A revista da Escola das Artes de Som e Imagem (EASI) da Universidade Católica vai ter uma apresentação pública. A revista é muito interessante para quem gosta de cinema, fotografia e afins.
A apresentação pública da EASI, revista anual da Escola das Artes | Som e Imagem, será no próximo dia 5 de Março, pelas 21h45, no Passos Manuel.
A sessão incluirá uma conversa com Álvaro Domingues e António Olaio – dois dos autores que contribuíram com artigos para a revista – que será moderada por Laura Castro que fará também a apresentação da publicação.
http://www.easi-blog.blogspot.com/
sábado, fevereiro 28, 2009
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Bom Cinema em Braga
Caros amigos, venho já um pouco tardiamente apresentar o ciclo de cinema "Os Filmes Chave", que começou no passado dia 5 de Fevereiro e estender-se-á até finais de Maio, no bar Alla Scala, em Braga. A (excelente) programação esteve a cargo na nossa querida cineclubista Sofia Lemos, que se mudou para os ares de Braga mas mesmo assim não deixou de espalhar e paixão pela sétima arte, e deste modo contribuir certamente para o enriquecimento do panorama cultural naquela cidade, que, a nível do cinema, vinha sendo fraco.
Parabéns Sofia, estamos orgulhosos!
Parabéns Sofia, estamos orgulhosos!
sábado, fevereiro 14, 2009
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
Bill Murray x 2
Broken Flowers (2005) - Jim Jarmusch
Royal Tenenbaums (2001) - Wes Anderson
Dois filmes com temáticas algo convergentes, mas ainda assim muito distintos.
p.s.: Sugere-se o visionamento das obras pela ordem apresentada, de modo a evitar possiveis depressões ou noites de sono atribulado.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
terça-feira, fevereiro 10, 2009
o sabor
O Sabor do Cinema em Serralves volta mais uma vez. Para além da forte (e louvada) aposta em cinema português jovem, destaque para o Pale Face de Buster Keaton e Os Contos da Lua Vaga de Mizoguchi. Este último fez, aliás, parte do nosso programa do semestre académico que passou. Pessoalmente, não foi dos filmes que mais me cativou.
Quanto à cena portuguesa, confesso que nada tenho a dizer porque não conheço nenhuma das películas nem nenhum dos realizadores. Rumo ao desconhecido, portanto!
Aqui fica:
CICLO DE CINEMA
O SABOR DO CINEMA
MOMENTO XV
15 FEV - 05 ABR 2009
AUDITÓRIO DE SERRALVES
Num tempo em que os defensores do cinema destinado (?) ao «grande público» parecem apostados em conspirar contra as frágeis estruturas de apoio à criação de objectos considerados inviáveis do ponto de vista comercial, alguns jovens e menos jovens cineastas persistem em realizar filmes habitados pela dúvida, pela interrogação, pela indignação, pelo espanto.
Além de dar a ver e conversar filmes de referência de vários géneros, bem como obras recentes de reconhecido mérito, este MOMENTO XV do ciclo O SABOR DO CINEMA propõe uma pequena incursão no panorama da produção portuguesa à margem dos ditames da bilheteira, cuja importância haverá, assim o esperamos, de ser crescentemente conhecida e reconhecida. Porque, como sugeria Godard, o trabalho do espectador é, também, confrontar ideias vagas com imagens claras.
Programa
15 FEV
PALE FACE, Buster Keaton, 1922, EUA, 20', M/6
A NIGHT AT THE OPERA, Sam Wood / Marx Brothers, 1935, EUA, 96', M/6
08 MAR
QUINTA DA CURRALEIRA, Tiago Hespanha, 2006, Portugal, 19', M/12
NACIONAL 206, Catarina Alves Costa, 2008, Portugal, 53', M/12
22 MAR
MÃE HÁ SÓ UMA, João Canijo, 2008, Portugal, 20', M/12
HISTOIRE D'UN SECRET, Mariana Otero, França, 2003, 91', M/12
29 MAR
CEREJAS AO BORRALHO, Tiago Afonso, 2006, Portugal, 10', M/12
COMÉDIA INFANTIL, Solveig Nordlund, 1997, 92', Portugal / Suécia / Moçambique, M/12
05 ABR
CORRENTE, Rodrigo Areias, 2008, Portugal, 15'45'', M/12
OS CONTOS DA LUA VAGA, Kenzi Mizoguchi, 1953, Japão, 94', M/12
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
Hell's Angels
Decidi que apesar de só restarem 5 dias de estudo, quero ter boa nota a finanças. Como tal deixarei temporariamente o cinema, deixando aqui uma sugestão a quem gosta de filmes sobre a guerra. Este foi o ultimo que sakei e ainda não tive a oportunidade de ver. Talvez hoje a noite como despedida.
