sábado, fevereiro 13, 2010

Do México

"Rudo y Cursi" de Carlos Cuarón (2008) leva-nos numa viagem até ao México remoto das plantações de banana, das estradas de terra e dos preconceitos entre homens e mulheres. Ao mesmo tempo que faz o retrato de uma povoação pobre e pequena, onde os maridos ainda podem bater nas mulheres, onde as crianças não vão à escola porque ficam a trabalhar e onde os rapazes jogam futebol para passar o tempo, enquanto sonham com a glória dos grandes craques. E os detalhes que caracterizam o lugar onde Tato (Gael Garcia Bernal) e Beto (Diego Luna) vivem, são essenciais para perceber o que acontece a seguir na história e traçar analogias com situações comuns.

Tato e Beto são irmãos que trabalham na plantação de bananas, o primeiro com o desejo de se tornar cantor e o segundo com um terrível vício no jogo. Na ânsia de encontrar a fama que tanto procura, Tato decide que vai abandonar o México para ir em busca do sonho de ser cantor nos Estados Unidos, até que por coincidência ambos encontram um empresário de futebol parado na berma da estrada com problemas no carro. A partir daí, são escolhidos como promessas do futebol mexicano, mudando-se para a capital e começando o mais importante da história: a forma fiel como é filmada a ascensão dos irmãos. Claro que não é difícil imaginar o que acontece a dois rapazes nascidos num meio pobre que são catapultados para as capas de revistas, para o dinheiro fácil e para um meio onde passam a conviver com aqueles que se habituaram a ver pela televisão.

A Tato não falta nenhum detalhe de caracterização: desde as madeixas às camisolas de lycra cor-de-rosa, aos carros imponentes e à namorada estrela de televisão que já passou por meio México. Rudo, mantém o seu bigode nativo, mas perde-se entre o jogo e a cocaína, enquanto continua a ser alvo de troça por ter uma mulher que trabalha. Entretanto Tato consegue concretizar o seu sonho e grava um videoclip, esperando finalmente poder deixar o futebol para se dedicar ao espectáculo, mas o único concerto que chega a dar é bastante terrível.

O filme é uma sátira ao mundo do futebol e à forma como são pescados e catapultados miúdos para o topo quando no minuto seguinte falham e não têm direito a uma segunda oportunidade, sendo facilmente esquecidos por aqueles que chamavam os seus nomes nos estádios, pelas revistas e por todas as pessoas que os rodeiam. É ao mesmo tempo um apanhado bastante bem feito de algumas figuras bem nossas conhecidas, mesmo que sem intenção.

Crítica por Daniela Ramalho

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