral, sem chama, um adereço simbólico para dizer que existe uma mulher, traída, que sofre).
Agora, a portugalidade.
É notório (não o podia ser mais) o interesse de João Canijo em documentar essa portugalidade século XXI - feia, porca e má - do nosso país e seu património cultural (é o "cultural" que temos). Nada contra isto, muito pelo contrário. A questão está na forma como isso pode ser feito. E Canijo fá-lo no formato mais "telenovesco" possível, o mesmo é dizer, do modo mais fácil, gratuito e imediatista. Será que é preciso bombardear o espectador durante quase três horas com posters do Tony Carreira a piscar o olho ao plano, música pimba, relatos de futebol (Cristiano e companhia) em voz "off" ou personagens com camisolas da selecção nacional vestidas? Não é, e fazê-lo só demonstra uma certa dificuldade em retratar um determinado tema com algo mais para além do superficial e do folhetinesco. Basta pensarmos em Teresa Villaverde ("Mutantes", uma obra que também incide sobre a juventude, a marginalidade e a falta de rumos) ou, para o chamar uma vez mais, João César Monteiro, para encontrar essa mesma portugalidade filmada, mas, desta feita, sem recorrer a estereótipos cristalizados. É que não o fazendo, e isto é fulcral para o entendimento do que aqui vai dito, o que ressalta é uma incomparavelmente maior genuinidade do objecto que se retrata, das suas idiossincrasias, seus tiques e vícios. Esse filme de Teresa Villaverde, ou a famosa triologia de João de Deus, de César Monteiro, captam, na perfeição, o nosso país e o que é "ser português" - ou alguém tem dúvidas? Está tudo lá, mas agora introduzido de forma sóbria, subtil, dando ao espectador menos a "ver" (como faz flagrantemente Canijo, que nos espeta pelos olhos adentro todas as marcas imagéticas da portugalidade) e mais a procurar, a reflectir, a (re)descobrir. O que também acaba por constituir, está bom de ver, um maior campo de liberdade (e de interesse, et por cause) para um espectador que não queira identificar tudo na primeira jogada (claro que só faz sentido falar nisto se estivermos a falar de um realizador-autor como João Canijo; para realizadores que fazem filmes por encomenda, esta questão nem se põe). Mas vou ainda mais longe e arrisco fazer a seguinte pergunta: de tão exacerbado que é o retrato do nosso portuguesismo (o tal bombardeamento de "etiquetas"), não sairá a própria realidade falseada? Eu penso que sim. Tenho quase a certeza que sim. Por circunstâncias várias que não interessam para aqui contar, tive e tenho contacto com muitas pessoas que podiam ser as deste filme, a viver ali, num bairro como aquele. E as coisas não são "tão" assim - a realidade portuguesa, a dos bairros sociais e das vidas que aí se cruzam, não é como João Canijo a descreve, ou, pelo menos, não é tão suja, tão porca e tão má. Isto poderá ser refutado - sim, existirão muitos lugares do país onde a vida é assim ou pior ainda. Mas, bem entendido, e é nesto contexto que digo isto, do que se está aqui a falar é de Cinema, na vertente de ficção. Não é uma reportagem televisiva nem um documentário propriamente dito. E o cinema-ficção, por mais realista que pretenda ser, deve saber tratar o seu objecto com distância e sobriedade, não caíndo na "etiquetização" fácil e agressiva de uma realidade social que é bem mais densa e complexa do que isso (logo à partida, tome-se a título de exemplo, é muito duvidoso que alguém naquela casa, pela sua idade e inserção socio-urbana, goste de Tony Carreira - e goste o suficiente para colocar um poster seu na parede de casa).
Como me disse a companhia com que fui ao cinema, o filme seria muito melhor se fosse mudo. É verdade. Mas concordar com isto não constitui, como pode parecer à primeira vista, qualquer sintoma patológico de aversão à fonética portuguesa cinematográfica - nada disso. O português que é falado nos filmes de tantos outros realizadores portugueses (Teresa Villaverde, César Monteiro, Pedro Costa ou Manoel de Oliveira) é, tanto quanto se saiba, exactamente o mesmo, e o problema não se coloca. O mudo funcionaria melhor tão-só pelas razões que atrás referi: Canijo filma bem, mesmo muito bem, daí que a força visual do filme (cenas de interiores e exteriores, actores, paisagem) resulte maculada pelo fraco desempenho na interpretação, a qual vive também, como é óbvio, da forma com os actores dizem o texto. E no dizer vai grande parte dos traços (psicológicos e físicos, até) da personagem que se interpreta...
