sexta-feira, maio 22, 2009

conhecendo o homem


Grande parte do que conheço de João Bénard da Costa (JBC) chega-me do que ouço de pais e amigos ou o que leio de jornais e revistas.
No entanto, já aconteceu algumas vezes passar os olhos por escritos do autor sobre obra cinematográfica. E gostei muito. Lembro-me que quando escrevi uma crítica aqui para o Cineclube, a propósito do Los Olvidados do Buñuel, uma das fontes de que me servi foi a sua compilação de folhas da Cinemateca acerca do realizador espanhol, que o meu pai havia comprado há já muito tempo.
A sensibilidade com que JBC utilizava as palavras para traduzir a mesma sensibilidade do filme e a abordagem tão vasta e absorvente que fazia da fita (com curiosas incursões pela filosofia ou pela literatura romancista) cativaram-me sobremaneira. Por outro lado, a exposição técnica - longe de ser enfadonha (tarefa difícil) - era igualmente prazerosa, pois recordava-me cenas precisas do filme e percebia a intenção e o porquê de fazer assim e não fazer assado; o porquê de utilizar isto para sugerir aquilo, subtis pormenores que simbolizam correntes; etc.
Assim foi que até um excerto seu ipsis verbis coloquei na minha crítica, tal era o valor e o modo como se identificava com o que eu pretendia expôr. E o mesmo fez o Tiago Ramalho na sua crítica ao How Green Was My Valley, do Ford. Sem me querer imiscuir nas considerações do Tiago, penso que essa citação também reflectirá parte do que aqui quis transmitir.
Acima de tudo, tenho JBC como um homem de fina sensibilidade. Alguém que pensou o Cinema de forma muito própria. E a mim agrada-me muitíssimo lêr alguém que pensa algo (diferente de pensar sobre), que o sistematiza, que o expõe com argúcia e lucidez. O Direito a intrometer-se na 7ª Arte, porventura...
Não me interessam agora as questão institucionais, digamos assim, mais ou menos felizes a que JBC esteve ligado. Neste momento faço o tributo apenas ao homem das letras.
Não tendo ainda, na verdade, uma real percepção do peso de JBC no Cinema português, posso dizer, da minha parte, que as suas linhas me despertaram a vontade de ler mais e mais. O que não deixa de ser um aspecto poderoso, não fosse o Cinema a arte da imagem (e de muito mais, é certo); imagem que, na gíria, "vale mais do que mil palavras". Talvez as de JBC não sejam assim tão facilmente superáveis.

3 comentários:

TR disse...

da parte em que me referes, na sequência disto, " sensibilidade com que JBC utilizava as palavras para traduzir a mesma sensibilidade do filme e a abordagem tão vasta e absorvente que fazia da fita (com curiosas incursões pela filosofia ou pela literatura romancista) cativaram-me sobremaneira. Por outro lado, a exposição técnica - longe de ser enfadonha (tarefa difícil) - era igualmente prazerosa, pois recordava-me cenas precisas do filme e percebia a intenção e o porquê de fazer assim e não fazer assado; o porquê de utilizar isto para sugerir aquilo, subtis pormenores que simbolizam correntes; etc." subscrevo inteiramente.

O resto não. Não por não concordar, mas por ignorância própria.
Mas dá muita vontade de saber mais, de facto.

MJ disse...

Gostei muito, muito do que escreveste. Logo naquele dia pensei também em escrever alguma coisa para aqui, mas felizmente antecipaste-te, e depois o tempo foi voando a estudar para o exame de Obrigações.

Já um pouco tarde, deixei a minha homenagem, a um homem que, como disse a minha mãe no dia da sua morte, "era um daqueles que estava num patamar acima de todos os outros, de uma excepcionalidade inquestionável". Exagerando ou não, ela conheceu o homem e a obra por certo bem mais que eu, tendo tido o privilégio de frequentar a Cinemateca e se cruzar com ele durante os anos em que tirou o curso. Sempre invejei aquela gente de Lisoa, bolas.

Francisco disse...

:)