Juno (2007), de Jason Reitman, não sendo propriamente inspirado ou fora do vulgar, conta a simplicidade de uma adolescente que engravida e que ao invés de fazer um aborto, como milhões de adolescentes fariam, decide dedicar-se a uma causa mais altruísta, optando por dar o bebé para adopção, depois de lhe dizerem que ele teria unhas. E só isto não diz de facto grande coisa, até porque os pais não têm nenhuma crise parental depois de descobrirem e o pai da gravidez indesejada não é nenhum jogador de futebol musculado que troca a rapariga pela loira chefe de claque. É precisamente aqui que reside a diferença do filme para um qualquer candidato a um domingo à tarde mau, sendo mais um candidato de domingo à tarde agradável (talvez por isso ainda não tenha passado em nenhum canal ao domingo à tarde, pelo menos que eu tenha conhecimento), por fugir a uma data de lugares comuns capazes de atrair muita gente ao cinema e de torná-lo num êxito garantido entre adolescentes e já repetido vezes sem conta.
Existem de facto pequenos detalhes que o tornam caricato. Juno ainda usa o telefone em forma de hambúrguer, o pai é o jovem que todos esperavam que fosse virgem pelo menos até aos 30 e não se cria uma cena de indecisão, depois do filho nascer, entre dá-lo ou não, de modo a evitar lágrimas e dramas tão habituais no tipo de situação. Além disso, o pai adoptivo é uma espécie de adolescente preso na pele de um adulto casado com uma mulher de negócios bem sucedida, que encontra em Juno a possibilidade de falar sobre as coisas em que tem interesse, embora a rapariga tenha sempre comentários impertinentes e infantis a fazer. Felizmente também não é um daqueles que transforma a miúda irresponsável numa completamente adulta que fica com um instinto maternal mesmo muito apurado resultado da gravidez e das hormonas por ela libertada. Mais relevante de tudo, é que também não se cria uma tensão entre os dois pais com um a querer dar para adopção e o outro a querer ficar com o bebé.
Em suma, Reitman acerta em cheio no facto de adolescentes serem sempre adolescentes e não alterarem a perspectiva que têm das coisas porque têm um acidente de percurso. O que efectivamente não acontece na maioria dos casos, resultando quase sempre numa caricata aventura que tentar educar uma criança que se decide ter porque existe sempre os que pressionam e dizem que os dois irão mudar. E isto lembra-me tão bem múltiplas situações que se foram repetindo ao longo dos anos na escola que porventura é por isso que o filme acaba por criar uma empatia inevitável. Além de que a barriga de Juno é adorável.
Critica por Daniela Ramalho
sexta-feira, março 05, 2010
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4 comentários:
"E isto lembra-me tão bem múltiplas situações que se foram repetindo ao longo dos anos na escola que porventura é por isso que o filme acaba por criar uma empatia inevitável. Além de que a barriga de Juno é adorável."
Eu sinceramente não acho nada positiva essa empatia, alias acho a um bocado perigosa, no sentido em que nas escolas os alunos seguem o que vêem nos filmes ou series. Quando uma gaja nos morangos engravidou, houve 4 na escola da minha mae que fizeram o mesmo.... e acaba por ser uma vida arruinada, ainda que com apoio dos pais etc...
Portanto digo sem problemas, que ainda que o filme esteja bem concebido não gosto particularmente da "posição da juno face a gravidez".
Por outras razões pessoais tambem não gosto do filme, razões essas que nada têm a ver com o filme, mas com a circunstância em que o vi
Eu estou em crer que as pessoas que vêem os morangos com açúcar não são bem as mesmas que iriam ver juno. Talvez fossem ver o XXX acção radical (se não for este nome perdoem-me) e não o Juno, além de que a "empatia" não é de todo um incentivo à gravidez adolescente, nada disso.
Boa crítica! (e grande filme)
PS - não tinha pensado nisso, mas agora que o dizes...realmente a barriga da Juno é adorável!
Canotilho, se queres mandar criticas estás à vontade.
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