Por fim, o argumento.
Atento o interesse primordial que subjaz ao filme de Canijo - o de documentar a tal portugalidade -, ele (argumento) não é, para o bem e para o mal, central na análise que se faça ao filme. Isto é: se o filme fosse uma obra-prima, o argumento, provavelmente, não era ponto de controvérsia; a não ser uma obra prima, o argumento também não releva por aí além, porque o que ressalta é a tal incapacidade (ou desvirtuamento, pelas razões que atrás ficaram expostas) do realizador em captar a realidade sociológica e cultural que pretende. Todavia, sempre se pode dizer, ainda assim, que, despido o filme do resto, o que sobra é uma argumento telenovesco, de trazer na algibeira, e cujo núcleo central (a relação adúltera) se conta em três ou quatro linhas, sem densidade nem nervo. Sim, está bem, há uma certa "surpresa", mas ela tem mais de estapafúrdia do que de excitante (gostava de dizer um pouco mais sobre isto, mas correria o risco de contar tudo, o que não interessa a quem ainda não viu o filme).
Por isto (e por tudo o mais que nos assalta quando estamos numa sala de cinema, mas que se nos escapa da memória teimosamente), é que fiquei tremendamente desiludido depois de ver "Sangue do meu Sangue". Até porque, nesse dia, levei comigo alguém a quem queria fazer crer as virtudes do (bom) cinema português. 1-0, estou a perder.
até já
Com mais de 30 espectadores, o Cineclube repetiu uma sessão de sucesso com a exibição de "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog, que contou com a prévia apresentação do José Miguel Mesquita.
Atento o feriado previsto para a próxima semana, o Cineclube faz uma mini-pausa e regressa aos vossos corações no dia 8 de Novembro, com "MARY AND MAX" (2009, Adam Elliot).
Até lá! Bons filmes.
sábado, outubro 22, 2011
próxima 3ª (25 Out.): "GRIZZLY MAN"
Design: Luísa Beato
Depois de uma sessão inaugural muitíssimo concorrida, o Cineclube FDUP prossegue a sua programação com "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo registo documental. Uma aposta, pois, a ser creditada pelos nossos espectadores.
É na próxima terça-feira, dia 25, na sala 1.28 (Anfiteatro), às 18h15. A apresentação estará a cargo do José Miguel Mesquita, nosso amigo e ex-director do Cineclube FDUP.
Haverá, ainda, sorteio de um bilhete para uma sessão nos cinemas UCI, aproveita!
Até lá!
Depois de uma sessão inaugural muitíssimo concorrida, o Cineclube FDUP prossegue a sua programação com "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo registo documental. Uma aposta, pois, a ser creditada pelos nossos espectadores.
É na próxima terça-feira, dia 25, na sala 1.28 (Anfiteatro), às 18h15. A apresentação estará a cargo do José Miguel Mesquita, nosso amigo e ex-director do Cineclube FDUP.
Haverá, ainda, sorteio de um bilhete para uma sessão nos cinemas UCI, aproveita!
Até lá!
quinta-feira, outubro 20, 2011
quarta-feira, outubro 19, 2011
reentré
A reentré do Cineclube foi um sucesso, com quase 50 (!) pessoas a assistirem a "Amarcord", de Federico Fellini, e à excelente apresentação introdutória do David Barros.
Mantenham-se ligados aqui, no blog, e no facebook, para estarem a par das sessões seguintes. Para quem quiser receber a newsletter, por favor envie email para cineclubefdup@gmail.com com a palavra "newsletter".
A próxima sessão é já para a semana, terça-feira (25 Out.), às 18h15, com "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog. Agora sim, na sala 1.28.
Até lá!
segunda-feira, outubro 17, 2011
primeira sessão: "AMARCORD", 18 Out, 18h15
Design: Luísa Beato
Tem hoje início a nova programação do Cineclube FDUP!
A primeira sessão contará com a exibição de "AMARCORD", de Federico Fellini. A apresentação estará a cargo de David Pinho Barros, Mestre em Cinema Pela Universidade Nova de Lisboa.
