terça-feira, novembro 29, 2011

Ciclo "FASSBINDER: TRILOGIA DO PÓS-GUERRA"




O próximo ciclo da MILÍMETRO tem início já esta quarta-feira, 30 Nov., com "O CASAMENTO DE MARIA BAUN" (1979).
Às 22h, no Passos Manuel.

terça-feira, novembro 22, 2011

Crítica "O ESPELHO"




Com duas dezenas de espectadores, "O ESPELHO" foi precedido de uma excelente apresentação introdutória da parte do Prof. Doutor Mário Graça Moura, certamente enriquecedora para todos os que assistiram à obra-prima de Andrei Tarkovsky.

A próxima sessão, que encerra a programação para este semestre, terá lugar no dia 8 de Dezembro, com o filme "SUPERFLY".
Mas os filmes não ficam por aqui!
Quase como uma oferenda natalícia, o Cineclube FDUP realizará uma especial sessão dupla, dia 13 de Dezembro (terça-feira), que contará, ainda, com um pequeno lanche entre os dois filmes (a anunciar brevemente). Será um momento não só para vermos bons filmes, mas também para todos aqueles que acarinham este projecto confraternizarem e trocarem impressões. Estejam atentos!

Aqui fica a crítica do Prof. Doutor Mário Graça Moura ao filme "O ESPELHO" (1975), de Tarkovsky.



CINECLUBE FDUP
SESSÃO 22 NOVEMBRO: "O ESPELHO" (1975), de Andrei Tarkovsky

Andrei Tarkovsky: O Espelho, Prof. Doutor Mário Graça Moura

‘O Espelho’ (1975) é a quarta das sete longas-metragens de Andrei Tarkovsky (1932-1986). Pensado nos anos 60, foi um projecto inicialmente rejeitado pela burocracia soviética. O filme acabaria por ser rodado na década seguinte mas, após o seu visionamento, as autoridades permitiram apenas uma distribuição limitada na URSS e proibiram a exibição no Festival de Cannes (no qual ‘Andrei Rubleev’ (1969) e ‘Solaris’ (1972) tinham sido premiados e ‘Stalker’ (1979), ‘Nostalgia’ (1983) e ‘O Sacrifício’ (1986) viriam a sê-lo). ‘O Espelho’ adquiriu entretanto a reputação de ser o filme mais pessoal – e talvez o mais difícil – de uma obra composta por filmes que não poderiam ter sido feitos por nenhum outro realizador e que são certamente exigentes.

Trata-se de facto, por maioria de razão, de um filme pessoal: baseia-se em acontecimentos reais, vividos pelo realizador e pela sua família. Por sua vez, a representação desses acontecimentos, passados em épocas diversas, é intercalada com a representação de sonhos – claramente sinalizados, no entanto – e com fragmentos de documentários; e a montagem obedece a um princípio de associação de ideias mais do que a uma lógica narrativa. Todavia, a estruturação com base em princípios que, como tem sido observado, remetem para a poesia é característica de outros filmes de Tarkovsky – filmes nos quais, como aqui, encontramos personagens e cenas misteriosas, que parecem resistir inclusivamente a uma interpretação simbólica. ‘O Espelho’ vai mais longe do que os outros filmes do realizador apenas na medida em que, como tem sido assinalado, constitui uma experiência de subjectividade total: os acontecimentos que compõem o filme são-nos apresentados tal como a mente do protagonista os recorda ou imagina. Significativamente, o protagonista (quando adulto) está sempre fora de campo.

Por outras palavras, ‘O Espelho’ é a memória que um homem tem da sua vida (e da vida da sua família) num momento de particular lucidez, em que parece ser capaz de ver ou entender o que antes não tinha visto ou entendido – e o filme está por isso montado de uma forma que reflecte o modo como a memória opera. Esse momento de particular lucidez é, aparentemente, o momento da sua morte, que constitui, como o próprio realizador viria a observar, o único elemento falso do filme – pois o homem em causa é, evidentemente, o próprio Tarkovsky. Para além de vermos o cartaz de ‘Andrei Rubleev’ a sugeri-lo, a mãe do protagonista (quando idosa) é a própria mãe do realizador – a voz do seu pai aparece igualmente, lendo os seus poemas – e grande parte do filme decorre numa casa que é uma réplica da casa da família do realizador, reconstruída no local onde essa casa existia.

