Começo pela classificação do filme. Vendo a capa do dvd surge rotulado de comédia. Mas que será isso? Uma obra destinada a provocar o riso? Um filme recheado de bom-humor? Um modo de tratar a brincar realidades muito sérias? Afinal, à classificação de comédia subsumem-se realidades muito diversas, às vezes só com um pequeno ponto de união: a pretensão humorística da obra.
Ao reflectir sobre Um peixe fora de água não consigo deixar de pensar no mesmo que me ocorreu aquando do visionamento d’ A Lula e a Baleia, de Noah Baucham, embora com argumento quer deste quer de Wes Anderson, e do The Darjeeling Limited. O humor surge como um mero instrumento ou expediente, não é o fim do filme. Abordam-se a vida e as relações humanas; mas estas têm ironias bastantes a que os realizadores, nos casos das obras referidas, não se furtam a retractar. E se n’A Lula e a Baleia o óculo do realizador não se distancia muito da vida, já nas obras de Wes Anderson o exagero é sempre presente. Exagera-se para se mostrar a realidade tal como ela é. Não é uma comédia. É muito mais do que isso.
N’Um peixe fora de água deparamos com a vida de um documentarista – Steve Zissou (o título em inglês é The life aquatic with Steve Zissou) – em claro ponto baixo da carreira. É uma ideia que subsiste ao longo de, talvez, ¾ do filme. Um homem com bastante sucesso na juventude que, a dada altura cai em desgraça. Do filme ressalta a ideia que tudo se deveu à sua presunção. Cada vez mais hostil perante todos, foi acumulando fracassos atrás de fracassos, tentando convencer-se – ainda que perante ostensivos sinais exteriores de que estava errado – de que seguia no caminho certo. E nessa óptica, a peculiar tripulação do barco de Steve Zissou surge como um grupo de sujeitos sem qualquer valia. No entanto, há um momento do filme em que recordam “aventuras antigas”, em que, ao invés de parecerem um grupo de desafortunados, parecem ser antes um colectivo que faz das suas diferenças um elemento de força.
Toda essa linha narrativa acaba por conduzir a um resultado, de certo modo, inesperado. Steve Zissou acaba a história com um estrondoso sucesso – o documentário da sua última aventura é, contrariamente aos anteriores, bem acolhido – mas com uma humildade incrível. É impressiva a cena em que aguarda à porta da sala do certame de cinema a reacção à sua última obra.
O cerne da narrativa do filme reside aí. Um homem cada vez mais só, mais ridicularizado, mais desrespeitado, caído em desgraça. Um homem com um passado grandioso. E que só se volta a reerguer quando finalmente depara consigo mesmo e percebe que toda a hostilidade a que se vê votado se deve ao seu comportamento.
É pois, normal, que só tenha conseguido Zissou encontrar o peixe maldito no momento em que se reconcilia com o mundo. Parece ser essa altura de reencontro o ponto alto de todo o filme, em que finalmente (!) tudo volta a fazer sentido.
De todo o modo, há que dizer algo sobre a própria estrutura do filme. Creio que Wes Anderson exagera amiúde na música, nos comportamentos, na mensagem. Sentimos estar perante um mundo um tanto ou quanto onírico: temos pseudo-momentos de acção, pseudo-momentos de drama, música muitas vezes desajustada do momento. Neste filme, todos os peixes são irreais, sendo criados por stop-motion. Ficamos sem saber o que se pretende: é isto uma comédia? Uma tragédia? Um drama?
E é precisamente no conjunto de toda essa imperfeição propositada que a obra resulta bem: por ser tão imperfeita, tão exagerada, tão a despropósito, não deixamos de com ela nos identificar e de pensar que, afinal, aquela narrativa é a de um homem que já conhecemos nalgum lado ou, pior, de um homem parecido com aquilo em que nos poderemos tornar.
Creio, até, ser este um filme um pouco exigente: de uma certa dose de descomprometimento com a realidade, de uma predisposição disposto a seguir o modo surpreendente como o realizador conta a história. Vai-nos parecer muitas vezes estúpido, ridículo, anormal. E no fim faz sentido. Não será a vida assim?
