Tive já também a oportunidade de ver o referido filme. Começando pelo seu sucesso, ser uma grande escolha de um festival como Canne acho que simplesmente fala por si e pelo que o filme conseguiu captar, se falarmos de sucesso em Portugal o caso muda de figura obviamente, as nossas escolhas não são claramente pautadas por uma aposta no cinema europeu e sim nos blockbusters americanos. Se para muitos os Óscares são o topo, não escondo que Canne é a minha preferência pessoal. Passando ao filme propriamente dito, é uma verdade que não acrescenta nada de novo, mas também estamos a falar de um género que já dá cartas pelo menos desde os anos 20 em que víamos um Dr Mabuse de Fritz Lang a controlar todo o submundo do crime. Esgotado portanto o conceito acho que este filme enova pelo facto de sair dos moldes clássicos do tema, historia de amor entre do protagonista ( torna assim de certa forma a personagem mais humana e leva ao publico a desculpar involuntariamente os seus actos, ora como seria o “ era uma vez na América “ se o Robert De Niro não fosse “ perdidamente apaixonado ? ), quebrando também com a clássica versão de Hollywood do príncipe ladrão, que apesar de roubar matar e traficar até e uma boa pessoa, aquele que leva a muitos dizerem “ quero ser como ele “ ( Pensando agora na legião de fans que Vito Corleone Move, tornando-se mais que um ídolo, um ícone Pop). Este filme não é mais um daqueles em que assistimos a uma ascensão apogeu e queda de um que um dia quis ser o rei do seu bairro. Este filme retrata a dura realidade das ruas napolitanas, desde as crianças a que no Brasil chamam de Vapores, aos traficantes, vários tentáculos de um polvo (a camorra), que chega a todos os ramos da sociedade. A senhora Maria que recebe de Don Ciro uma maquia certa por mês pelo seu marido preso (membro da camorra), até à Diva que se passeia em desfiles na televisão com um vestido contrafeito pelo senhor Pasquale. È também clara a alusão à crise provocada pela camorra no caso do lixo, à altura do filme éra a questão dos resíduos tóxicos, neste verão foi a recolha de lixo da cidade inteira de Nápoles, que levou a actuação das Forças Armadas para suster a crise. A brutalidade das máfias italianas, muito acima de qualquer outra que me recorde (apesar de falarem de máfias russas e de outros países, Itália é o único país que eu conheço em que Juízes como o Juiz Falcone são assassinados de forma impune e à luz do dia e com meios de uma autentica guerra, ou as actuações de personagens como o Scana Cristiani, e as ordens de Totó Riina) é neste filme uma constante, e apesar de noutros filmes como “ Scarface “ haver mais mortos em numero, neste sabemos que ninguém está a safo numa guerra entre gangs, há aquilo a que chamamos de “ danos colaterais “ em linguagem militar, vitimas inocentes que nada fizeram para merecer o seu fim. O filme ganha no meu entender nos detalhes que compõem o retrato, os dois tontos que entram em acção no filme a imitar a sequencia final do Scarface de Brian de Palma (o cineclube no semestre passado exibiu a versão original de 1932 ), passando o resto do filme perseguindo o sonho de violência e conquista do poder desmedido sem o mínimo de cabeça, assim se perderam muitos no meu entender, com mensagens de violência a quem não tem nada e anseia por tudo. O fim dos dois é o fim de todos o que escolhem aquele caminho ….
Por ultimo e em toda a dureza do filme, há uma esperança. Roberto (não revelo o porque desta mensagem pois estragaria a historia, mas depois de visto o filme percebe-se o porque da sua existência no filme). Quanto à fotografia e aos pormenores de realização confesso que não tenho capacidade de analisar como o resto (arrogância de parte, sempre me interessei mais pelo conteúdo dos filmes, pecando pela falta de conhecimento em aspectos mais técnicos, não obstante invejo quem disso sabe mais do que eu), noto no entanto que em certas alturas torna um filme um pouco cansativo a quem esta a ver e quebra um pouco a dinâmica que se procura com câmaras sempre em movimento. Ainda um remate final para a banda sonora e os adereços usados pelos criminosos, não é um filme com uma música apoteótica na queda e auge na cena, nem os criminosos a morrerem em fatos deslumbrantes. São execuções a musica é pastilha, tem um estilo a que os espanhóis chamam de “ chungo “ que tão bem descreve aquilo que no bairro se veste e que cá a expressão adquire um sentido mais lato. Apesar de algumas falhas, acho um bom filme no geral, com uma visão inovadora e dinâmica de um mundo que tantos ouvimos falar mas que tão pouco conhecemos. Todos até hoje conhecíamos a máfia siciliana chamada de Cosa Nostra, mas não sabíamos que a Camorra é bem mais antiga e sangrenta, e que estende a sua mão a quase tudo o que dá lucro.
Um pequeno aparte à margem do filme sobre o Comment do Francisco, bem o filme passa-se na altura do livro que lhe serviu de suporte, ou seja a actualidade. Quanto as afirmações bombásticas, são devidamente sustentadas. O jornal o Publico durante este verão foi trazendo a conta gotas, como todas as informações do género que chegam a Portugal, uma serie de noticias acerta da Camorra, também o livro de Roberto Saviano foi alvo de um especial pelo suplemento P2. Outro livro que fala no tema, embora não seja sobre ele, é o “ Cosa Nostra “ de Dickie, aquele que se propõe a ser o 1º livro independente de “ Historia “ e sublinho Historia da Máfia em Itália, não um romance com fundo de verdade. Obviamente para quem vê o filme pela primeira vez isto cai um pouco de para quedas e neste caso tens toda a razão tudo parece um pouco confuso, mas como bem sabes interesso-me bastante por este tema o pelo que em mim não se declararam estas dificuldades, mas sim são pontos negativos para o filme. Não concordo que seja um cidade de Deus Italiano, isso seria diminuir um em prol de outro. Seguindo o Raciocínio podíamos afirmar então que o Cidade de Deus é o Los Olvidados Brasileiro.
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