Allmovie:
No one was surprised in 1929 that aviation mogul Howard R. Hughes would produce a paean to World War I flying aces like Hell's Angels. Given Hughes' comparative inexperience as a moviemaker, however, everyone was taken slightly aback that the finished film was as good as it was. The very American Ben Lyon and James Hall play (respectively) Monte and Roy Rutledge, a couple of British brothers who drop out of Oxford to join the British Royal Flying Corps. Several early scenes establish Lyon and Hall's romantic rivalry over two-timing socialite Helen (Jean Harlow). While flying a dangerous bombing mission over Germany, the brothers are shot down. The commandant (Lucien Prival), who'd earlier been cuckolded by one of the brothers, savors his opportunity for revenge. He offers the boys their freedom if they'll reveal the time of the next British attack; if they don't cooperate, they face unspeakable consequences. Roy, driven mad by his combat experiences, is about to tell all when he is shot and killed by Monte. The latter is himself condemned to a firing squad by the disgruntled commandant — who, it is implied, will soon meet his own doom at the hands of the British bombers. Nobody really cares about this hoary old plot, however; Hell's Angels culls most of its strength from its crackerjack aerial sequences. The highlight is a Zeppelin raid over London, one of the most hauntingly effective sequences ever put on film. From the first ghost-like appearance of the Zeppelin breaking through the clouds, to the self-sacrificing behavior of the German crew members as they jump to their deaths rather than provide "excess weight," this is a scene that lingers in the memory far longer than all that good-of-the-service nonsense in the finale. Also worth noting is the star-making appearance of Jean Harlow. When Hell's Angels was begun as a silent film, Norwegian actress Greta Nissen played the female lead. During the switchover to sound, producer Hughes decided that her accent was at odds with her characterization, so he reshot her scenes with his latest discovery, Harlow. While she appears awkward in some of her scenes, there's no clumsiness whatsoever in her delivery of the classic line about slipping into "something more comfortable." Originally, Marshall Neilan was signed to direct the film, but became so rattled by Howard Hughes' interference that he handed the reins to Hughes himself, who was in turn given an uncredited assist by Luther Reed. Also ignored in the film's credits are the dialogue contributions by future Frankenstein director James Whale, who'd been hired as the film's English-dialect coach. Modern audiences expecting a musty museum piece are generally surprised by Hell's Angels' high entertainment content: they are also startled by the pre-code frankness of the dialogue, with phrases like "The hell with you" bandied about with reckless abandon. In recent years, archivists have restored the film's two-color Technicolor sequence, providing us with our only color glimpses of the radiant Jean Harlow.
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
The Darjeeling Limited
Crítica de Daniela Ramalho
Há uns tempos atrás, numa das sessões do Cineclube, tive a possibilidade de ver pela primeira vez um filme de Wes Anderson. Na altura, nunca tinha ouvido falar do realizador nem de nenhum dos seus filmes. Lembro-me que gostei do filme então exibido, Rushmore, e que fiquei curiosa pelo tipo de humor subtil e essencialmente pela forma como a banda-sonora se encaixava nas cenas, quase como se cada uma das canções tivesse sido feita para cada cena específica. A curiosidade fez-me ver quase logo de seguida The Royal Tenenbaums, mas embora seja um filme agradável, não é um filme que me tenha deixado com vontade de o voltar a ver de novo com amigos. Aconselhada pelo Guilherme, acabei a minha noite a ver The Darjeeling Limited, que me leva a arriscar escrever algumas palavras sobre o filme, neste espaço.
The Darjeeling Limited (Wes Anderson, 2007) é o nome do comboio que leva três irmãos numa espécie de intra rail por terras indianas e que acaba por ser o espaço onde se desenrola grande parte da acção.
Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman), são três irmãos que já não se viam há cerca de um ano (a meio do filme acabámos por perceber porquê) e que por convite de Francis, embarcam numa viagem pela Índia que tem por objectivo o encontro espiritual de cada um consigo mesmo e com os outros. Mas cedo se percebe que a diferença de temperamento entre os irmãos vai tornar os objectivos da viagem quase impossíveis de atingir. Francis é o típico irmão mais velho, sempre a tentar tomar o comando da situação, decidindo pelos outros e tentando mostrar que sabe sempre mais do que os irmãos. Peter, por seu turno move-se sempre sem um único sorriso, o mesmo tom de voz, marcando-se por um quase snobismo e com o terrível feitio de se apropriar de tudo o que é dos outros. Jack, é dos três o que menos se marca de início no filme, mas distingue-se por traços de ingenuidade, tendo um feitio entre o submisso e o distante da realidade que o rodeia (talvez por isso seja escritor) e de certa forma obsessivo. Embora de início todos prometam tentar restaurar a confiança um nos outros, a verdade é que todos vão contanto segredos uns aos outros que acabam por não conseguir esconder do terceiro. Os três, embora adultos, acabam por ter algo de demasiado infantil que os une, algo que parece que os continua a prender a uma espécie de adolescência de aventuras e confrontos entre irmãos que nunca conseguiram no fundo ultrapassar a vontade de estarem juntos, mas que não o conseguem pois são demasiado diferentes entre si (e nesta parte do filme já me convencia que definitivamente era bom ter irmãos). Claramente Francis e Peter não conseguem de início dividir o mesmo espaço, pois estão em constante confronto, grande parte devido á forma como Francis tentar controlar todas as situações.
Se há algo que nos faz logo prender atenção no filme, é a cena inicial: Peter corre para o comboio em câmara lenta embalado por uma canção simples, mas cuja letra contém de certa forma aquilo que mais tarde se pode retirar do filme. É aliás nesta cena, que entra uma personagem (Bill Murray), que por iniciar o filme, se presume que seja das principais, mas que afinal, acaba apenas por aparecer noutro momento chave. Vi várias vezes seguidas esta cena, porque tem algo de extremamente belo e que acaba por ligar a ideia da partida do comboio à ideia de que nunca sabemos muito bem qual o destino final de todos os comboios que vamos apanhando. Quase perto do fim, há outra cena absolutamente sublime, em que a música volta a estar perfeitamente enquadrada e que transforma totalmente o ambiente e o modo como se captam as ideias que as imagens pretendem transmitir.
Mas avançando na história, Francis pretende que a sua viagem se marque por vários pontos e programas, um para cada dia, que devem completar um processo que no fim os vai acabar por unir. Mas a diferença entre a materialidade do ocidente e a espiritualidade do oriente acaba por ser difícil de ultrapassar: na primeira paragem num templo, os irmãos separam-se e dividem-se pelas várias barracas que vendem vários produtos, gastando dinheiro numa série de coisas sem utilidade (como por exemplo a cobra venenosa que levam para dentro do comboio), acabando apenas no final por entrar no templo, mas sem nunca conseguirem concentrar-se no seu objectivo. Enquanto tentam rezar, continuam a perder-se em discussões e em segredos, que afinal nunca conseguem ficar secretos por muito tempo. Aliás, o próprio verdadeiro objectivo da viagem acaba por sair da boca de Francis quase a meio da viagem.
