"O cinema de Woody Allen, é sabido, tornou-se num piloto automático: cumprir uma ordem de trabalho esquemática que se traduz, muitas vezes, numa reprodução de um guião da sua autoria sem grande direcção de actores ou marcação de preferências estilísticas, ou ainda, se quisermos, uma mera presença do universo de um autor sem ser pelos restos das vias tradicionais das "punchlines" ou das suas angústias diárias — a ideia que a vida, para Allen, simplesmente não faz muito sentido. Infelizmente, é esse mesmo distanciamento de Allen do seu clima de rodagem e da sua direcção que faz com que os filmes traduzam apenas isso: filmes que não fazem, também eles, muito sentido.
(...) é de novo pelo despropósito do argumento que o filme acaba por cair na inutilidade. Allen já não parece construir o seu filme para nos oferecer uma moral (como no excelente, e último grande filme dele, Match Point), mas apenas entregar-nos o esquema de uma moral que servirá, já por si, de justificação para um filme (que as ilusões das vidas dos outros não serão melhores que as nossas desprovidas de rumo). You Will Meet a Tall Dark Stranger começa com uma boa captação do seu ambiente e das suas "famílias", no entanto, é quando Allen decide mexer nas peças para provar o seu ponto que tudo desaba, sem caminho, sem rigor e sem conclusão, ficando-se inclusivamente com a impressão que a segunda parte do filme ficou por escrever".
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