IMPORTANTE: Excepcionalmente, a sessão de amanhã decorrerá na sala 0.01 (piso do bar), e não na habitual 1.28 (como consta do cartaz).
A primeira sessão contará com a exibição de "AMARCORD", de Federico Fellini. A apresentação estará a cargo de David Pinho Barros, Mestre em Cinema Pela Universidade Nova de Lisboa.
IMPORTANTE: Excepcionalmente, a sessão de amanhã decorrerá na sala 0.01 (piso do bar), e não na habitual 1.28 (como consta do cartaz).
Se desejares receber a newsletter do Cineclube, onde daremos conta de todas as sessões com antecedência, envia email para cineclubefdup@gmail.com com a palavra "newsletter"!
domingo, outubro 16, 2011
Programação até Dezembro
Design: Luísa Beato
Aí está a tão aguardada programação do Cineclube FDUP até Dezembro!
Como novidades para este semestre, o Cineclube FDUP aposta, pela primeira na sua história, em dois formatos fora da ficção: por um lado, o registo documental, com a exibição de GRIZZLY MAN, do alemão Werner Herzog; por outro, na Animação, o filme MARY AND MAX promoverá a estreia do género.
Paralelamente, o Cineclube prosseguirá o seu trilho na divulgação de diferentes estéticas e filmografias no campo da ficção. Fá-lo-á, desde logo, com dois realizadores absolutamente fundamentais: Fellini (AMACORD), em Itália, autor entre um tardo-neorealismo e uma subsequente exploração de universos oníricos e surrealistas; e Tarkovsky (O ESPELHO), na Rússia, um poeta das imagens que, como ninguém, construíu um cinema de autognose, contemplativo e esteticamente ímpar. A fechar, será a vez de SUPERFLY, filme-hino ao género "Blaxploitaition" que, nos anos 70, viria a reflectir toda a "fúria de viver" da comunidade negra dos EUA, uma década depois do movimento libertador dos civil rights. E, como cereja em cima do bolo, a banda-sonora: Curtis Mayfield a emprestar a soul toda ao filme de Gordon Parks Jr..
As sessões serão, como habitualmente, às 18h15, na sala 1.28 (em caso de alteração de sala, a mesma será anunciada com antecedência). Em cada sessão, será sorteado um bilhete para uma sessão nos cinemas UCI, aproveita!
Esta terça-feira, dia 18 Out., pelas 18h15, o Cineclube FDUP inaugura a sua programação com AMARCORD (1973), filme icónico de Federico Fellini. A apresentação estará a cargo de David Pinho Barros, Mestre em Cinema pela Universidade de Lisboa.
Até terça, venham e tragam um amigo!
PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
18 Out.
Amarcord (1973), Federico Fellini
25 Out.
Grizzly Man (2005), Werner Herzog
8 Nov.
Mary and Max (2009), Adam Elliot
22 Nov.
O Espelho (1975), Andrey Tarkovsky
6 Dez.
Superfly (1972), Gordon Parks Jr.
sábado, outubro 15, 2011
O Cineclube está de volta!
Como prometido, anunciamos o primeiro filme deste ano lectivo:
Amarcord (1973), de Federico Fellini
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1975, Amarcord (cujo título deriva da expressão italiana "a m'arcord", e significa "eu recordo-me") é tido como o filme mais autobiográfico do realizador italiano, e considerado um dos seus melhores.
Passado na Itália fascista dos anos 30, Amarcord é o retrato de um bairro baseado na cidade-natal de Fellini, Rimini. Aqui, a memória mistura-se com a imaginação, resultando num desfile de momentos burlescos, hilariantes, mas também de grande beleza e sensibilidade. Exemplar do mundo fantástico que deu origem ao adjectivo "felliniano", este é um filme a não perder.
A sessão decorrerá no dia 18 de Outubro, terça-feira, às 18h15, no sala 0.01, e será apresentada por David Barros, Mestre em Cinema pela Universidade Nova de Lisboa.
Os restantes filmes do ciclo serão anunciados amanhã.