Mas são curiosamente os objectos que eles compram na primeira paragem num templo, que acabam por desencadear as acções seguintes, que culminam com os três a serem abandonados numa paragem não se sabem bem no meio de onde, em plena noite, apenas com as malas e o pequeno rádio mp3 que Jack liga sempre nos momentos certos. Sem dúvida que é hilariante a situação em que o comboio se perde, o que leva a um diálogo absolutamente hilariante entre os três e o guia que Francis tinha contratado para a viagem. (Existem várias cenas em que é impossível não soltar uma gargalhada, pois as personagens de Wes Anderson têm sempre algo de tão simples, mas absurdo ao mesmo tempo) È aqui, quando eles são abandonados totalmente sozinhos, que se começa a perceber que afinal, nem tudo na viagem está perdido e que talvez eles consigam tirar proveito de algum do tempo que ainda lhes sobra. O resto terão de descobrir ao ver o filme.
A verdade é que ao longo do filme, vamos notando que há algo que muda nos três irmãos, a convivência entre eles já não é tão insuportável e ambos começam a ter momentos mais introspectivos (e aqui surge de novo a música, quase como que um paralelo de estados de espírito), talvez porque se encontram a partir de certo instante absolutamente sozinhos consigo mesmos. Eles caminham, mas não sabem muito bem para onde e é num acontecimento alheio que os três encontram o elo que lhes falta. É no meio de desconhecidos, entre as dificuldades de comunicação, que os três se unem no silêncio, que começam a entender o porquê de necessitarmos de conviver com certas pessoas, mesmo que normalmente seja impossível dizer-lhes em palavras que afinal até gostámos delas.
Existe uma frase no filme que resume todas as ideias “maybe we could express ourselves more fully, if we say it without words”, Wes Anderson encontrou na música a forma de o fazer. De ligar todas as personagens, mesmo aquelas que pareciam não ter papel nenhum na história (Bill Murray, por exemplo), e de nos deixar com uma ideia daquilo que ficou atrás e daquilo que vem à frente.
Se é verdade que a primeira cena em que Peter tenta apanhar o comboio é para mim uma das mais bonitas do filme, a última vez que eles apanham o comboio (mais uma vez em slow motion, mais uma vez com uma música que encaixa perfeitamente), é aquela que resume o filme, ou pelo menos a mensagem que eu consegui retirar de todo o filme: quando nos queremos encontrar a nós mesmos e aos outros, temos de nos libertar de tudo aquilo que nos prende ao mundo terrestre, só quando as coisas deixam de nos ser essenciais, é que percebemos que a essência das coisas reside nos laços que se criam com as pessoas. Existe algo de diferente nas personagens no início e no fim do filme. Pessoalmente, acho que eles conseguiram alcançar o objectivo de viagem, mas nunca da forma que tinham planeado, afinal, é nos imprevisíveis, nos improváveis e nas situações extremas que encontramos a força para nos unir a quem nos faz falta. Quando decidimos que vamos deixar as malas pelo caminho, com todas as nossas coisas dentro, para conseguirmos entrar na próxima viagem, é que conseguimos ser totalmente livres.
Destacava por último, sem dúvida, as paisagens da índia, que se perdem entre desertos, entre aldeias, entre montanhas e num pôr-do-sol cortado pelo toque dos sinos que é efectivamente bem filmado. E claro, sem esquecer, a música do genérico, impossível de não cantar (ou pelo menos não tentar) o refrão.
The Darjeeling Limited (Wes Anderson, 2007) é o nome do comboio que leva três irmãos numa espécie de intra rail por terras indianas e que acaba por ser o espaço onde se desenrola grande parte da acção.
Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman), são três irmãos que já não se viam há cerca de um ano (a meio do filme acabámos por perceber porquê) e que por convite de Francis, embarcam numa viagem pela Índia que tem por objectivo o encontro espiritual de cada um consigo mesmo e com os outros. Mas cedo se percebe que a diferença de temperamento entre os irmãos vai tornar os objectivos da viagem quase impossíveis de atingir. Francis é o típico irmão mais velho, sempre a tentar tomar o comando da situação, decidindo pelos outros e tentando mostrar que sabe sempre mais do que os irmãos. Peter, por seu turno move-se sempre sem um único sorriso, o mesmo tom de voz, marcando-se por um quase snobismo e com o terrível feitio de se apropriar de tudo o que é dos outros. Jack, é dos três o que menos se marca de início no filme, mas distingue-se por traços de ingenuidade, tendo um feitio entre o submisso e o distante da realidade que o rodeia (talvez por isso seja escritor) e de certa forma obsessivo. Embora de início todos prometam tentar restaurar a confiança um nos outros, a verdade é que todos vão contanto segredos uns aos outros que acabam por não conseguir esconder do terceiro. Os três, embora adultos, acabam por ter algo de demasiado infantil que os une, algo que parece que os continua a prender a uma espécie de adolescência de aventuras e confrontos entre irmãos que nunca conseguiram no fundo ultrapassar a vontade de estarem juntos, mas que não o conseguem pois são demasiado diferentes entre si (e nesta parte do filme já me convencia que definitivamente era bom ter irmãos). Claramente Francis e Peter não conseguem de início dividir o mesmo espaço, pois estão em constante confronto, grande parte devido á forma como Francis tentar controlar todas as situações.
Se há algo que nos faz logo prender atenção no filme, é a cena inicial: Peter corre para o comboio em câmara lenta embalado por uma canção simples, mas cuja letra contém de certa forma aquilo que mais tarde se pode retirar do filme. É aliás nesta cena, que entra uma personagem (Bill Murray), que por iniciar o filme, se presume que seja das principais, mas que afinal, acaba apenas por aparecer noutro momento chave. Vi várias vezes seguidas esta cena, porque tem algo de extremamente belo e que acaba por ligar a ideia da partida do comboio à ideia de que nunca sabemos muito bem qual o destino final de todos os comboios que vamos apanhando. Quase perto do fim, há outra cena absolutamente sublime, em que a música volta a estar perfeitamente enquadrada e que transforma totalmente o ambiente e o modo como se captam as ideias que as imagens pretendem transmitir.
