


e com tudo aquilo que me possa ter passado ao lado, a verdade é que não vejo como a curta-metragem
Arena (que ontem passou na RTP2), do português João Salaviza, possa ter sido o fenómeno que foi em Cannes. A verdade é que também não tenho termo de comparação (das outras curtas que estiveram em Cannes, entenda-se). O filme possui alguns momentos visualmente bonitos, como o plano da "ponte" entre os blocos do bairro e, sobretudo, a fotografia da cena final (passada no topo de um edíficio muio semelhante ao famoso "Siloauto" cá do Porto). Por outro lado, a simbologia do título - a arena que é o bairro social (como verdadeiro statu quo para as pessoas que o habitam); a arena que pode ser a nossa casa, as quatro paredes em que habitamos; a arena que é a vida, em si, de um recém-saído do cárcere; a arena, enfim, que é e sempre foi o dinheiro - põe em evidência as ideias de confronto, de luta, de emancipação e, claro, mais do que qualquer outra, de liberdade. Ideias que depois confluem com um certo determinismo pessimista expresso numa falta de expectativas. O final do filme, parece-me, traduz bem esse "entristecer", essa falta de respostas, de quem filma. Há um grande desalento, um grande "desacreditar" (pessoal, mas também colectivo) na personagem principal quando, no fim do fita, é filmada de costas mirando o horizonte (acima, na fotografia do meio). E isto não deixa de entrar numa irónica contradição com o garrafal "7" que sobressai na imagem, que alude a figuras icónicas do desporto (não só o futebol, mas o desporto em geral - não interessa tanto o número "7" em particular, mas o "número na camisola"), figuras de sucesso planetário e que não raras vezes se emancipam precisamente de realidades sociais problemáticas como a que este bairro retrata.
Todavia, com a excepção desses dois aspectos, confesso que fiquei desiludido.