segunda-feira, outubro 31, 2011

Passatempo "CINANIMA 2011"




O Cineclube FDUP e o CINANIMA 2011 associam-se para a realização de um passatempo on-line, oferecendo 5 bilhetes para cada sessão não competitiva (conferir aqui) do 35º Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, que terá lugar de 7 a 13 de Novembro. Aproveita!

Para ganhares um bilhete duplo, envia email para cineclubefdup@gmail.com com a resposta à seguinte pergunta:

Como se chamam e quantas são, no total, as secções a concurso no CINANIMA 2011?


A par da resposta correcta, os participantes deverão registar o seu nome e o do seu acompanhante, bem com o nome do filme/sessão pretendida. O mesmo participante pode solicitar bilhetes duplos para todas as sessões não competitivas que pretender. No caso de desejar assistir ao Cinanima 2011 sem acompanhante, basta inscrever o seu nome.

As respostas deverão ser dadas até ao final do dia 5 de Novembro, momento em que termina o passatempo.
Boa sorte!


Mais info em: http://cinanima.pt/2011/

sexta-feira, outubro 28, 2011

Amarcord


Federico Fellini, 1973






“A m’arcord” significa “eu recordo-me”, no dialecto da região italiana onde Fellini cresceu. Por isso dizem que é este o seu filme mais autobiográfico; mas ao contrário de outros filmes, como o 8 ½, em que observamos o balanço de toda uma vida, ou uma carreira, neste a nostalgia dilui a memória, e através da perspectiva adolescente – personificada em Titta, que estas recordações e fantasias se conjugam, conduzindo a narrativa de um modo surreal, etéreo, mágico, como toda a infância nos surge, quando a evocamos.

Esta lembrança tem lugar numa pequena aldeia costeira da Itália fascista dos anos 30, e remonta aos festejos da chegada da primavera; espera-se com bons augúrios o início do novo ciclo.

Começa assim o desfile: aqui, tudo é exaltação, festiva e quase circense, barulhenta e colorida, e é nesse caos desconcertante que nos movemos, como um carrossel que nos embala ao longo da história, com altos e baixos, mas nunca saindo verdadeiramente do seu eixo.

Sentamo-nos à mesa com a família de Titta, que embora roçando os limites da disfuncionalidade, não deixa de soar - e é exactamente essa a palavra - familiar.
Fazemos parte do seu grupo, seguimo-lo para a escola e sentimo-nos alunos; o rol de professores e respectivas manias não pode ser considerado menos do que hilariante.
Conhecemos os seus vizinhos. Volpina, o tio, o cego, o advogado, a Gradisca, a mulher da tabacaria, todos personagens caricaturais e improváveis dentro do tom hiperbólico que é recorrente no filme.

A denúncia do governo fascista também não passa despercebida, e muito menos cede a remorsos ou sentimentos de indignação; dando antes lugar, novamente, à ridicularização das situações, até ao absurdo - a famosa parada é o melhor exemplo disso mesmo. 

Todo este folclore não implica, contudo, uma superficialidade da abordagem, ou falta de substância (os filmes do Kusturica demoram ainda uns anos a chegar); sente-se indiscutivelmente um sentimento de verdadeira afeição a tudo o que este bairro e os seus habitantes representam, como se de uma homenagem se tratasse, já para não falar daqueles momentos transcendentes de beleza - aqui a palavra-chave é pavão, e mais não digo.





Inês Viana

terça-feira, outubro 25, 2011

"Sangue do meu Sangue"

Republico neste espaço, com alterações, a crítica que escrevi a propósito de "Sangue do meu Sangue", o mais recente filme de João Canijo.





Antes de tudo e mais alguma coisa, um aviso à navegação: nunca vi outro filme de João Canijo (ignorantia non excusat, bem sei, mas o adágio não me parece relevante para o que vou dizer nas linhas seguintes) e, portanto, não estou a par da sua carreira (a única coisa sua que me chegou foi um comentário, bem interessante por sinal, a um filme do Cassavetes, que vem naqueles "extras" dos dvds).
Agora vamos ao que interessa.

João Canijo filma muitíssimo bem, disso não há dúvida, e só esse facto já é razão para dar graças, tão pouco são os realizadores portugueses assim dotados (mesmo falando, por exemplo, de um João César Monteiro, de quem gosto muitíssimo, não se reconhece nele uma técnica e uma estética deste calibre). Não só naqueles planos "divididos", em que temos duas cenas a decorrer em simultâneo (o que é um estímulo quase "naturalista" à atenção do espectador, porque tantas vezes as coisas se passam assim no nosso quotidiano), mas também na forma pausada, reflexiva, com que deixa as imagens fluírem no plano. Toda a cena inicial, feita de travellings e panorâmicas demoradas (a da última cena lá no alto, antes de passar ao bairro, é fabulosa) e, de um certo modo, "documentaristas", é de uma mestria indubitável. Portanto, quanto a este capítulo, estamos conversados.