Mas avançando na história, Francis pretende que a sua viagem se marque por vários pontos e programas, um para cada dia, que devem completar um processo que no fim os vai acabar por unir. Mas a diferença entre a materialidade do ocidente e a espiritualidade do oriente acaba por ser difícil de ultrapassar: na primeira paragem num templo, os irmãos separam-se e dividem-se pelas várias barracas que vendem vários produtos, gastando dinheiro numa série de coisas sem utilidade (como por exemplo a cobra venenosa que levam para dentro do comboio), acabando apenas no final por entrar no templo, mas sem nunca conseguirem concentrar-se no seu objectivo. Enquanto tentam rezar, continuam a perder-se em discussões e em segredos, que afinal nunca conseguem ficar secretos por muito tempo. Aliás, o próprio verdadeiro objectivo da viagem acaba por sair da boca de Francis quase a meio da viagem.
Mas são curiosamente os objectos que eles compram na primeira paragem num templo, que acabam por desencadear as acções seguintes, que culminam com os três a serem abandonados numa paragem não se sabem bem no meio de onde, em plena noite, apenas com as malas e o pequeno rádio mp3 que Jack liga sempre nos momentos certos. Sem dúvida que é hilariante a situação em que o comboio se perde, o que leva a um diálogo absolutamente hilariante entre os três e o guia que Francis tinha contratado para a viagem. (Existem várias cenas em que é impossível não soltar uma gargalhada, pois as personagens de Wes Anderson têm sempre algo de tão simples, mas absurdo ao mesmo tempo) È aqui, quando eles são abandonados totalmente sozinhos, que se começa a perceber que afinal, nem tudo na viagem está perdido e que talvez eles consigam tirar proveito de algum do tempo que ainda lhes sobra. O resto terão de descobrir ao ver o filme.
A verdade é que ao longo do filme, vamos notando que há algo que muda nos três irmãos, a convivência entre eles já não é tão insuportável e ambos começam a ter momentos mais introspectivos (e aqui surge de novo a música, quase como que um paralelo de estados de espírito), talvez porque se encontram a partir de certo instante absolutamente sozinhos consigo mesmos. Eles caminham, mas não sabem muito bem para onde e é num acontecimento alheio que os três encontram o elo que lhes falta. É no meio de desconhecidos, entre as dificuldades de comunicação, que os três se unem no silêncio, que começam a entender o porquê de necessitarmos de conviver com certas pessoas, mesmo que normalmente seja impossível dizer-lhes em palavras que afinal até gostámos delas.
Existe uma frase no filme que resume todas as ideias “maybe we could express ourselves more fully, if we say it without words”, Wes Anderson encontrou na música a forma de o fazer. De ligar todas as personagens, mesmo aquelas que pareciam não ter papel nenhum na história (Bill Murray, por exemplo), e de nos deixar com uma ideia daquilo que ficou atrás e daquilo que vem à frente.
Se é verdade que a primeira cena em que Peter tenta apanhar o comboio é para mim uma das mais bonitas do filme, a última vez que eles apanham o comboio (mais uma vez em slow motion, mais uma vez com uma música que encaixa perfeitamente), é aquela que resume o filme, ou pelo menos a mensagem que eu consegui retirar de todo o filme: quando nos queremos encontrar a nós mesmos e aos outros, temos de nos libertar de tudo aquilo que nos prende ao mundo terrestre, só quando as coisas deixam de nos ser essenciais, é que percebemos que a essência das coisas reside nos laços que se criam com as pessoas. Existe algo de diferente nas personagens no início e no fim do filme. Pessoalmente, acho que eles conseguiram alcançar o objectivo de viagem, mas nunca da forma que tinham planeado, afinal, é nos imprevisíveis, nos improváveis e nas situações extremas que encontramos a força para nos unir a quem nos faz falta. Quando decidimos que vamos deixar as malas pelo caminho, com todas as nossas coisas dentro, para conseguirmos entrar na próxima viagem, é que conseguimos ser totalmente livres.
Destacava por último, sem dúvida, as paisagens da índia, que se perdem entre desertos, entre aldeias, entre montanhas e num pôr-do-sol cortado pelo toque dos sinos que é efectivamente bem filmado. E claro, sem esquecer, a música do genérico, impossível de não cantar (ou pelo menos não tentar) o refrão.
Um peixe fora de água
Começo pela classificação do filme. Vendo a capa do dvd surge rotulado de comédia. Mas que será isso? Uma obra destinada a provocar o riso? Um filme recheado de bom-humor? Um modo de tratar a brincar realidades muito sérias? Afinal, à classificação de comédia subsumem-se realidades muito diversas, às vezes só com um pequeno ponto de união: a pretensão humorística da obra.
Ao reflectir sobre Um peixe fora de água não consigo deixar de pensar no mesmo que me ocorreu aquando do visionamento d’ A Lula e a Baleia, de Noah Baucham, embora com argumento quer deste quer de Wes Anderson, e do The Darjeeling Limited. O humor surge como um mero instrumento ou expediente, não é o fim do filme. Abordam-se a vida e as relações humanas; mas estas têm ironias bastantes a que os realizadores, nos casos das obras referidas, não se furtam a retractar. E se n’A Lula e a Baleia o óculo do realizador não se distancia muito da vida, já nas obras de Wes Anderson o exagero é sempre presente. Exagera-se para se mostrar a realidade tal como ela é. Não é uma comédia. É muito mais do que isso.
N’Um peixe fora de água deparamos com a vida de um documentarista – Steve Zissou (o título em inglês é The life aquatic with Steve Zissou) – em claro ponto baixo da carreira. É uma ideia que subsiste ao longo de, talvez, ¾ do filme. Um homem com bastante sucesso na juventude que, a dada altura cai em desgraça. Do filme ressalta a ideia que tudo se deveu à sua presunção. Cada vez mais hostil perante todos, foi acumulando fracassos atrás de fracassos, tentando convencer-se – ainda que perante ostensivos sinais exteriores de que estava errado – de que seguia no caminho certo. E nessa óptica, a peculiar tripulação do barco de Steve Zissou surge como um grupo de sujeitos sem qualquer valia. No entanto, há um momento do filme em que recordam “aventuras antigas”, em que, ao invés de parecerem um grupo de desafortunados, parecem ser antes um colectivo que faz das suas diferenças um elemento de força.
