quinta-feira, junho 16, 2011

La Gran Vie



É provável que em 1963 a metáfora da vida como uma roleta russa fosse já cliché. Jacques Demy parece não se importar.

As fichas, os croupiers, os smokings, o casino de Monte Carlo, não falta nada. Ainda assim, a "Baía dos Anjos" está longe de ser um filme glamouroso, mesmo tendo a loiríssima Jeanne Moreau num dos papéis principais.

Pelo contrário, este é o retrato quotidiano de um vício em que a desilusão e o êxtase se alternam perpetuamente, ao sabor do acaso, da sorte, do destino, ou de algo mais (Jacqueline (Jeanne Moreau) perguntava-se a certa altura se não seria Deus quem escolhia os números da roleta).

No entanto, mantém-se a ilusão de que se controla a vontade e o futuro, num misto de ansiedade e insaciedade, até à chegada redentora do amor. Não é tudo isso a vida, afinal? "La gran vie", diria Jacqueline.


P.S. A banda sonora, mais uma vez, é soberba. Desta vez com Michel Legrand, em vez de Beethoven.


2 comentários:

MJ disse...

Eu também fui, mas confesso que à parte alguns pormenores e bons momentos do filme, a certa altura já estava profundamente farta dos swings nas decisões típicos de um "gambler", e de saber que a trama não ia, afinal, ganhar um interesse renovado, como o fim veio comprovar... Soube a pouco :/

Inês Viana disse...

Sim, percebo, também achei exagerada essa parte, mas achei que os pontos interessantes mereciam ser comentados. E gostei imenso do papel dela, principalmente. :)