segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Notas cinematográficas dos últimos tempos

Olá a todos, é verdade que já cá não deixo qualquer coisa há uns tempos, a época de exames não perdoa, mas isso não quer dizer que ande a "negligenciar" esta nossa paixão. De facto, o que se passa é que nestes tempos, em que temos mais tempo livre e a chuva não nos deixa em paz, só apetece ver filmes e mais filmes, o que até calha bem em termos de cinema "fresquinho", porque afinal é esta a golden season...
Mas hoje não vou falar disso, queria antes fazer um pequeno refresh do que de melhor tenho visto, no meu amado sofá, em casa, nas últimas semanas. Não pretendo deixar aqui críticas extensas, nem sobrecarregar o post com imagens dos filmes. Deixo-os apenas na forma de relato pessoal, de sugestão, e com pequenos comentários:

08/12 - Gangs of New York (Martin Scorsese, 2002) - Parece incrível, mas ainda não tinha visto este, e finalmente consegui. Tinha ouvido algumas críticas negativas, e talvez por isso o filme me tenha surpreendido bastante. Soberba reconstituição, a filmagem é impressionante, os momentos de exagero visual e histórico foram, para mim, de puro deleite, e o trabalho de actores é, claro está, magnífico. Injustamente esquecido pelos Oscars (nomeado para 10, não ganhou nenhum, nem mesmo para a fantástica canção dos U2), é um must see.

13/12 – La Stanza dei Figlio (Nanni Moretti, 2001) - Numa primeira de muitas (espera-se) sessões de cinema em minha casa para directores do Cineclube e amigos, decidimo-nos por este filme, que ainda nenhum de nós tinha visto. De início pouco promissor, o filme desenrola-se até se tornar difícil de assistir, difícil não ficar comovido por aquela família, difícil de ficarmos indiferentes perante ele. Não deslumbra, não é brilhante: é cru, verdadeiro. É um processo de regeneração doloroso. Doeu-me, este filme, mas é uma dor que acaba por sarar.

21/12 – Elephant (Gus Van Sant, 2003) - Palma de Ouro em Cannes, também estava para o ver há muito, e não me desiludiu. Voltando a um tema sempre delicado e sempre actual, Gus Van Sant filma com uma originalidade e uma técnica próprias, que a outros sai mal, mas que ele domina com impecável mestria. Muito bem construído, é um jogo cinematográfico de repetições, mas também uma oportunidade de vermos esta história trágica de várias perspectivas, em vez de como é habitual, seguirmos uma viagem pelos olhos da mesma personagem.

25/12 – Out of Africa (Sidney Pollack, 1985) - Finalmente vi este filme, exactamente como andava à espera de o ver, num dia tão especial como o de Natal, e com a minha mãe ao lado. Acho que tudo já deve ter sido dito sobre ele, vencedor de 7 Oscars, não sou eu que vou acrescentar nada, até porque não é fácil descrever o que me ficou depois de o ver. Baseado numa história verdadeira, filmado nas magníficas paisagens do Quénia, com Meryl Streep e Robert Redford, e a genialidade de Pollack, que mais poderíamos pedir? Absolutamente inesquecível.

25/12 - Matrimonio all'Italiana (Vittorio de Sica, 1964) - Retrato fiel de Nápoles, uma cidade destroçada e pobre, sob o signo neo-realista de um Sica já no final da sua carreira e longe do fulgor de Ladri di Biciclette. Ainda assim, é uma comédia refrescante tipicamente italiana, e uma belíssima oportunidade de ver Sophia Loren e Marcello Mastroiani, juntos no seu melhor.

25/12 - Lucky You (Curtis Hanson, 2007) - Se isto fosse aquele jogo do "odd one out", este era definitivamente o estranho, mas às vezes também é preciso aligeirar nos filmes, e depois de dois filmes daqueles no mesmo dia, acho que já não aguentava muito mais. Com argumento de Eric Roth e interpretações muito boas de Eric Bana e Robert Duvall, até eu me estranhei a ver este filme e a descobrir-me a aprender póker (e a gostar!). Excelente para os fãs do jogo, retrata fielmente todas as mãos impensáveis, os turns inesperados e o que tantas vezes está em jogo nos mega-torneios de Poker dos dias de hoje.

26/12 – Cassandra’s Dream (Woody Allen, 2007) - Longe do brilhantismo habitual de Allen, claro, mas depois de Match Point, acho que nada vai melhorar muito mais. História cativante, o argumento é, como sempre, inspirado, e as interpretações de Colin Farrell e Ewan McGregor surpreendem por estarem longe do perfil das personagens que estamos habituados a ver. Tudo vai muito bem, até ao final. O modo como o filme dá uma reviravolta e acaba atingiu-me como uma pancada na cabeça. Se havia alguma mensagem até aí, ela ficou destruída e fez a história tornar-se ridícula e inverosímil simplesmente pelo final. Sensação que fica? Pointless entertainment.