Toda essa linha narrativa acaba por conduzir a um resultado, de certo modo, inesperado. Steve Zissou acaba a história com um estrondoso sucesso – o documentário da sua última aventura é, contrariamente aos anteriores, bem acolhido – mas com uma humildade incrível. É impressiva a cena em que aguarda à porta da sala do certame de cinema a reacção à sua última obra.
O cerne da narrativa do filme reside aí. Um homem cada vez mais só, mais ridicularizado, mais desrespeitado, caído em desgraça. Um homem com um passado grandioso. E que só se volta a reerguer quando finalmente depara consigo mesmo e percebe que toda a hostilidade a que se vê votado se deve ao seu comportamento.
É pois, normal, que só tenha conseguido Zissou encontrar o peixe maldito no momento em que se reconcilia com o mundo. Parece ser essa altura de reencontro o ponto alto de todo o filme, em que finalmente (!) tudo volta a fazer sentido.
De todo o modo, há que dizer algo sobre a própria estrutura do filme. Creio que Wes Anderson exagera amiúde na música, nos comportamentos, na mensagem. Sentimos estar perante um mundo um tanto ou quanto onírico: temos pseudo-momentos de acção, pseudo-momentos de drama, música muitas vezes desajustada do momento. Neste filme, todos os peixes são irreais, sendo criados por stop-motion. Ficamos sem saber o que se pretende: é isto uma comédia? Uma tragédia? Um drama?
E é precisamente no conjunto de toda essa imperfeição propositada que a obra resulta bem: por ser tão imperfeita, tão exagerada, tão a despropósito, não deixamos de com ela nos identificar e de pensar que, afinal, aquela narrativa é a de um homem que já conhecemos nalgum lado ou, pior, de um homem parecido com aquilo em que nos poderemos tornar.
Creio, até, ser este um filme um pouco exigente: de uma certa dose de descomprometimento com a realidade, de uma predisposição disposto a seguir o modo surpreendente como o realizador conta a história. Vai-nos parecer muitas vezes estúpido, ridículo, anormal. E no fim faz sentido. Não será a vida assim?
Ao reflectir sobre Um peixe fora de água não consigo deixar de pensar no mesmo que me ocorreu aquando do visionamento d’ A Lula e a Baleia, de Noah Baucham, embora com argumento quer deste quer de Wes Anderson, e do The Darjeeling Limited. O humor surge como um mero instrumento ou expediente, não é o fim do filme. Abordam-se a vida e as relações humanas; mas estas têm ironias bastantes a que os realizadores, nos casos das obras referidas, não se furtam a retractar. E se n’A Lula e a Baleia o óculo do realizador não se distancia muito da vida, já nas obras de Wes Anderson o exagero é sempre presente. Exagera-se para se mostrar a realidade tal como ela é. Não é uma comédia. É muito mais do que isso.
N’Um peixe fora de água deparamos com a vida de um documentarista – Steve Zissou (o título em inglês é The life aquatic with Steve Zissou) – em claro ponto baixo da carreira. É uma ideia que subsiste ao longo de, talvez, ¾ do filme. Um homem com bastante sucesso na juventude que, a dada altura cai em desgraça. Do filme ressalta a ideia que tudo se deveu à sua presunção. Cada vez mais hostil perante todos, foi acumulando fracassos atrás de fracassos, tentando convencer-se – ainda que perante ostensivos sinais exteriores de que estava errado – de que seguia no caminho certo. E nessa óptica, a peculiar tripulação do barco de Steve Zissou surge como um grupo de sujeitos sem qualquer valia. No entanto, há um momento do filme em que recordam “aventuras antigas”, em que, ao invés de parecerem um grupo de desafortunados, parecem ser antes um colectivo que faz das suas diferenças um elemento de força.
Toda essa linha narrativa acaba por conduzir a um resultado, de certo modo, inesperado. Steve Zissou acaba a história com um estrondoso sucesso – o documentário da sua última aventura é, contrariamente aos anteriores, bem acolhido – mas com uma humildade incrível. É impressiva a cena em que aguarda à porta da sala do certame de cinema a reacção à sua última obra.
O cerne da narrativa do filme reside aí. Um homem cada vez mais só, mais ridicularizado, mais desrespeitado, caído em desgraça. Um homem com um passado grandioso. E que só se volta a reerguer quando finalmente depara consigo mesmo e percebe que toda a hostilidade a que se vê votado se deve ao seu comportamento.
É pois, normal, que só tenha conseguido Zissou encontrar o peixe maldito no momento em que se reconcilia com o mundo. Parece ser essa altura de reencontro o ponto alto de todo o filme, em que finalmente (!) tudo volta a fazer sentido.
De todo o modo, há que dizer algo sobre a própria estrutura do filme. Creio que Wes Anderson exagera amiúde na música, nos comportamentos, na mensagem. Sentimos estar perante um mundo um tanto ou quanto onírico: temos pseudo-momentos de acção, pseudo-momentos de drama, música muitas vezes desajustada do momento. Neste filme, todos os peixes são irreais, sendo criados por stop-motion. Ficamos sem saber o que se pretende: é isto uma comédia? Uma tragédia? Um drama?
E é precisamente no conjunto de toda essa imperfeição propositada que a obra resulta bem: por ser tão imperfeita, tão exagerada, tão a despropósito, não deixamos de com ela nos identificar e de pensar que, afinal, aquela narrativa é a de um homem que já conhecemos nalgum lado ou, pior, de um homem parecido com aquilo em que nos poderemos tornar.