Apareçam!
quinta-feira, outubro 13, 2011
hoje: "FAHRENHEIT 451" (21h45), na FAUP
terça-feira, outubro 11, 2011
amanhã: "AFTERSCHOOL" (22h), no Passos Manuel
Depois de ter sido adiada por motivos técnicos, a exibição do filme "Afterschool" (2008), de Antonio Campos, terá lugar amanhã, no Passos Manuel, pelas 22h. Pela mão da Milímetro.
segunda-feira, outubro 10, 2011
Cineclubistas de todo o mundo,
segunda-feira, outubro 03, 2011
amanhã: "PARANOID PARK", no Passos Manuel (22h)
A Milímetro fecha amanhã, dia 4 Out., o ciclo "Back to Skool" com o filme "PARANOID PARK" (2007), de Gus Van Sant.
Às 22h, no cinema Passos Manuel.
sábado, outubro 01, 2011
a última ceia
Viridiana (1961), Luis Buñuel.
Adenda:
É engraçado reparar que quem está ao centro - no original, como é sabido, Jesus Cristo - é, aqui, um dos pedintes, mais precisamente aquele que é... cego. A cegueira como virtude cristã, como modo de fazer justiça (a própria figura contemporânea da Justiça - que remonta à grega Diké - usa, como se sabe, uma venda sobre os olhos) sem olhar a categorias sociais e respectivas posses? Talvez seja uma visão demasiado idílica das coisas, ou não estivéssemos nós a falar de um homem como Buñuel... (o tal que disse: "Graças a Deus, sou ateu")
Adenda da adenda:
Outra proposta: procurando retratar a progressiva degradação da Igreja católica (seus valores e princípios), Buñuel filma os pobres - os esquecidos, os ignorados, os rejeitados, os mal-tratados por uma doutrina conspurcada pela conivência dos seus representantes com o poderio dos mais ricos (nobreza, primeiro; burguesia, depois). E filma-os com duas peculiaridades. Por um lado, com um plano de conjunto, fixo, cujo objecto é decalcado de A Última Ceia (Da Vinci), aspecto extremamente importante por duas razões: logo à partida, por ser um quadro icónico do imaginário cristão; depois, porque se trata da última refeição que Cristo toma com os seus discípulos (entre os quais se encontra Judas - o segundo a contar da direita -, o qual, perdoem-me a memória, não sei neste momento se é o que corresponde ao pedinte que no filme de Buñuel admite já ter traído um amigo, o que merece a reprovação dos restantes), antes de ser preso e crucificado. Também em Viridiana se trata da última refeição - já não a de Cristo (ou a do pedinte cego), mas a última daqueles pobres, pois ao serem surpreendidos com a chegada dos donos da casa, serão inevitalvemente expulsos.
A segunda peculiaridade prende-se com o facto de, sendo os "discípulos" aqui filmados os indigentes, os desgraçados, o cenário - de fausto, abundância, opulência - em que são enquadrados contrasta violentamente (diríamos mesmo: miseravelmente) com a sua condição. Donde a ideia de degradação por que começámos: luxúria (espaço), pobreza (homens), hipocrisia (doutrina cristã). A ideia ou tese de que uma doutrina, uma filosofia (a cristã) se desvirtuou, se enlameou em virtude do "esquecimento" a que os seus pregadores votaram as suas ideias originais ("puras", neste sentido) de amor ao próximo e solidariedade, trocando-as por ambições materialistas, de riqueza e ostentação. Chegados a este estado das coisas, Buñuel põe as coisas no seu lugar (ou de pernas para o ar, conforme a perspectiva...): é aos pobres, e já não aos privilegiados do costume, que cabe uma noite de abundância e de um pantagruélico prazer; e, por isso, é com regozijo (ou, pelo menos, foi para mim...) que assistimos a esta comovente cena: cena em que os pobres, ali reunidos, com todas as suas virtudes e defeitos (os mesmos que existem em todos nós, e esta é uma lição central do filme), se lambuzam com um magnífico banquete, como que ajustando contas com o mundo injusto em que se inserem, tão avesso aos valores cristãos que o regem (ou que regem concretamente aquele lugar, Espanha). Mas, como os pobres são pobres - expressão de um determinismo/fatalismo que Buñuel tanto evidencia neste filme, nomeadamente na cena em que Jorge compra o cão a um viandante -, essa noite é, apesar de tudo, a última. É, portanto, a primeira e a última...