A figuração da memória do protagonista apresenta um aspecto particularmente relevante. Há cinco personagens centrais: o protagonista, a sua mulher, o seu filho, a sua mãe e o seu pai, que no entanto está quase sempre ausente. Duas dessas personagens surgem-nos em várias fases da sua vida. Ora a actriz que representa a mulher do protagonista representa também a sua mãe quando jovem – há, aliás, um comentário da mulher sobre a sua parecença com a mãe do protagonista – e o actor que representa o protagonista quando adolescente representa também o seu filho. Por sua vez, a separação do protagonista e da sua mulher, e a dos seus pais, sugerem um paralelo entre aquele e o seu pai. As vidas de algumas personagens – na memória (lúcida) do protagonista – são portanto um espelho de outras vidas. É de resto através de espelhos que em certos momentos se passa do presente para o passado, ou para o sonho, e vice-versa.

Mas há ainda uma explicação adicional para o título do filme. Tarkovsky revelou que vários espectadores lhe disseram que tinham visto no filme a sua própria vida – o que, à primeira vista, é paradoxal, mesmo tratando-se de espectadores russos da mesma geração que o realizador. E no entanto não o é, porque o cinema, ou mais genericamente a arte, podem fazer-nos ver – e podem fazer com que nos vejamos a nós próprios – com uma lucidez particular, tal como sucede ao protagonista de ‘O Espelho’ no momento da sua morte; e essa lucidez pode levar-nos, mesmo estando longe do contexto histórico e geográfico do filme, a reconhecer nas vidas retratadas – que por sua vez espelham outras vidas – a nossa própria vida, passada ou futura. Não por acaso, ‘O Espelho’ começa com uma cena, que pode ser interpretada como uma metáfora do poder do cinema, em que um rapaz gago, através da hipnose, é curado e pode finalmente falar. E uma das sequências fundamentais do filme é um sonho, primeiro relatado e depois magnificamente figurado, sobre a impossibilidade de regressar à casa da infância, ou de recomeçar.

Como sempre em Tarkovsky, a atenção obsessiva ao movimento da câmara e ao som fazem de ‘O Espelho’ uma experiência visual e sonora de uma intensidade rara. Destacam-se, por exemplo, as imagens do vento – algumas criadas com a intervenção de helicópteros – e das gotas de água; ou o uso da luz nas cenas de interiores. Bruegel – de quem um quadro é recriado – e Leonardo da Vinci inspiram algumas das cenas. E o filme acaba com uma sequência verdadeiramente hipnótica, uma das duas ou três mais comoventes da obra do realizador, em que o pai do protagonista pergunta à mãe se prefere ter um filho ou uma filha, enquanto se ouve o início da ‘Paixão segundo S. João’, de J.S. Bach. Depois a mãe olha – por um momento, inclusivamente, olha para nós – e literalmente vemos com ela o sentido da sua vida.

domingo, novembro 20, 2011

22 Nov.: "O ESPELHO", de Andrei Tarkovsky

Design: Luísa Beato


O Cineclube FDUP volta a animar o panorama universitário do Porto, desta feita com um dos filmes maiores de Andrei Tarkovsky - "O ESPELHO" (ZERKALO), de 1975. Filme onde, talvez mais do que em qualquer outro, o cineasta russo expõe, autobiograficamente, as suas reflexões em torno da memória, a infância e a nostalgia. Tudo isto acompanhado de um primor visual que no cinema de Tarkoksvy atinge, como é sabido, níveis superlativos.

A acrescer ao banquete, teremos a apresentação, que muito honra o Cineclube, do Prof. Doutor Mário Graça Moura (FEP), bem como uma crítica (escrita) da sua autoria.
Por isso, melhor era impossível: é já esta terça-feira, às 18h15 (e com direito a uma surpresa!)

Venham e tragam um amigo. Ate lá!

terça-feira, novembro 15, 2011

Zabriskie Point

Fica aqui um comentário que escrevi, noutras paragens, a propósito da mais-que-famosa cena da explosão em Zabriskie Point (1970), de Michelangelo Antonioni.




"Explosões"

Entre tantas outras interpretações (suponho eu, não tive paciência para confirmar), há duas possíveis para um momento singular em Zabriskie Point. Falo, sem novidade, da sequência da explosão. Ora, há nela um instante (um plano, mais concretamente) muito especial. Depois de vermos tudo explodir (roupas, móveis, electrodomésticos ou, metaforica mas justamente, o poder, o dinheiro, o consumismo, o materialismo, enfim, o capitalismo), há um plano onde Antonioni filma a detonação de uma quantidade gigantesca de livros e calhamaços. Eis a dúvida: a literatura, o conhecimento, a... Cultura a explodir?