Creio, até, ser este um filme um pouco exigente: de uma certa dose de descomprometimento com a realidade, de uma predisposição disposto a seguir o modo surpreendente como o realizador conta a história. Vai-nos parecer muitas vezes estúpido, ridículo, anormal. E no fim faz sentido. Não será a vida assim?
segunda-feira, fevereiro 02, 2009
Notas cinematográficas dos últimos tempos
Olá a todos, é verdade que já cá não deixo qualquer coisa há uns tempos, a época de exames não perdoa, mas isso não quer dizer que ande a "negligenciar" esta nossa paixão. De facto, o que se passa é que nestes tempos, em que temos mais tempo livre e a chuva não nos deixa em paz, só apetece ver filmes e mais filmes, o que até calha bem em termos de cinema "fresquinho", porque afinal é esta a golden season...
Mas hoje não vou falar disso, queria antes fazer um pequeno refresh do que de melhor tenho visto, no meu amado sofá, em casa, nas últimas semanas. Não pretendo deixar aqui críticas extensas, nem sobrecarregar o post com imagens dos filmes. Deixo-os apenas na forma de relato pessoal, de sugestão, e com pequenos comentários:
08/12 - Gangs of New York (Martin Scorsese, 2002) - Parece incrível, mas ainda não tinha visto este, e finalmente consegui. Tinha ouvido algumas críticas negativas, e talvez por isso o filme me tenha surpreendido bastante. Soberba reconstituição, a filmagem é impressionante, os momentos de exagero visual e histórico foram, para mim, de puro deleite, e o trabalho de actores é, claro está, magnífico. Injustamente esquecido pelos Oscars (nomeado para 10, não ganhou nenhum, nem mesmo para a fantástica canção dos U2), é um must see.
13/12 – La Stanza dei Figlio (Nanni Moretti, 2001) - Numa primeira de muitas (espera-se) sessões de cinema em minha casa para directores do Cineclube e amigos, decidimo-nos por este filme, que ainda nenhum de nós tinha visto. De início pouco promissor, o filme desenrola-se até se tornar difícil de assistir, difícil não ficar comovido por aquela família, difícil de ficarmos indiferentes perante ele. Não deslumbra, não é brilhante: é cru, verdadeiro. É um processo de regeneração doloroso. Doeu-me, este filme, mas é uma dor que acaba por sarar.
21/12 – Elephant (Gus Van Sant, 2003) - Palma de Ouro em Cannes, também estava para o ver há muito, e não me desiludiu. Voltando a um tema sempre delicado e sempre actual, Gus Van Sant filma com uma originalidade e uma técnica próprias, que a outros sai mal, mas que ele domina com impecável mestria. Muito bem construído, é um jogo cinematográfico de repetições, mas também uma oportunidade de vermos esta história trágica de várias perspectivas, em vez de como é habitual, seguirmos uma viagem pelos olhos da mesma personagem.
25/12 – Out of Africa (Sidney Pollack, 1985) - Finalmente vi este filme, exactamente como andava à espera de o ver, num dia tão especial como o de Natal, e com a minha mãe ao lado. Acho que tudo já deve ter sido dito sobre ele, vencedor de 7 Oscars, não sou eu que vou acrescentar nada, até porque não é fácil descrever o que me ficou depois de o ver. Baseado numa história verdadeira, filmado nas magníficas paisagens do Quénia, com Meryl Streep e Robert Redford, e a genialidade de Pollack, que mais poderíamos pedir? Absolutamente inesquecível.
25/12 - Matrimonio all'Italiana (Vittorio de Sica, 1964) - Retrato fiel de Nápoles, uma cidade destroçada e pobre, sob o signo neo-realista de um Sica já no final da sua carreira e longe do fulgor de Ladri di Biciclette. Ainda assim, é uma comédia refrescante tipicamente italiana, e uma belíssima oportunidade de ver Sophia Loren e Marcello Mastroiani, juntos no seu melhor.
25/12 - Lucky You (Curtis Hanson, 2007) - Se isto fosse aquele jogo do "odd one out", este era definitivamente o estranho, mas às vezes também é preciso aligeirar nos filmes, e depois de dois filmes daqueles no mesmo dia, acho que já não aguentava muito mais. Com argumento de Eric Roth e interpretações muito boas de Eric Bana e Robert Duvall, até eu me estranhei a ver este filme e a descobrir-me a aprender póker (e a gostar!). Excelente para os fãs do jogo, retrata fielmente todas as mãos impensáveis, os turns inesperados e o que tantas vezes está em jogo nos mega-torneios de Poker dos dias de hoje.
26/12 – Cassandra’s Dream (Woody Allen, 2007) - Longe do brilhantismo habitual de Allen, claro, mas depois de Match Point, acho que nada vai melhorar muito mais. História cativante, o argumento é, como sempre, inspirado, e as interpretações de Colin Farrell e Ewan McGregor surpreendem por estarem longe do perfil das personagens que estamos habituados a ver. Tudo vai muito bem, até ao final. O modo como o filme dá uma reviravolta e acaba atingiu-me como uma pancada na cabeça. Se havia alguma mensagem até aí, ela ficou destruída e fez a história tornar-se ridícula e inverosímil simplesmente pelo final. Sensação que fica? Pointless entertainment.
27/12 – Le Scaphandre et le Papillon (Julian Schnabel, 2007) - Nomeado para 4 Oscars e para a Palma de Ouro, foi mais uma daquelas injustiças flagrantes não ter levado as vitórias, embora tenha arrecadado inúmeros outros prémios. Nem sei o que dizer deste filme, acho que não lhe faria grande jus. É inacreditável. Doloroso, sabendo que é uma história verdadeira, mas é uma lição de cinema das melhores dos últimos anos, e uma lição de vida ainda maior. Se não viram, corram a buscá-lo.
28/12 – Caramel (Nadine Labaki, 2007) - É cada vez mais raro ver um bom filme realizado por uma mulher, muito menos se ela for extremamente bonita e também actriz, e ainda menos se for uma libanesa de 34 anos, que realiza e escreve o seu primeiro flme. Só por isso valia a pena ver, mas agora acrescentem uma história à volta de várias mulheres e de um salão de cabeleireiro onde a depilação é feita com caramelo, e das suas vidas normais na Beirute de hoje. Um retrato fidegigno e impressionante.