Não serão presos no sentido propriamente dito, como Cristo, mas sim numa acepção metafórica: depois do banquete, descobertos pelos donos da casa, voltarão às ruas, à fome, à miséria - esta a sua prisão. E quem são os donos da casa, aqueles a quem compete manter tudo no sítio (numa certa ordem natural das coisas)? A resposta não podia ser mais óbvia: eles são Jorge (o burguês, filho bastardo de um rico proprietário) e Viridiana (a freira, representante da Igreja católica), ainda que esta última não seja classicamente alguém de dentro da igreja que trai os valores que apregoa, pelo menos no que toca a ambições materiais (já no que diz respeito à carne e à sexualidade, o filme carrega uma tensão - tão cara a Buñuel - que daria aso a um post dedicado exclusivamente a esse tema...).
domingo, setembro 25, 2011
segunda-feira, setembro 19, 2011
Ciclo "BACK TO SKOOL"
Back to Skool é o nome do próximo ciclo da Milímetro, que tem início já esta quarta feira, dia 21, pelas 22h, no Passos Manuel, com o filme Afterschool (2008), de António Campos.
Programa completo:
21 Set
"Afterschool" (2008), António Campos
28 Set
"A Turma" (2008), Laurent Cantet
4 Out
"Paranoid Park" (2007), Gus Van Sant
quinta-feira, setembro 15, 2011
terça-feira, setembro 13, 2011
para ver ou rever
Film Socialisme (2010), de Jean-Luc Godard.
É curioso como hoje em dia, no Porto, a extrema dificuldade que é a de poder ir ao cinema ver um filme de Jean-Luc Godard acabe, inversamente (perversamente...), por tornar o facto num acontecimento, num evento, num verdadeiro happening. É, de facto, paradigmático do estado das coisas das grandes distribuidoras que um filme de um dos maiores realizadores da história do cinema - e um dos grandes responsáveis pela construção (e desconstrução, diga-se ) e sistematização do Cinema como uma linguagem específica -, não mereça qualquer interesse daqueles (praticamente os únicos, no Porto - que perigo, hein?) que programam o que o público pode ver nos seus cinemas. Vicioso (para o público) e viciado, este parece um ciclo sem fim à vista.
Mas passando por cima disto, depois de já termos visto Film Socialisme em Serralves (muito a correr - duas míseras sessões), temos agora a oportunidade de voltar a assistir - é esta quinta-feira, às 22h, no Passos Manuel. Cortesia do Cineclube do Porto.
domingo, setembro 11, 2011
sábado, setembro 10, 2011
Curso de História do Cinema Francês
Curso de Introdução à História do Cinema Francês, na Alliance Française do Porto.
Professor
David Pinho Barros, Mestre em cinema pela Universidade Nova de Lisboa
Duração
20 horas (10 sessões de duas horas, entre Outubro e Dezembro de 2011)
Língua
Português
Objectivos
O curso tem como objectivo proporcionar uma viagem pela História da cinematografia francesa, uma das mais ricas e influentes a nível
mundial, a qual, além de ter introduzido inovações técnicas fundamentais, como a máquina de filmar e projectar dos irmãos Lumière e os
efeitos especiais concebidos por Georges Méliès, viu nascer correntes e cineastas que deixaram legados estéticos de capital importância no
contexto da História da Cultura moderna e contemporânea. Além de visionados e analisados excertos de algumas das obras mais relevantes do
cinema feito em França, serão estudadas e debatidas as circunstâncias sociais, políticas e económicas que determinaram a criação fílmica no
país ao longo do século XX. As obras serão também confrontadas com a produção francesa noutros campos artísticos, da literatura à pintura,
bem como postas em relação com manifestações paralelas noutros contextos geográficos e sociais, como o Japão, a União Soviética, os
Estados Unidos e Portugal.