Há quem veja na explosão dos livros, como é o caso do inglês David Thomson, a destruição de bens que, mesmo não sendo materiais, não possuem um valor espiritual, interior, próprio. Donde, a inclusão da deflagração de todas aquelas páginas e palavras na explosão do tudo, i. e., do conjunto das coisas que não são realmente importantes para os homens: "the repeated explosion of the desert home - deprived of the violence by silence - speak for the helpless sterility of material things: not just of material goods, but the irrelevant accumulation of things that have no interior significance" (David Thomson, The New Biographical Dictionary of Film, Knopf, 2010, p. 28). É nestas things that have no interior significance que se encaixam os livros, a meu ver.

Todavia, e esta é a interpretação que eu faço, parece-me a mim, do que conheço da personalidade de Antonioni (um tipo muito fino, inteligente e anti-dogmático, nada dado a radicalismos fáceis) e do ambiente que impregna todo o filme (a contra-cultura americana dos anos 60 - seus clichés, fragilidades e antinomias -, que se cruza com o encontro de dois jovens, também eles, de certa forma, em contra-corrente com essa contra-cultura), que a explosão em causa (a dos livros, em concreto) pode ter um outro significado. Que é o de sugerir (em forma de pergunta) o seguinte: se mandarmos tudo (capitalismo, suas idiossincrasias e avatares) pelos ares, não destruímos, também, aquilo a que damos realmente valor?



Assim vistas as coisas, o filme de Antonioni (um homem de esquerda, é certo, mas sem se comprometer com ditames de espécie alguma na sua arte), acaba por ficar no meio de dois mundos. O mundo da juventude revolucionária, por um lado, cujas contradições movediças e debilidades internas são expostas (tal como fez Godard, em La Chinoise). E o mundo capitalista, este fortemente parodiado e criticado - pense-se, respectivamente, na cena em que os empresários visionam um anúncio publicitário ominoso, estupidificante, típico das sociedades de consumo; e na cena final, na casa prestes a explodir, em que os grandes planos fazem dos rostos dos empresários autênticos donos dos terrenos ("donos do mundo", desumanos e agarrados a cálculos económicos) simulados nas maquetes. E que meio-termo é esse?
É, justamente, aquele onde se situa um pensamento - político? - , uma concepção do mundo, que se interroga profundamente sobre fenómenos contestários de massa (a contra-cultura americana, de pendor acentuadamente esquerdista, no caso), mas que, simultaneamente, se furta terminantemente a aceitar um mundo onde o poder e o dinheiro comandem a vida. Ao filmar, primeiro, a explosão de bens materiais supérfluos, e, depois, livros (pensamentos, sentimentos, palavras, teorias), não está Antonioni a lembrar-nos o que, em parte, aconteceu na História? Não foram homens que, querendo sofregamente terminar com este ou aquele sistema, por projectarem nas suas cabeças um novo mundo, melhor e mais verdadeiro ("mudar o mundo", em português escorreito), acabaram por apagar tudo, inclusivamente aquilo que tinham por nobre?
É evidente que, neste contexto, o regime comunista da União Soviética assomará imediatamente às nossas cabeças, pois ele partiu da aversão de um conjunto de indivíduos a um sistema - o capitalista (tal como os jovens americanos da contra-cultura, embora com nuances fundamentais: logo à cabeça, a guerra do Vietnam, e, obviamente, a radical diferença entre os níveis de vida nos EUA dos anos 60 e os da Rússia czarista do início do séc XX). Contudo, parece-me, a leitura de Antonioni é mais abrangente: ela interpela e interroga toda e qualquer intenção destruidora (absolutizante, neste sentido), pois ela sempre correrá o risco de, eliminando o que de inútil - fútil, inane, materialista, etc. - considera viciar a humanidade, cair num subjectivismo total, o qual, em último termo, se reduz à censura e à repressão. E é aí, nesse preciso momento, que o que outrora se tinha por grandioso, sublime, assume um valor relativo e passa a poder ser objecto de eliminação, como se de um processo administrativo se tratasse. Por esse motivo é que livros, filmes e músicas extraordinárias, que hoje consideramos praticamente como património da humanidade, já foram, em tempos, destruídas, queimadas, apagadas da história (ou, pelo menos, foram feitas tentativas nesse sentido - felizmente, nunca com absoluto sucesso). Posta de outra maneira, a pergunta que fiz acima mantém o sentido original: onde começa e onde acaba o que é realmente importante para nós, homens? Quais os riscos (senão as certezas) de se tentar eliminar aquilo que, subjectivismos à parte, não tem realmente valor para as nossas vidas?



