domingo, julho 10, 2011

cinema na RTP2

Embora nunca tenha por aqui (blog) dado eco ao que se vinha passando, fui um observador atento da iniciativa levada a cabo por alguns bloggers e cinéfilos relativamente à programação (ou falta dela, para dizer as coisas como elas são) da RTP2 no que toca a Cinema. Refiro-me concretamente ao programa "Sessão Dupla", que passa na RTP2 aos sábados à noite.
A questão, complexa - porque lida necessariamente com conceitos tão tortuosos como "serviço público" ou "cultura" -, continua a resumir-se, do ponto de vista exclusivamente "cinematográfico", chamemos-lhe assim, ao que Luís Mendonça escreve neste post (um balanço sobre os caminhos que a iniciativa tomou) obrigatório:

Este sábado, em sessão dupla, a esmola que Wemans ainda vai dando ao "público" da RTP2, passam os filmes "Excalibur" de John Boorman, seguido de "A Promessa" de Chen Kaige. O que os liga, o que é que os põe em diálogo? A lenda do rei Arthur encontra ressonâncias na história lendária da China das concubinas? É isso? São as espadas e os cavalos? É Boorman e Kaige?

Esta é a questão central; outras há, derivadas desta, que não vou expôr pois podem ser melhor compreendidas se lidas na petição pública em causa. Veja-se também o que foi escrito ou filmado (um debate com o próprio Jorge Wemans, responsável pela programação de cinema na RTP2) aqui.
Mas o que é mais preocupante nisto tudo é ficar a saber, pelo balanço negativo que Luís Mendonça faz no mesmo post, do total alheamento de entidades como a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), a Cinemateca ou a Associação Portuguesa de Realizadores. Não digo que não tenham as suas razões para o afastamento, nem que a posição a tomar quanto a esta petição pública seja de sentido único; simplesmente, esse afastamento foi, pelo que diz Luís Mendonça, silencioso, autista, obscuro. Foi, para mim, verdadeiramente triste ler aquilo que os organizadores desta iniciativa descrevem: uma gritante falta de apoio, um absoluto desprezo das entidades públicas e das elites do cinema português por este tão legítimo e fecundo exercício de cidadania, essa palavra vistosa que por cá parece só ser de utilizar para elogiar esse país tão vasto chamado "lá fora".
Ler o último post de Luís Mendonça constituiu, para mim, um exercício de desacreditação. Senti-me muito desapontado com o meu país e, sobretudo, com aqueles que, amando o cinema, não foram capazes - por razões que prefiro aqui não desenvolver, até por desconhecimento - de estabelecer, pelo menos, diálogo com um grupo de cidadãos anónimos voluntariosos e bem-intencionados.

Alguns dir-me-ão: mas o que interessa o Cinema quando o país está como está? Todavia, permitam-me, quem faz essa pergunta nesses termos, não a faz porque o país tem a Troika a pisar-lhe os calcanhares no momento presente. Fá-la porque, enfim, a fará sempre, em qualquer momento: o que interessa o Cinema, o que interessa a Cultura a um país? Porquê, no que toca ao Cinema, por exemplo, passar um Hitchcock, um Antonioni ou um Rohmer, e não um blockbuster pipoca qualquer? Que diferença faz? Que é que interessa? (A não ser que alguém queira mesmo que se responda a isto, vou poupar-me ao esforço e passar esta à frente)

Contudo, neste caso concreto, a situação é mais profunda: é que foram também os próprios entusiastas de um cinema de qualidade e de fora do circuito estritamente comercial a não querer ouvir, a não querer dialogar com esses "malucos" (como eles) que gostam de cinema.
A democracia e a cidadania saem derrotadas e, repito, não unicamente porque esta petição pública não tenha triunfado. Saem derrotadas por um problema que é anterior e mais grave: porque uns quantos cidadãos - o Povo, esse soberano nebuloso - se sentiram desapoiados, mal tratados e ignorados por aqueles que têm responsabilidades ou, pelo menos, um certo papel - um ethos - a cumprir na defesa dos seus interesses.

1 comentário:

Luís Mendonça disse...

Obrigado pelo eco interessante que se faz aqui do nosso balanço. Não quero "desacreditar" ninguém; apenas alertar todos para esse terreno difícil que é o da cidadania pura, apartidária, "desinteressada", ou melhor, apenas interessada no interesse público. Abraço,