Conteúdos
1. Dos irmãos Lumière a Fantômas
Louis e Auguste Lumière (La Sortie des Usines Lumière ‐ 1895, L’Arroseur Arrosé ‐ 1895, L’Arrivé d’un Train à la Ciotat ‐ 1896),
Georges Méliès (Le Cauchemar ‐ 1896, L’Homme à la Tête en Caoutchouc ‐ 1901, Le Roi du Maquillage ‐ 1904), Gaston Velle (La Peine
du Talion ‐ 1914) e Louis Feuillade (Fantômas contre Fantômas ‐ 1914)
2. A idade de ouro do mudo e a primeira vanguarda
Jean Epstein (Coeur Fidèle ‐ 1923) e Marcel l’Herbier (L’Argent ‐ 1928)
3. Os provocadores e a segunda vanguarda
Fernand Léger e Dudley Murphy (Ballet Mécanique ‐ 1924), Marcel Duchamp (Anémic Cinema ‐ 1926), Dimitri Kirsanoff
(Ménilmontant ‐ 1926), Man Ray (Emak‐Bakia ‐ 1926), Luis Buñuel (Un Chien Andalou ‐ 1928) e Jean Vigo (À Propos de Nice ‐ 1930)
4. Dos princípios do sonoro ao realismo poético
Jacques Feyder (Le Grand Jeu ‐ 1934), Jean Renoir (Toni ‐ 1934) e Marcel Carné (Le Quai des Brumes ‐ 1938)
5. Os independentes
Jean Cocteau (La Belle et la Bête ‐ 1946), Jean Genet (Un Chant d’Amour ‐ 1950), Jacques Tati (Les Vacances de M. Hulot ‐ 1953) e
Robert Bresson (Pickpocket ‐ 1959)
6. O pós‐guerra
Jean‐Pierre Melville (Le Silence de la Mer ‐ 1949), Henri‐Georges Clouzot (Les Diaboliques ‐ 1955), Roger Vadim (Et Dieu… Créa la
Femme ‐ 1956), Jacques Demy (Les Parapluies de Cherbourg ‐ 1964) e Jean Rouch (Tourou et Bitti ‐ 1967)
7. A Nova Vaga
François Truffaut (Les Quatre Cents Coups ‐ 1959), Jean‐Luc Godard (Pierrot le Fou ‐ 1965) e Claude Chabrol (« La Muette » in Paris vu
par… ‐ 1965)
8. O experimentalismo nos anos 60
Chris Marker (La Jetée ‐ 1962), Alain Resnais (Muriel, ou le Temps d’un Retour ‐ 1963 e Agnès Varda (Le Bonheur ‐ 1965)
9. A palavra
Jacques Doillon (Un Sac de Billes ‐ 1975), Jean‐Paul Rappeneau (Le Sauvage ‐ 1975), Eric Rohmer (Pauline à la Plage ‐ 1983) e Maurice
Pialat (Sous le Soleil de Satan ‐ 1987)
10. Os novíssimos do cinema francês
Bruno Dumont (La Vie de Jésus ‐ 1997), Erick Zonca (La Vie Rêvée des Anges ‐ 1998) e Abdellatif Kechiche (La Graine et le Mulet ‐
2007)
Bibliografia resumida
BRESSON, Robert (1975), Notes sur le Cinématographe, Paris: Folio.
DRAZIN, Charles (2011), French Cinema, Nova Iorque: Faber & Faber.
JEANCOLAS, Jean‐Pierre (1995), Histoire du Cinéma Français, Paris: Armand Colin Cinéma.
PASSEK, Jean‐Loup (Dir.) (1995a), Dictionnaire du Cinéma A‐K, Paris: Larousse.
PASSEK, Jean‐Loup (Dir.) (1995b), Dictionnaire du Cinéma L‐Z, Paris: Larousse.
SADOUL, Georges (1965), Dictionnaire des Cinéastes, Paris: Microcosme / Éditions du Seuil.
TRUFFAUT, François (1987), Le Plaisir des Yeux, Paris: Flammarion.
VINCENDEAU, Ginette & GRAHAM, Peter (Ed.) (2009), The French New Wave: Critical Landmarks, Londres: BFI Publishing
Professor
David Pinho Barros, Mestre em cinema pela Universidade Nova de Lisboa
Duração
20 horas (10 sessões de duas horas, entre Outubro e Dezembro de 2011)
Língua
Português
Objectivos
O curso tem como objectivo proporcionar uma viagem pela História da cinematografia francesa, uma das mais ricas e influentes a nível
mundial, a qual, além de ter introduzido inovações técnicas fundamentais, como a máquina de filmar e projectar dos irmãos Lumière e os
efeitos especiais concebidos por Georges Méliès, viu nascer correntes e cineastas que deixaram legados estéticos de capital importância no
contexto da História da Cultura moderna e contemporânea. Além de visionados e analisados excertos de algumas das obras mais relevantes do
cinema feito em França, serão estudadas e debatidas as circunstâncias sociais, políticas e económicas que determinaram a criação fílmica no
país ao longo do século XX. As obras serão também confrontadas com a produção francesa noutros campos artísticos, da literatura à pintura,
bem como postas em relação com manifestações paralelas noutros contextos geográficos e sociais, como o Japão, a União Soviética, os
Estados Unidos e Portugal.