Não é por acaso que a explosão se passa no domínio da ficção, i.e., no domínio da imaginação de uma personagem (Daria), a qual, depois de rever, na sua cabeça, como seria, sorri e vai embora - e vai embora, quase diríamos, em paz com o mundo. Não é à toa, também, que a personagem em causa (a par da outra personagem, Mark) se situa à margem (ou, o que é o mesmo, no meio) desses dois mundos de que atrás falei. Daí a fuga, a evasão da realidade, e a procura de um outro mundo - o tal do deserto, momento demiúrgico de uma grandeza poética que não cabe em palavras -, mas este sim, verdadeiramente novo, onde todos teríamos que recomeçar do zero (areia, rochas e pouco mais) e apenas com o Amor como meio de nos relacionarmos e comunicarmos (onde o dinheiro e o poder, portanto, não estariam presentes para contaminar - introduzindo mecanismos artificiais diferenciadores e hierarquizantes - as relações humanas). Ou, nas palavras de David Thomson: "the prelude to a new society in which people regress to the primitive energy of desert creatures" (p. 27).

segunda-feira, novembro 14, 2011

Ciclo de Animação, no CineFEUP




Nem de propósito, quando ainda há pouco tempo o nosso Cineclube havia exibido um filme de animação ("MARY AND MAX", de Adam Elliot), o Cineclube da Faculdade de Engenharia da UP (CineFEUP) vem propôr um interessante ciclo dedicado exclusivamente ao cinema de animação.

Esta iniciativa aparece, note-se, numa altura em que o cineclubismo universitário se vem afirmando cada vez mais na cidade do Porto. A par do nosso Cineclube FDUP (o mais antigo no panorama universitário), o CineICBAS, CineFMUP e o CineFEUP asseguram, todos eles, uma programação regular e muito interessante. A mim, pessoalmente, dá-me uma enorme satisfação assistir a este movimento, não só pelo que de interventivo e cultural ele representa, mas, também, de uma perspectiva mais prática, pela quantidade de bons filmes que me permitem ver, em boas condições, e gratuitamente. Esperemos que estes projectos se mantenham de boa saúde por muito tempo!

Aqui fica um pouco mais sobre o ciclo de animação levado a cabo pelo CineFEUP:


CICLO DE ANIMAÇÃO

Do Rato Mickey ao Doraemon, desde tenra idade que nos habituamos à técnica da animação de imagens para simular situações que a realidade tantas vezes limita. Mas com o passar dos anos, esse mundo mágico vai perdendo aos poucos o seu encanto. Porquê? Não sabemos, nem é nosso interesse saber. A animação está viva e recomenda-se, dos mais novos aos mais velhos e só nos interessa demonstrá-lo.
Em pareceria com a Casa da Animação, o CineFEUP estreia a sua actividade deste ano lectivo com um ciclo dedicado a esta técnica na sétima arte, prometendo trazer de volta o interesse de todos. Durante o mês de Novembro exibiremos semanalmente, às Terças, uma curta metragem nacional com apresentação pela Casa da Animação, seguido de uma longa de culto, cobrindo várias técnicas, do stop-motion ao Flash.

15 de Novembro
Desassossego (2010), de Lorenzo degl'Innocenti
Corpse Bride (2005), de Tim Burton

22 de Novembro
Viagem a Cabo Verde (2010), de José Miguel Ribeiro
Spirited Away (2001), de Hayao Miyazaki

29 de Novembro
O Homem da Cabeça de Papelão (2010), de Luís da Matta Almeida e Pedro Lino
Waltz With Bashir (2008), de Ari Folman


Todas as sessões se realizam às 21:00 na sala B003 da FEUP e têm entrada gratuita.

Mais detalhes do ciclo podem ser encontrados no nosso website:
http://www.cinefeup.org/ciclodeanimacao.html

Bem como no evento do Facebook:
https://www.facebook.com/event.php?eid=139143672858169

quarta-feira, novembro 09, 2011

ciclo "TERRATREME"



A Milímetro inicia hoje um novo ciclo com o filme "BAB SEBTA" (2008), de Pedro Pinho e Frederico Lobo.

Às quartas-feiras, pelas 22h, no Passos Manuel.

A Sombra dos Antepassados Esquecidos

Sergei Parajanov, 1965


A beleza em estado de filme.


(O vídeo está dobrado em russo, mas é o único que se encontra com qualidade de imagem aceitável.)

Mary and Max

Adam Elliot, 2009


Estamos na década de setenta. Mary Dinkle tem 8 anos e vive num subúrbio de Melbourne pintado a sépia. Nos tempos livres, o pai dedica-se à taxidermia, a mãe às chávenas de xerez, e Mary vê os Noblets com o seu galo de estimação enquanto sorve colheradas de leite condensado. 

