segunda-feira, janeiro 09, 2012

"political solutions don't work"



"Após a agitação política e cultural dos anos sessenta, que podia parecer ainda um investimento de massa da coisa pública, é uma desafecção generalizada que ostensivamente se afirma no social, tendo por corolário o refluir dos interesses no sentido de preocupações puramente pessoais e isto independentemente da crise económica. A despolitização e a dessindicalização ganham proporções nunca antes atingidas, a esperança revolucionária e a contestação estudantil desapareceram, a contra-cultura esgota-se, raras são as causas ainda capazes de galvanizarem a longo prazo as energias. A res publica encontra-se desvitalizada, as grandes questões «filosóficas», económicas, políticas ou militares suscitam mais ou menos a mesma curiosidade desenvolta que um qualquer fait divers; todos os «cumes» se abatem pouco a pouco, arrastados pela vasta operação de neutralização e banalização sociais. Só a esfera privada parece sair vitoriosa desta vaga de apatia; zelar pela própria saúde, preservar a sua situação material; perder os «complexos», esperar que cheguem as férias: viver sem ideal e sem fim transcendente tornou-se possível. Os filmes de Woody Allen e o sucesso que obtêm são o símbolo autêntico deste hiper-investimento do espaço privado; como o próprio Woody Allen o diz: «political solutions don't work» (...); sob muitos aspectos, esta fórmula traduz o novo espírito do tempo, este neo-narcisismo que nasce da deserdação do político. Fim do homo politicus e advento do homo psychologicus, à espreita do seu ser e do seu bem estar".

Gilles Lipovetsky, A Era do Vazio, Relógio d'Água, 1989, pp. 48-49.

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