Conteúdos
1. Dos irmãos Lumière a Fantômas
Louis e Auguste Lumière (La Sortie des Usines Lumière ‐ 1895, L’Arroseur Arrosé ‐ 1895, L’Arrivé d’un Train à la Ciotat ‐ 1896),
Georges Méliès (Le Cauchemar ‐ 1896, L’Homme à la Tête en Caoutchouc ‐ 1901, Le Roi du Maquillage ‐ 1904), Gaston Velle (La Peine
du Talion ‐ 1914) e Louis Feuillade (Fantômas contre Fantômas ‐ 1914)
2. A idade de ouro do mudo e a primeira vanguarda
Jean Epstein (Coeur Fidèle ‐ 1923) e Marcel l’Herbier (L’Argent ‐ 1928)
3. Os provocadores e a segunda vanguarda
Fernand Léger e Dudley Murphy (Ballet Mécanique ‐ 1924), Marcel Duchamp (Anémic Cinema ‐ 1926), Dimitri Kirsanoff
(Ménilmontant ‐ 1926), Man Ray (Emak‐Bakia ‐ 1926), Luis Buñuel (Un Chien Andalou ‐ 1928) e Jean Vigo (À Propos de Nice ‐ 1930)
4. Dos princípios do sonoro ao realismo poético
Jacques Feyder (Le Grand Jeu ‐ 1934), Jean Renoir (Toni ‐ 1934) e Marcel Carné (Le Quai des Brumes ‐ 1938)
5. Os independentes
Jean Cocteau (La Belle et la Bête ‐ 1946), Jean Genet (Un Chant d’Amour ‐ 1950), Jacques Tati (Les Vacances de M. Hulot ‐ 1953) e
Robert Bresson (Pickpocket ‐ 1959)
6. O pós‐guerra
Jean‐Pierre Melville (Le Silence de la Mer ‐ 1949), Henri‐Georges Clouzot (Les Diaboliques ‐ 1955), Roger Vadim (Et Dieu… Créa la
Femme ‐ 1956), Jacques Demy (Les Parapluies de Cherbourg ‐ 1964) e Jean Rouch (Tourou et Bitti ‐ 1967)
7. A Nova Vaga
François Truffaut (Les Quatre Cents Coups ‐ 1959), Jean‐Luc Godard (Pierrot le Fou ‐ 1965) e Claude Chabrol (« La Muette » in Paris vu
par… ‐ 1965)
8. O experimentalismo nos anos 60
Chris Marker (La Jetée ‐ 1962), Alain Resnais (Muriel, ou le Temps d’un Retour ‐ 1963 e Agnès Varda (Le Bonheur ‐ 1965)
9. A palavra
Jacques Doillon (Un Sac de Billes ‐ 1975), Jean‐Paul Rappeneau (Le Sauvage ‐ 1975), Eric Rohmer (Pauline à la Plage ‐ 1983) e Maurice
Pialat (Sous le Soleil de Satan ‐ 1987)
10. Os novíssimos do cinema francês
Bruno Dumont (La Vie de Jésus ‐ 1997), Erick Zonca (La Vie Rêvée des Anges ‐ 1998) e Abdellatif Kechiche (La Graine et le Mulet ‐
2007)
Bibliografia resumida
BRESSON, Robert (1975), Notes sur le Cinématographe, Paris: Folio.
DRAZIN, Charles (2011), French Cinema, Nova Iorque: Faber & Faber.
JEANCOLAS, Jean‐Pierre (1995), Histoire du Cinéma Français, Paris: Armand Colin Cinéma.
PASSEK, Jean‐Loup (Dir.) (1995a), Dictionnaire du Cinéma A‐K, Paris: Larousse.
PASSEK, Jean‐Loup (Dir.) (1995b), Dictionnaire du Cinéma L‐Z, Paris: Larousse.
SADOUL, Georges (1965), Dictionnaire des Cinéastes, Paris: Microcosme / Éditions du Seuil.