30/12 – Youth Without Youth (Francis Ford Coppola, 2007) - É o "oh meu Deus, como foi possível?" do ano de 2007, ou melhor dos últimos anos, para não dizer de sempre porque aí não estava a fazer jus à banhada chamada "The Inner Life of Martin Frost". Ainda hoje não compreendi o que se passou com F.F.Coppola para fazer um filme destes (ou então sou eu que percebo zero de cinema, o que também é uma hipótese). Não lhe vou chamar uma desilusão, porque estaria a ser eufemística. Peguem em "muito mau" e multipliquem por 1000. Pronto.
06/01 – Irréversible (Gaspar Noé, 2002) - Bem, àquelas pessoas que só aguentaram os 10 primeiros minutos de filme antes de sair da sala ou desligar a televisão, só tenho uma coisa a dizer: fizeram mal. De início insuportável, este filme, na sua brilhante mecânica de retroceder no tempo dos acontecimentos, é bom, muito muito bom. Bellucci e Vincent Cassel estão fantásticos, a atmosfera, de início tão pesada, torna-se cada vez mais leve, e o filme revela-se em toda a sua genialidade. O extremo do instinto humano, o retrato da beleza destruída.
17/01 – Casablanca (Michael Curtiz, 1942) - Já tinha saudades de o rever, e uma edição especial lindíssima que comprei há pouco tempo foi a oportunidade perfeita. Sério candidato a filme preferido, se eu conseguisse escolher só um. Eu que nunca me considerei uma romântica, acho que este filme não joga a meu favor nisso. Não é uma história de amor, é a história de amor. Não é uma canção, é As Time Goes By tocada pelo Sam. Não é uma cidade qualquer, é Casablanca e o Rick's Café, onde jantei em pequena, com uma família que há muito tempo não tenho e de que cada vez menos me vou lembrando. Se alguma vez se tornar menos claro o porquê de ser o Cinema uma das minhas razões para viver, é só ir buscar Bogart e Bergman à prateleira. E para uma certa pessoa que aparece e desaparece, "We'll always have Paris".
25/01 – Citizen Kane (Orson Welles, 1941) + RKO 281 (Benjamin Ross, 1999) - Sobre esta obra-prima também não resta muito a dizer, é puro génio de um Welles tão jovem e inexperiente, um filme imperdível. Recomendo vê-lo com a espécie de biografia da sua feitura, RKO 281, produzido para televisão, de excelente qualidade e que nos dá uma nova perspectiva sobre Citizen Kane e sobre os próprios Welles e Mankiewicz.
31/01 – Scent of a Woman (Martin Brest, 1992) - Duvido que haja muita gente que não tenha visto este, mas se não viram, recomendo vivamente. O filme é Al Pacino (obviamente oscarizado nesse ano), a história é só um complemento, mas ainda por cima é boa, bem como o resto do elenco (nota para Chris O'Donnell e um jovem Philip Seymour Hoffman). A razão porque gosto tanto dele são provavelmente as minhas duas cenas preferidas - a do Ferrari, e o inesquecível tango Por Una Cabeza, de Carlos Gardel.
Depois deste rol de sugestões para compensar a minha ausência, fica prometido um post sobre os Óscares que se aproximam, com a minha opinião e as minhas apostas sobre todos os filmes nomeados que conseguir ver até à data (já lá vão 5...)!
Mas hoje não vou falar disso, queria antes fazer um pequeno refresh do que de melhor tenho visto, no meu amado sofá, em casa, nas últimas semanas. Não pretendo deixar aqui críticas extensas, nem sobrecarregar o post com imagens dos filmes. Deixo-os apenas na forma de relato pessoal, de sugestão, e com pequenos comentários:
08/12 - Gangs of New York (Martin Scorsese, 2002) - Parece incrível, mas ainda não tinha visto este, e finalmente consegui. Tinha ouvido algumas críticas negativas, e talvez por isso o filme me tenha surpreendido bastante. Soberba reconstituição, a filmagem é impressionante, os momentos de exagero visual e histórico foram, para mim, de puro deleite, e o trabalho de actores é, claro está, magnífico. Injustamente esquecido pelos Oscars (nomeado para 10, não ganhou nenhum, nem mesmo para a fantástica canção dos U2), é um must see.
13/12 – La Stanza dei Figlio (Nanni Moretti, 2001) - Numa primeira de muitas (espera-se) sessões de cinema em minha casa para directores do Cineclube e amigos, decidimo-nos por este filme, que ainda nenhum de nós tinha visto. De início pouco promissor, o filme desenrola-se até se tornar difícil de assistir, difícil não ficar comovido por aquela família, difícil de ficarmos indiferentes perante ele. Não deslumbra, não é brilhante: é cru, verdadeiro. É um processo de regeneração doloroso. Doeu-me, este filme, mas é uma dor que acaba por sarar.
21/12 – Elephant (Gus Van Sant, 2003) - Palma de Ouro em Cannes, também estava para o ver há muito, e não me desiludiu. Voltando a um tema sempre delicado e sempre actual, Gus Van Sant filma com uma originalidade e uma técnica próprias, que a outros sai mal, mas que ele domina com impecável mestria. Muito bem construído, é um jogo cinematográfico de repetições, mas também uma oportunidade de vermos esta história trágica de várias perspectivas, em vez de como é habitual, seguirmos uma viagem pelos olhos da mesma personagem.
25/12 – Out of Africa (Sidney Pollack, 1985) - Finalmente vi este filme, exactamente como andava à espera de o ver, num dia tão especial como o de Natal, e com a minha mãe ao lado. Acho que tudo já deve ter sido dito sobre ele, vencedor de 7 Oscars, não sou eu que vou acrescentar nada, até porque não é fácil descrever o que me ficou depois de o ver. Baseado numa história verdadeira, filmado nas magníficas paisagens do Quénia, com Meryl Streep e Robert Redford, e a genialidade de Pollack, que mais poderíamos pedir? Absolutamente inesquecível.
