terça-feira, outubro 12, 2010

Crítica: Ghost World (2001)

Crítica: M. Guilherme Silva

Mal sucedido nas salas de cinema, a primeira vez que me propus a ver este filme tentei descobrir o que afinal fizera dele tamanho fenómeno de culto entre a comunidade jovem nos EUA e no restante mundo ocidentalizado.

Apesar de aparentemente nada apelativo ao grande público, esta adaptação para cinema da BD com o mesmo nome de Daniel Clowes (que também escreveu o guião para o filme) teve uma óptima recepção entre a crítica especializada. Os críticos acarinharam o projecto, o público dos festivais indie aplaudiu de pé Terry Zwigof, a Academia nomeou o guião para um Oscar, e pouco depois este tornou-se em mais um estranho caso de bom e aclamado cinema votado ao esquecimento.

Foi com este cenário bem presente que assisti ao filme, e como suspeitava este deixou-me impregnado dos mais variados sentimentos e conclusões. É um bom filme, não haja a dúvida. O guião está magnificamente construído, as actuações dos principais intervenientes é irrepreensível, mas a soturnidade da história e o feitio de algumas personagens tornam-no por vezes de difícil agrado e digestão. Mas o que principalmente me agradou foi a miscelânea colorida de humor que Terry Zwigoff conseguiu captar da BD. Todo o filme é uma bem articulada manta de retalhos, ora tristes e soturnos, ora delirantes e cómicos. As surpresas repetem-se, o humor físico é consagrado acima de todos, e o revivalismo musical dá ao filme todo um ar do melhor snobismo - aquele que mal se nota.

Mas no que à história toca, Ghost World é um relaxado - mas por vezes profundo - retrato da juventude suburbana norte-americana e da busca pelo dúbio American Dream. É também uma viagem de emoções: enquanto que personagens como Doug nos levam aos pícaros da hilaridade, outros como Seymour deixam-nos de rastos quase involuntariamente, e por vezes até envoltos no mais sincero sentimento de desconforto.

No fim, são as gerações e ideais que chocam - pais contra filhos, desportistas contra marrões, a mais social das vidas contra a mais recatada – tudo envolvido na mais sublime das críticas sociais: a menos séria.

Com interpretações de Scarlett Johansson, Thora Birch, Brad Renfro e do surprendente Steve Buscemi, este é uma filme que, acima de tudo, não deveria ter sido esquecido como foi.



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