TRUFFAUT, François (1987), Le Plaisir des Yeux, Paris: Flammarion.
VINCENDEAU, Ginette & GRAHAM, Peter (Ed.) (2009), The French New Wave: Critical Landmarks, Londres: BFI Publishing
quinta-feira, setembro 08, 2011
segunda-feira, setembro 05, 2011
Setembro, no TCA
A Medeia Filmes promete um programa entusiasmante para a rentrée deste mês de Setembro!
Tem início a partir de amanhã um ciclo dedicado à filmografia de Alain Resnais, um dos autores seminais da Nova Vaga francesa e um dos homens mais importantes da cinematografia contemporânea. Às terças-feiras, pelas 22h, no Teatro Campo Alegre.
Mas a coisa não fica por aqui. Paralelamente, decorrerá um outro ciclo centrado nas mais recentes produções romenas, que tanto furor têm causado entre a crítica, e das quais A Autobiografia de Nicolae Ceausescu (2011, de Andrei Ujica)é o último exemplo. O programa ainda não consta do sítio oficial da Medeia, mas já pode ser consultado no Teatro do Campo Alegre.
PROGRAMA CICLO ALAIN RESNAIS - "CINEMA ET MEMOIRE":
6 Setembro, 22h
HIROSHIMA MEU AMOR
Hiroshima mon amour
de Alain Resnais (1959) M/12
13 Setembro, 22h
O ÚLTIMO ANO EM MARIENBAD
L’Année dernière a Marienbad
de Alain Resnais (1961) M/12
20 Setembro, 22h
MURIEL OU O TEMPO DE UM REGRESSO
Muriel ou le temps d’un retour
de Alain Resnais (1963) M/12
27 Setembro, 22h
A GUERRA ACABOU
La Guerre est finie
de Alain Resnais (1966) M/12
4 Outubro, 22h
STAVISKY…
de Alain Resnais (1974) M/12
11 Outubro, 22h
4 CURTAS DE ALAIN RESNAIS + 1 CURTA EM COLABORAÇÃO COM CHRIS MARKER
GUERNICA (1950) + LES STATUES MEURENT AUSSI (1953) + NUIT ET BRUILLARD (1955) + TOUTE LA MÉMOIRE DU MONDE (1956) + LE CHANT DU STYRÈNE (1958) M/12
Alain Resnais e Jean-Paul Belmondo na rodagem de Stavisky (1974).
Tem início a partir de amanhã um ciclo dedicado à filmografia de Alain Resnais, um dos autores seminais da Nova Vaga francesa e um dos homens mais importantes da cinematografia contemporânea. Às terças-feiras, pelas 22h, no Teatro Campo Alegre.
Mas a coisa não fica por aqui. Paralelamente, decorrerá um outro ciclo centrado nas mais recentes produções romenas, que tanto furor têm causado entre a crítica, e das quais A Autobiografia de Nicolae Ceausescu (2011, de Andrei Ujica)é o último exemplo. O programa ainda não consta do sítio oficial da Medeia, mas já pode ser consultado no Teatro do Campo Alegre.
PROGRAMA CICLO ALAIN RESNAIS - "CINEMA ET MEMOIRE":
6 Setembro, 22h
HIROSHIMA MEU AMOR
Hiroshima mon amour
de Alain Resnais (1959) M/12
13 Setembro, 22h
O ÚLTIMO ANO EM MARIENBAD
L’Année dernière a Marienbad
de Alain Resnais (1961) M/12
20 Setembro, 22h
MURIEL OU O TEMPO DE UM REGRESSO
Muriel ou le temps d’un retour
de Alain Resnais (1963) M/12
27 Setembro, 22h
A GUERRA ACABOU
La Guerre est finie
de Alain Resnais (1966) M/12
4 Outubro, 22h
STAVISKY…
de Alain Resnais (1974) M/12
11 Outubro, 22h
4 CURTAS DE ALAIN RESNAIS + 1 CURTA EM COLABORAÇÃO COM CHRIS MARKER
GUERNICA (1950) + LES STATUES MEURENT AUSSI (1953) + NUIT ET BRUILLARD (1955) + TOUTE LA MÉMOIRE DU MONDE (1956) + LE CHANT DU STYRÈNE (1958) M/12
Alain Resnais e Jean-Paul Belmondo na rodagem de Stavisky (1974).
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