segunda-feira, julho 25, 2011
domingo, julho 24, 2011
toda a razão
LMO, no Ípsilon (artigo completo - com o qual não concordo na totalidade - aqui):
"Como o dinheiro comanda a vida, também é daquelas raras alturas do ano em que um filme se faz "notícia": vem aí o Harry Potter, vem aí o Harry Potter, naquele misto de frenesi e indiferença com que os telejornais falam de tudo, a "saga mais lucrativa de sempre". Podiam dizer "a mais popular", "a mais querida", "a mais entusiasmante", mas não, dizem "a mais lucrativa". Miseravelmente remediados como somos, resta-nos ficar esmagados com tanta competência na bilheteira.
A talhe de foice, e para que se tenha uma noção das somas envolvidas: em 1937, com a Branca de Neve e os Sete Anões, Walt Disney precisou de um milhão e meio de dólares para influenciar o imaginário de todas as gerações futuras de todo o mundo; em 2011, a empresa sai mais cara: Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2 fez-se por 250 milhões de dólares. Rentabilizar isto não se faz de ânimo leve, exige estratégia e disciplina quase militares, recompensadas com seis mil milhões de dólares (números gerais da "saga").
Acontecimento económico, acontecimento empresarial, acontecimento jornalístico (por supuesto): não se contesta, mas nada disto é sinónimo de um acontecimento "crítico" nem mesmo, passe o palavrão, "cinéfilo"".
"Como o dinheiro comanda a vida, também é daquelas raras alturas do ano em que um filme se faz "notícia": vem aí o Harry Potter, vem aí o Harry Potter, naquele misto de frenesi e indiferença com que os telejornais falam de tudo, a "saga mais lucrativa de sempre". Podiam dizer "a mais popular", "a mais querida", "a mais entusiasmante", mas não, dizem "a mais lucrativa". Miseravelmente remediados como somos, resta-nos ficar esmagados com tanta competência na bilheteira.
A talhe de foice, e para que se tenha uma noção das somas envolvidas: em 1937, com a Branca de Neve e os Sete Anões, Walt Disney precisou de um milhão e meio de dólares para influenciar o imaginário de todas as gerações futuras de todo o mundo; em 2011, a empresa sai mais cara: Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2 fez-se por 250 milhões de dólares. Rentabilizar isto não se faz de ânimo leve, exige estratégia e disciplina quase militares, recompensadas com seis mil milhões de dólares (números gerais da "saga").
Acontecimento económico, acontecimento empresarial, acontecimento jornalístico (por supuesto): não se contesta, mas nada disto é sinónimo de um acontecimento "crítico" nem mesmo, passe o palavrão, "cinéfilo"".
sexta-feira, julho 22, 2011
quinta-feira, julho 14, 2011
terça-feira, julho 12, 2011
Hoje:
domingo, julho 10, 2011
cinema na RTP2
Embora nunca tenha por aqui (blog) dado eco ao que se vinha passando, fui um observador atento da iniciativa levada a cabo por alguns bloggers e cinéfilos relativamente à programação (ou falta dela, para dizer as coisas como elas são) da RTP2 no que toca a Cinema. Refiro-me concretamente ao programa "Sessão Dupla", que passa na RTP2 aos sábados à noite.
A questão, complexa - porque lida necessariamente com conceitos tão tortuosos como "serviço público" ou "cultura" -, continua a resumir-se, do ponto de vista exclusivamente "cinematográfico", chamemos-lhe assim, ao que Luís Mendonça escreve neste post (um balanço sobre os caminhos que a iniciativa tomou) obrigatório:
Este sábado, em sessão dupla, a esmola que Wemans ainda vai dando ao "público" da RTP2, passam os filmes "Excalibur" de John Boorman, seguido de "A Promessa" de Chen Kaige. O que os liga, o que é que os põe em diálogo? A lenda do rei Arthur encontra ressonâncias na história lendária da China das concubinas? É isso? São as espadas e os cavalos? É Boorman e Kaige?
Esta é a questão central; outras há, derivadas desta, que não vou expôr pois podem ser melhor compreendidas se lidas na petição pública em causa. Veja-se também o que foi escrito ou filmado (um debate com o próprio Jorge Wemans, responsável pela programação de cinema na RTP2) aqui.