Do outro lado do oceano, Max Horovitz habita uma Nova Iorque cinzenta, mas à sua margem. Na sua meia-idade obesa e hipocondríaca, Max tem dificuldades em adaptar-se a uma cidade onde imperam os atropelos ambientais e os avanços sexuais, e encerra-se num mundo próprio, rodeado de Noblets -sim, também ele, e receitas hipercalóricas.

Um golpe do acaso fez com que Mary descobrisse a morada de Max numa lista telefónica e decidisse escrever-lhe, dando início a uma longa amizade por correspondência baseada na experiência do próprio autor do filme, Adam Elliot.

A voz de ambos (sendo que a de Max é especialmente bem interpretada por Philip Seymour Hoffman) só vive através das suas cartas - são raros os diálogos neste filme, e é nesta troca silenciosa de palavras que se aprofundam as duas personagens e se desenvolve a temática do filme. A abordagem da doença - Max sofre da síndrome de Asperger, como descobrimos mais tarde, da solidão, da (a)normalidade e, em último caso, da amizade, é feita frequentemente com mordacidade e sem ceder a moralismos - não sendo embora insensível, e é por causa desse tom que não se pode cometer a ingenuidade de confundir filmes de animação com filmes infantis. 

Não significa isto que Mary and Max não nos suscite carinho. Além das personagens, a própria estética do filme é algo de especial. A sensação de que todos os elementos são cuidadosamente escolhidos não é absurda; esta animação foi construída através da técnica de "claymation", uma forma de stop-motion na qual todos os objectos são feitos à mão, a partir de barro ou plasticina, e fotografados frame a frame, para criar a ilusão de movimento (deste género são também conhecidos Wallace e Gromit, ou A Fuga das Galinhas). Desta tridimensionalidade sem linhas rectas resulta o seu aspecto algo descuidado, mas humano e envolvente - não há aqui qualquer trabalho digital. 

É também de referir o salpicar constante de pequenas referências e apontamentos cómicos, contrastantes com o tom predominantemente pessimista do filme e escondidas em sítios tão improváveis como cartazes de sem-abrigo, t-shirts de personagens secundárias, ou mesmo lápides. Os toques de vermelho inseridos na Nova Iorque monocromática, por exemplo, foram inspirados na Lista de Schindler, do Steven Spielberg.

Esta é, afinal, uma história simples, e pode ser bem resumida pelos objectivos de vida de Max: a infância cristalizada nos bonecos dos Noblets, chocolate q.b. (então se forem cachorros...) e um amigo, de preferência não imaginário. 

terça-feira, novembro 08, 2011

uma delícia




Foi com "MARY AND MAX" (2009), de Adam Elliot, que o Cineclube FDUP apostou, pela primeira vez, no cinema de animação, audácia que foi devidamente recompensada pela doçura de um filme que, em tom de brincadeira, trata, com profundidade, de coisas sérias (e talvez seja esta, vejo agora, uma das pechas do filme - o facto de, através de uma estrutura formalmente imersa na fantasia e, justamente, na animação, se apegar, porventura em demasia, à realidade, às vidas e problemas dos homens reais, com todas as limitações criativas que daí advêm... Mas isto seria questão para desenvolver com tempo).
Em breve ficará aqui disponível a folha de sala com a crítica da Inês Viana.

Assim sendo, vemo-nos agora dia 22 de Novembro, com esse magnífico filme de Andrei Tarkovsky - "O ESPELHO" (1975).
Até lá!

segunda-feira, novembro 07, 2011

Premiados passatempo "CINANIMA 2011"

Aqui fica a lista dos premiados do passatempo "CINANIMA 2011". Os premiados deverão proceder ao levantamento do bilhete na bilheteira do local da sessão respectivo.


LISTA DE PREMIADOS PASSATEMPO CINECLUBE FDUP E CINANIMA 2011:

Guilherme Silva
Cristina Ramos Alves
Inês Merino
Diana Barra
Vanessa Carvalho
Ana Sofia Nico
Rita Carvalho
Teresa Chow
André Guerreiro
Tiago Parente
Graça Canto Moniz

domingo, novembro 06, 2011

8 Out.: "MARY AND MAX" (18h15)

Design: Luísa Beato


O Cineclube retoma a sua programação já esta terça-feira, dia 8 Out., com o filme "MARY AND MAX" (2009), de Adam Elliot, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo cinema de animação.
Na sala 1.28, às 18h15. Sorteio de um bilhete para cinemas UCI!

Apareçam e tragam um amigo! Até lá!