27/12 – Le Scaphandre et le Papillon (Julian Schnabel, 2007) - Nomeado para 4 Oscars e para a Palma de Ouro, foi mais uma daquelas injustiças flagrantes não ter levado as vitórias, embora tenha arrecadado inúmeros outros prémios. Nem sei o que dizer deste filme, acho que não lhe faria grande jus. É inacreditável. Doloroso, sabendo que é uma história verdadeira, mas é uma lição de cinema das melhores dos últimos anos, e uma lição de vida ainda maior. Se não viram, corram a buscá-lo.

28/12 – Caramel (Nadine Labaki, 2007) - É cada vez mais raro ver um bom filme realizado por uma mulher, muito menos se ela for extremamente bonita e também actriz, e ainda menos se for uma libanesa de 34 anos, que realiza e escreve o seu primeiro flme. Só por isso valia a pena ver, mas agora acrescentem uma história à volta de várias mulheres e de um salão de cabeleireiro onde a depilação é feita com caramelo, e das suas vidas normais na Beirute de hoje. Um retrato fidegigno e impressionante.

30/12 – Youth Without Youth (Francis Ford Coppola, 2007) - É o "oh meu Deus, como foi possível?" do ano de 2007, ou melhor dos últimos anos, para não dizer de sempre porque aí não estava a fazer jus à banhada chamada "The Inner Life of Martin Frost". Ainda hoje não compreendi o que se passou com F.F.Coppola para fazer um filme destes (ou então sou eu que percebo zero de cinema, o que também é uma hipótese). Não lhe vou chamar uma desilusão, porque estaria a ser eufemística. Peguem em "muito mau" e multipliquem por 1000. Pronto.

06/01 – Irréversible (Gaspar Noé, 2002) - Bem, àquelas pessoas que só aguentaram os 10 primeiros minutos de filme antes de sair da sala ou desligar a televisão, só tenho uma coisa a dizer: fizeram mal. De início insuportável, este filme, na sua brilhante mecânica de retroceder no tempo dos acontecimentos, é bom, muito muito bom. Bellucci e Vincent Cassel estão fantásticos, a atmosfera, de início tão pesada, torna-se cada vez mais leve, e o filme revela-se em toda a sua genialidade. O extremo do instinto humano, o retrato da beleza destruída.

17/01 – Casablanca (Michael Curtiz, 1942) - Já tinha saudades de o rever, e uma edição especial lindíssima que comprei há pouco tempo foi a oportunidade perfeita. Sério candidato a filme preferido, se eu conseguisse escolher só um. Eu que nunca me considerei uma romântica, acho que este filme não joga a meu favor nisso. Não é uma história de amor, é a história de amor. Não é uma canção, é As Time Goes By tocada pelo Sam. Não é uma cidade qualquer, é Casablanca e o Rick's Café, onde jantei em pequena, com uma família que há muito tempo não tenho e de que cada vez menos me vou lembrando. Se alguma vez se tornar menos claro o porquê de ser o Cinema uma das minhas razões para viver, é só ir buscar Bogart e Bergman à prateleira. E para uma certa pessoa que aparece e desaparece, "We'll always have Paris".

25/01 – Citizen Kane (Orson Welles, 1941) + RKO 281 (Benjamin Ross, 1999) - Sobre esta obra-prima também não resta muito a dizer, é puro génio de um Welles tão jovem e inexperiente, um filme imperdível. Recomendo vê-lo com a espécie de biografia da sua feitura, RKO 281, produzido para televisão, de excelente qualidade e que nos dá uma nova perspectiva sobre Citizen Kane e sobre os próprios Welles e Mankiewicz.

31/01 – Scent of a Woman (Martin Brest, 1992) - Duvido que haja muita gente que não tenha visto este, mas se não viram, recomendo vivamente. O filme é Al Pacino (obviamente oscarizado nesse ano), a história é só um complemento, mas ainda por cima é boa, bem como o resto do elenco (nota para Chris O'Donnell e um jovem Philip Seymour Hoffman). A razão porque gosto tanto dele são provavelmente as minhas duas cenas preferidas - a do Ferrari, e o inesquecível tango Por Una Cabeza, de Carlos Gardel.


Depois deste rol de sugestões para compensar a minha ausência, fica prometido um post sobre os Óscares que se aproximam, com a minha opinião e as minhas apostas sobre todos os filmes nomeados que conseguir ver até à data (já lá vão 5...)!

2 comentários:

pedro leitão disse...

Uma temporada em cheio! ;)

MJ disse...

Espero a tua companhia, Fantas is coming to town hehe :p beijinho