Há quase quase um ano exactamente atrás, escrevi isto a propósito de Goodfellas (1990, Martin Scorsese). Hoje não escreveria algo substancialmente de muito diferente depois de ver Scarface (1983, Brian De Palma).
Perdoem-me os aficionados (nomeadamente um cá da casa, o Zé) pela desrespeitosa (e quiçá ignorante) discordância; como escreveu Pessoa: "Assim é a vida, mas eu não concordo".
nota solta:
Quando o Cineclube passou Aguirre, der Zorn Gottes, lembro-me de um amigo meu comentar que a cena final - onde Aguirre, sem nada nem ninguém, numa jangada condenada ao naufrágio num rio perdido da Perú, bradava aos céus que era o conquistador da América do Sul - trazia metaforicamente à memória (até pela personalidade de Werzog) os últimos momentos de um Hitler derreado, tentando o tudo por tudo pela manutenção do jugo nazi.
O mesmo me veio agora à memória com Al Pacino, na última cena de Scarface. Um Tony Montana sozinho, deprimido, psicótico e enterrado em coca; cercado por todos os lados, baleado aturadamente, sempre grita "YOU FUCKING MARICONS! YOU THINK YOU CAN TAKE ME? YOU NEED A FUCKING ARMY TO TAKE ME! I'M TONY MONTANA, YOU FUCK WITH ME, YOU FUCK WITH THE BETTER".
Claro, Tony: "The world is yours".
domingo, dezembro 27, 2009
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3 comentários:
Eu gosto de filmes sobre a mafia, mas não falemos da mafia estilo "Gomorra" (nesse adormeci e saí a meio). Gosto da mafia histórica, com raízes sociais, da mafia elegante e com classe (alguma, pelo menos). Obviamente que isso de real não tem nada, mas é uma ideia atraente. Toda a gente acaba por ter uma certa atracção pelo submundo, pelo secretismo de organizações e outras coisas do género. A mafia d'O Padrinho só vem preencher um pouco esse sentimento.
A respeito do Goodfellas e do Scarface, aí é que partilho um pouco a tua opinião. Muitos dizem que são dos melhores filmes de mafia, etc, etc, mas para mim não são grande coisa. Têm excelentes actores, isso sim. Os filmes em si não são nada de especial, há demasiada violência gratuita.
Mas boa análise!
Du,
Sobre "Gomorra", tenho a mesma opinião que tu (tirando a parte do adormecer), embora não se possa dizer, a meu ver, que seja um filme sobre a “máfia” na linha dos referidos “Scarface” e “Goodfellas”. Sobre o “Gomorra”, aliás, deixei aqui no blog um apontamento: http://cineclubefdup.blogspot.com/2008/10/gomorra-ou-cidade-de-deus-italiana.html
Também de acordo contigo no que toca à "demasiada violência gratuita". Acho que se conseguiria retratar o mesmo imaginário (essa “certa atracção pelo submundo” de que falas) com metade dos banhos de sangue.
Uma vez mais em sintonia quando falas da máfia “histórica, com raízes sociais" – já não tanto a "elegante" ou "com classe" pois a linha entre estes dois adjectivos e os seus opostos, no que toca aos mafiosos, é muito ténue, creio... Mas em relação à contextualização histórica que evocas, esse é precisamente o critério que me faz gostar de um “Padrinho” e não de um “Goodfellas” (isso mesmo mencionei, aliás, no post relativo ao segundo).
Para terminar, nova concordância: os actores fazem a diferença, de facto. Neste “Scarface”, além do incontornável Al Pacino (com presença tão poderosa como no “Padrinho”!), gosto particularmente do Steven Bauer (tanto pela interpretação como a personagem em si, tão simpática, do Manny), Harris Yulin e, claro, da Michelle Pfeiffer (não terá o Tarantino construído a personagem de Uma Thurman em “Pulp Fiction” com ela na cabeça?).
Um abraço.
É o werzog, o herner werzog.
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