Mas o que é mais preocupante nisto tudo é ficar a saber, pelo balanço negativo que Luís Mendonça faz no mesmo post, do total alheamento de entidades como a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), a Cinemateca ou a Associação Portuguesa de Realizadores. Não digo que não tenham as suas razões para o afastamento, nem que a posição a tomar quanto a esta petição pública seja de sentido único; simplesmente, esse afastamento foi, pelo que diz Luís Mendonça, silencioso, autista, obscuro. Foi, para mim, verdadeiramente triste ler aquilo que os organizadores desta iniciativa descrevem: uma gritante falta de apoio, um absoluto desprezo das entidades públicas e das elites do cinema português por este tão legítimo e fecundo exercício de cidadania, essa palavra vistosa que por cá parece só ser de utilizar para elogiar esse país tão vasto chamado "lá fora".
Ler o último post de Luís Mendonça constituiu, para mim, um exercício de desacreditação. Senti-me muito desapontado com o meu país e, sobretudo, com aqueles que, amando o cinema, não foram capazes - por razões que prefiro aqui não desenvolver, até por desconhecimento - de estabelecer, pelo menos, diálogo com um grupo de cidadãos anónimos voluntariosos e bem-intencionados.
Alguns dir-me-ão: mas o que interessa o Cinema quando o país está como está? Todavia, permitam-me, quem faz essa pergunta nesses termos, não a faz porque o país tem a Troika a pisar-lhe os calcanhares no momento presente. Fá-la porque, enfim, a fará sempre, em qualquer momento: o que interessa o Cinema, o que interessa a Cultura a um país? Porquê, no que toca ao Cinema, por exemplo, passar um Hitchcock, um Antonioni ou um Rohmer, e não um blockbuster pipoca qualquer? Que diferença faz? Que é que interessa? (A não ser que alguém queira mesmo que se responda a isto, vou poupar-me ao esforço e passar esta à frente)
Contudo, neste caso concreto, a situação é mais profunda: é que foram também os próprios entusiastas de um cinema de qualidade e de fora do circuito estritamente comercial a não querer ouvir, a não querer dialogar com esses "malucos" (como eles) que gostam de cinema.
A democracia e a cidadania saem derrotadas e, repito, não unicamente porque esta petição pública não tenha triunfado. Saem derrotadas por um problema que é anterior e mais grave: porque uns quantos cidadãos - o Povo, esse soberano nebuloso - se sentiram desapoiados, mal tratados e ignorados por aqueles que têm responsabilidades ou, pelo menos, um certo papel - um ethos - a cumprir na defesa dos seus interesses.
A questão, complexa - porque lida necessariamente com conceitos tão tortuosos como "serviço público" ou "cultura" -, continua a resumir-se, do ponto de vista exclusivamente "cinematográfico", chamemos-lhe assim, ao que Luís Mendonça escreve neste post (um balanço sobre os caminhos que a iniciativa tomou) obrigatório:
Este sábado, em sessão dupla, a esmola que Wemans ainda vai dando ao "público" da RTP2, passam os filmes "Excalibur" de John Boorman, seguido de "A Promessa" de Chen Kaige. O que os liga, o que é que os põe em diálogo? A lenda do rei Arthur encontra ressonâncias na história lendária da China das concubinas? É isso? São as espadas e os cavalos? É Boorman e Kaige?
Esta é a questão central; outras há, derivadas desta, que não vou expôr pois podem ser melhor compreendidas se lidas na petição pública em causa. Veja-se também o que foi escrito ou filmado (um debate com o próprio Jorge Wemans, responsável pela programação de cinema na RTP2) aqui.
Mas o que é mais preocupante nisto tudo é ficar a saber, pelo balanço negativo que Luís Mendonça faz no mesmo post, do total alheamento de entidades como a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), a Cinemateca ou a Associação Portuguesa de Realizadores. Não digo que não tenham as suas razões para o afastamento, nem que a posição a tomar quanto a esta petição pública seja de sentido único; simplesmente, esse afastamento foi, pelo que diz Luís Mendonça, silencioso, autista, obscuro. Foi, para mim, verdadeiramente triste ler aquilo que os organizadores desta iniciativa descrevem: uma gritante falta de apoio, um absoluto desprezo das entidades públicas e das elites do cinema português por este tão legítimo e fecundo exercício de cidadania, essa palavra vistosa que por cá parece só ser de utilizar para elogiar esse país tão vasto chamado "lá fora".
Ler o último post de Luís Mendonça constituiu, para mim, um exercício de desacreditação. Senti-me muito desapontado com o meu país e, sobretudo, com aqueles que, amando o cinema, não foram capazes - por razões que prefiro aqui não desenvolver, até por desconhecimento - de estabelecer, pelo menos, diálogo com um grupo de cidadãos anónimos voluntariosos e bem-intencionados.