Ao reflectir sobre Um peixe fora de água não consigo deixar de pensar no mesmo que me ocorreu aquando do visionamento d’ A Lula e a Baleia, de Noah Baucham, embora com argumento quer deste quer de Wes Anderson, e do The Darjeeling Limited. O humor surge como um mero instrumento ou expediente, não é o fim do filme. Abordam-se a vida e as relações humanas; mas estas têm ironias bastantes a que os realizadores, nos casos das obras referidas, não se furtam a retractar. E se n’A Lula e a Baleia o óculo do realizador não se distancia muito da vida, já nas obras de Wes Anderson o exagero é sempre presente. Exagera-se para se mostrar a realidade tal como ela é. Não é uma comédia. É muito mais do que isso.
N’Um peixe fora de água deparamos com a vida de um documentarista – Steve Zissou (o título em inglês é The life aquatic with Steve Zissou) – em claro ponto baixo da carreira. É uma ideia que subsiste ao longo de, talvez, ¾ do filme. Um homem com bastante sucesso na juventude que, a dada altura cai em desgraça. Do filme ressalta a ideia que tudo se deveu à sua presunção. Cada vez mais hostil perante todos, foi acumulando fracassos atrás de fracassos, tentando convencer-se – ainda que perante ostensivos sinais exteriores de que estava errado – de que seguia no caminho certo. E nessa óptica, a peculiar tripulação do barco de Steve Zissou surge como um grupo de sujeitos sem qualquer valia. No entanto, há um momento do filme em que recordam “aventuras antigas”, em que, ao invés de parecerem um grupo de desafortunados, parecem ser antes um colectivo que faz das suas diferenças um elemento de força.
Toda essa linha narrativa acaba por conduzir a um resultado, de certo modo, inesperado. Steve Zissou acaba a história com um estrondoso sucesso – o documentário da sua última aventura é, contrariamente aos anteriores, bem acolhido – mas com uma humildade incrível. É impressiva a cena em que aguarda à porta da sala do certame de cinema a reacção à sua última obra.
O cerne da narrativa do filme reside aí. Um homem cada vez mais só, mais ridicularizado, mais desrespeitado, caído em desgraça. Um homem com um passado grandioso. E que só se volta a reerguer quando finalmente depara consigo mesmo e percebe que toda a hostilidade a que se vê votado se deve ao seu comportamento.
É pois, normal, que só tenha conseguido Zissou encontrar o peixe maldito no momento em que se reconcilia com o mundo. Parece ser essa altura de reencontro o ponto alto de todo o filme, em que finalmente (!) tudo volta a fazer sentido.
De todo o modo, há que dizer algo sobre a própria estrutura do filme. Creio que Wes Anderson exagera amiúde na música, nos comportamentos, na mensagem. Sentimos estar perante um mundo um tanto ou quanto onírico: temos pseudo-momentos de acção, pseudo-momentos de drama, música muitas vezes desajustada do momento. Neste filme, todos os peixes são irreais, sendo criados por stop-motion. Ficamos sem saber o que se pretende: é isto uma comédia? Uma tragédia? Um drama?
E é precisamente no conjunto de toda essa imperfeição propositada que a obra resulta bem: por ser tão imperfeita, tão exagerada, tão a despropósito, não deixamos de com ela nos identificar e de pensar que, afinal, aquela narrativa é a de um homem que já conhecemos nalgum lado ou, pior, de um homem parecido com aquilo em que nos poderemos tornar.
Creio, até, ser este um filme um pouco exigente: de uma certa dose de descomprometimento com a realidade, de uma predisposição disposto a seguir o modo surpreendente como o realizador conta a história. Vai-nos parecer muitas vezes estúpido, ridículo, anormal. E no fim faz sentido. Não será a vida assim?
4 comentários:
um filme fantastico. no futuro, um classico !
Sim, fantástico mesmo.
Continua a ser o meu filme predilecto do autor. E continua a ser um dos meus filmes filmes predilectos tambem.
è fantastico mesmo.
alguém me pode emprestar? :P eu ando numa de wes anderson... gosto do homem, se calhar é porque tem muita música xD
Sim, emprestem-me e depois eu e a Daniela vemos juntas, estou mesmo curiosa com este filme :)
(a adicionar ao A Melhor Juventude, que está cá em casa à espera também hehe)
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