25/12 - Matrimonio all'Italiana (Vittorio de Sica, 1964) - Retrato fiel de Nápoles, uma cidade destroçada e pobre, sob o signo neo-realista de um Sica já no final da sua carreira e longe do fulgor de Ladri di Biciclette. Ainda assim, é uma comédia refrescante tipicamente italiana, e uma belíssima oportunidade de ver Sophia Loren e Marcello Mastroiani, juntos no seu melhor.
25/12 - Lucky You (Curtis Hanson, 2007) - Se isto fosse aquele jogo do "odd one out", este era definitivamente o estranho, mas às vezes também é preciso aligeirar nos filmes, e depois de dois filmes daqueles no mesmo dia, acho que já não aguentava muito mais. Com argumento de Eric Roth e interpretações muito boas de Eric Bana e Robert Duvall, até eu me estranhei a ver este filme e a descobrir-me a aprender póker (e a gostar!). Excelente para os fãs do jogo, retrata fielmente todas as mãos impensáveis, os turns inesperados e o que tantas vezes está em jogo nos mega-torneios de Poker dos dias de hoje.
26/12 – Cassandra’s Dream (Woody Allen, 2007) - Longe do brilhantismo habitual de Allen, claro, mas depois de Match Point, acho que nada vai melhorar muito mais. História cativante, o argumento é, como sempre, inspirado, e as interpretações de Colin Farrell e Ewan McGregor surpreendem por estarem longe do perfil das personagens que estamos habituados a ver. Tudo vai muito bem, até ao final. O modo como o filme dá uma reviravolta e acaba atingiu-me como uma pancada na cabeça. Se havia alguma mensagem até aí, ela ficou destruída e fez a história tornar-se ridícula e inverosímil simplesmente pelo final. Sensação que fica? Pointless entertainment.
27/12 – Le Scaphandre et le Papillon (Julian Schnabel, 2007) - Nomeado para 4 Oscars e para a Palma de Ouro, foi mais uma daquelas injustiças flagrantes não ter levado as vitórias, embora tenha arrecadado inúmeros outros prémios. Nem sei o que dizer deste filme, acho que não lhe faria grande jus. É inacreditável. Doloroso, sabendo que é uma história verdadeira, mas é uma lição de cinema das melhores dos últimos anos, e uma lição de vida ainda maior. Se não viram, corram a buscá-lo.
28/12 – Caramel (Nadine Labaki, 2007) - É cada vez mais raro ver um bom filme realizado por uma mulher, muito menos se ela for extremamente bonita e também actriz, e ainda menos se for uma libanesa de 34 anos, que realiza e escreve o seu primeiro flme. Só por isso valia a pena ver, mas agora acrescentem uma história à volta de várias mulheres e de um salão de cabeleireiro onde a depilação é feita com caramelo, e das suas vidas normais na Beirute de hoje. Um retrato fidegigno e impressionante.
30/12 – Youth Without Youth (Francis Ford Coppola, 2007) - É o "oh meu Deus, como foi possível?" do ano de 2007, ou melhor dos últimos anos, para não dizer de sempre porque aí não estava a fazer jus à banhada chamada "The Inner Life of Martin Frost". Ainda hoje não compreendi o que se passou com F.F.Coppola para fazer um filme destes (ou então sou eu que percebo zero de cinema, o que também é uma hipótese). Não lhe vou chamar uma desilusão, porque estaria a ser eufemística. Peguem em "muito mau" e multipliquem por 1000. Pronto.
06/01 – Irréversible (Gaspar Noé, 2002) - Bem, àquelas pessoas que só aguentaram os 10 primeiros minutos de filme antes de sair da sala ou desligar a televisão, só tenho uma coisa a dizer: fizeram mal. De início insuportável, este filme, na sua brilhante mecânica de retroceder no tempo dos acontecimentos, é bom, muito muito bom. Bellucci e Vincent Cassel estão fantásticos, a atmosfera, de início tão pesada, torna-se cada vez mais leve, e o filme revela-se em toda a sua genialidade. O extremo do instinto humano, o retrato da beleza destruída.
17/01 – Casablanca (Michael Curtiz, 1942) - Já tinha saudades de o rever, e uma edição especial lindíssima que comprei há pouco tempo foi a oportunidade perfeita. Sério candidato a filme preferido, se eu conseguisse escolher só um. Eu que nunca me considerei uma romântica, acho que este filme não joga a meu favor nisso. Não é uma história de amor, é a história de amor. Não é uma canção, é As Time Goes By tocada pelo Sam. Não é uma cidade qualquer, é Casablanca e o Rick's Café, onde jantei em pequena, com uma família que há muito tempo não tenho e de que cada vez menos me vou lembrando. Se alguma vez se tornar menos claro o porquê de ser o Cinema uma das minhas razões para viver, é só ir buscar Bogart e Bergman à prateleira. E para uma certa pessoa que aparece e desaparece, "We'll always have Paris".
25/01 – Citizen Kane (Orson Welles, 1941) + RKO 281 (Benjamin Ross, 1999) - Sobre esta obra-prima também não resta muito a dizer, é puro génio de um Welles tão jovem e inexperiente, um filme imperdível. Recomendo vê-lo com a espécie de biografia da sua feitura, RKO 281, produzido para televisão, de excelente qualidade e que nos dá uma nova perspectiva sobre Citizen Kane e sobre os próprios Welles e Mankiewicz.
31/01 – Scent of a Woman (Martin Brest, 1992) - Duvido que haja muita gente que não tenha visto este, mas se não viram, recomendo vivamente. O filme é Al Pacino (obviamente oscarizado nesse ano), a história é só um complemento, mas ainda por cima é boa, bem como o resto do elenco (nota para Chris O'Donnell e um jovem Philip Seymour Hoffman). A razão porque gosto tanto dele são provavelmente as minhas duas cenas preferidas - a do Ferrari, e o inesquecível tango Por Una Cabeza, de Carlos Gardel.
Depois deste rol de sugestões para compensar a minha ausência, fica prometido um post sobre os Óscares que se aproximam, com a minha opinião e as minhas apostas sobre todos os filmes nomeados que conseguir ver até à data (já lá vão 5...)!
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