Alguns dir-me-ão: mas o que interessa o Cinema quando o país está como está? Todavia, permitam-me, quem faz essa pergunta nesses termos, não a faz porque o país tem a Troika a pisar-lhe os calcanhares no momento presente. Fá-la porque, enfim, a fará sempre, em qualquer momento: o que interessa o Cinema, o que interessa a Cultura a um país? Porquê, no que toca ao Cinema, por exemplo, passar um Hitchcock, um Antonioni ou um Rohmer, e não um blockbuster pipoca qualquer? Que diferença faz? Que é que interessa? (A não ser que alguém queira mesmo que se responda a isto, vou poupar-me ao esforço e passar esta à frente)
Contudo, neste caso concreto, a situação é mais profunda: é que foram também os próprios entusiastas de um cinema de qualidade e de fora do circuito estritamente comercial a não querer ouvir, a não querer dialogar com esses "malucos" (como eles) que gostam de cinema.
A democracia e a cidadania saem derrotadas e, repito, não unicamente porque esta petição pública não tenha triunfado. Saem derrotadas por um problema que é anterior e mais grave: porque uns quantos cidadãos - o Povo, esse soberano nebuloso - se sentiram desapoiados, mal tratados e ignorados por aqueles que têm responsabilidades ou, pelo menos, um certo papel - um ethos - a cumprir na defesa dos seus interesses.
terça-feira, julho 05, 2011
coisas que nem sempre são fáceis de conjugar
Um breve comentário a propósito da filmografia de Abel Ferrara, a cidade de Nova Yorque, os anos 90 e a cultura hip-hop.
descubra as diferenças
Há um mundo de semelhanças entre o Ray Ruby (Willem Dafoe) de Go Go Tales (2007, Abel Ferrara) e o Joachim Zend (Mathieu Amalric) de Tournée (2010, Mathieu Amalric).
De um lado, a mesma paixão, irreverência e obstinação. O optimismo inquebrantável, contra tudo e contra todos (the show must go on), que mexe em tudo por que passa, mesmo quando a tragédia parece estar iminente. Por outro lado, a mesma infantilidade (ambos sonhadores e indomáveis - síndrome "Peter Pan") e solidão (Ray dormindo sozinho no seu escritório enquanto mil coisas acontecem no seu clube; Joachim viajando sozinho de carro pela noite dentro enquanto a sua companhia de new burlesque actua).
E, porque não dizê-lo, a mesma decadência e sensação de nostalgia pelos good old days, não só no que ao dinheiro propriamente dito diz respeito (dois businessman falidos), mas também no que toca ao seu percurso dentro do mundo do espectáculo (o clube Ray's Paradise já viveu melhores dias e Joachim, por seu turno, era um tipo famoso em França antes de se chatear com a indústria e se exilar nos EUA).
Mas, ainda mais marcante, é a mesma fragilidade emocional e necessidade de se agarrarem aos seus mais próximos, que não são, note-se, num caso e noutro, a família (como seria habitual), mas sim as pessoas com quem trabalham diariamente. Ray trata as suas go go girls quase como filhas, referindo-se ainda numerosas vezes ao pessoal do Ray's Paradise como uma "grande família", onde todos olham por todos (veja-se a cena excelente em que uma striper lhe diz que está grávida ou aquela outra em que Ray canta sozinho em palco - a canção parece ser, na verdade, dirigida ao clube). Joachim, por sua vez, parece só estar bem quando rodeado das suas strippers, procurando fazer tudo para que se sintam bem, ainda que por isso durma pouco ou nada.
Flagrante, também, o espaço em que ambas as personagens se movem: o mundo do espectáculo e, mais concretamente, o mundo do striptease, das mulheres, da carne e da sensualidade. É neste mundo que ambas as personagens se encontram permanentemente à beira do colapso, do fim, embora haja sempre algo que as mantém à tona. Apetece acreditar que esse "algo" não é fruto do acaso ou da fortuna, mas como que uma recompensa pela coragem e determinação de dois seres vertiginosos que correm todos os riscos por amor à arte. E por aqui se vê o grito pela independência - no cinema, mas também na arte, em geral - que é comum a crítica apontar a Amalric e Ferrara por estes dois filmes.
domingo, julho 03, 2011
sexta-feira, julho 01, 2011
Ciclo ABEL FERRARA: "ENTRE O VÍCIO E A MORAL"
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