Depois vem a questão da representação. Apregoou-se por aí aos sete ventos que estaríamos perante uma interpretação fantabulástica, onde o trabalho de actores de Canijo - à Mike Leigh, segundo dizem: um processo complexo e semi-livre de construção de personagens, que resulta de um diálogo dialéctico realizador-actores, os quais dispõem de um espaço de auto-construção muito amplo, e onde predomina uma grande carga de improvisação - seria por demais evidente. Pois bem, não posso estar mais em desacordo. Rita Blanco é sim ou sopas: ou se gosta muito ou se detesta. Eu nunca gostei particularmente e, muito honestamente, ainda continuo a preferir vê-la na série "Conta-me como foi". De quem gostei, e que para mim foi uma revelação, foi de Anabela Moreira, essa sim, convicente e terrivelmente decadente no respectivo papel. Quanto ao resto, a coisa oscila entre o mediano (Cleia Almeida, Rafael Morais, Nuno Lopes) e o fraco (Francisco Tavares). Fora deste campeonato, está Marcello Urgeghe (o amante-senhordoutor-vilãozinho), a jogar claramente nos distritais. A sua interpretação é de tal forma má que nunca percebemos por que razão tudo o que lhe sai da boca parece declamado (vamos acreditar que isto não fez parte do tal espaço de "auto-construção"...) e, pior, vazio de sentido, o que é particularmente grave quando se repetem interminavelmente coisas como "amo-te, "amo-te tanto", "preciso de ti". Além do tom ridiculamente poético com que as diz (parecem banalidades de alguém melancólico que está a pedir um café ao balcão, e que acabou de ler Álvaro de Campos), não tem qualquer presença de espírito num filme em que a sua personagem é (ou devia ser) absolutamente central, e com isto já se vê um dos aspectos por onde o filme falha redondamente (diga-se, já agora, que as cenas de amor do casal não entusiasmam nem um bocadinho). Um autêntico fantasma durante todo o filme, uma não-personagem, um falhanço dos pés à cabeça. Se os diálogos - formalmente falando, porque, na substância, assemelham-se mais a solilóquios - com a sua amante já são o que são, é ainda mais confrangedor assistir às suas conversas com a esposa (uma Beatriz Batarda perfeitamente lateral, sem chama, um adereço simbólico para dizer que existe uma mulher, traída, que sofre).



Agora, a portugalidade.
É notório (não o podia ser mais) o interesse de João Canijo em documentar essa portugalidade século XXI - feia, porca e má - do nosso país e seu património cultural (é o "cultural" que temos). Nada contra isto, muito pelo contrário. A questão está na forma como isso pode ser feito. E Canijo fá-lo no formato mais "telenovesco" possível, o mesmo é dizer, do modo mais fácil, gratuito e imediatista. Será que é preciso bombardear o espectador durante quase três horas com posters do Tony Carreira a piscar o olho ao plano, música pimba, relatos de futebol (Cristiano e companhia) em voz "off" ou personagens com camisolas da selecção nacional vestidas? Não é, e fazê-lo só demonstra uma certa dificuldade em retratar um determinado tema com algo mais para além do superficial e do folhetinesco. Basta pensarmos em Teresa Villaverde ("Mutantes", uma obra que também incide sobre a juventude, a marginalidade e a falta de rumos) ou, para o chamar uma vez mais, João César Monteiro, para encontrar essa mesma portugalidade filmada, mas, desta feita, sem recorrer a estereótipos cristalizados. É que não o fazendo, e isto é fulcral para o entendimento do que aqui vai dito, o que ressalta é uma incomparavelmente maior genuinidade do objecto que se retrata, das suas idiossincrasias, seus tiques e vícios. Esse filme de Teresa Villaverde, ou a famosa triologia de João de Deus, de César Monteiro, captam, na perfeição, o nosso país e o que é "ser português" - ou alguém tem dúvidas? Está tudo lá, mas agora introduzido de forma sóbria, subtil, dando ao espectador menos a "ver" (como faz flagrantemente Canijo, que nos espeta pelos olhos adentro todas as marcas imagéticas da portugalidade) e mais a procurar, a reflectir, a (re)descobrir. O que também acaba por constituir, está bom de ver, um maior campo de liberdade (e de interesse, et por cause) para um espectador que não queira identificar tudo na primeira jogada (claro que só faz sentido falar nisto se estivermos a falar de um realizador-autor como João Canijo; para realizadores que fazem filmes por encomenda, esta questão nem se põe). Mas vou ainda mais longe e arrisco fazer a seguinte pergunta: de tão exacerbado que é o retrato do nosso portuguesismo (o tal bombardeamento de "etiquetas"), não sairá a própria realidade falseada? Eu penso que sim. Tenho quase a certeza que sim. Por circunstâncias várias que não interessam para aqui contar, tive e tenho contacto com muitas pessoas que podiam ser as deste filme, a viver ali, num bairro como aquele. E as coisas não são "tão" assim - a realidade portuguesa, a dos bairros sociais e das vidas que aí se cruzam, não é como João Canijo a descreve, ou, pelo menos, não é tão suja, tão porca e tão má. Isto poderá ser refutado - sim, existirão muitos lugares do país onde a vida é assim ou pior ainda. Mas, bem entendido, e é nesto contexto que digo isto, do que se está aqui a falar é de Cinema, na vertente de ficção. Não é uma reportagem televisiva nem um documentário propriamente dito. E o cinema-ficção, por mais realista que pretenda ser, deve saber tratar o seu objecto com distância e sobriedade, não caíndo na "etiquetização" fácil e agressiva de uma realidade social que é bem mais densa e complexa do que isso (logo à partida, tome-se a título de exemplo, é muito duvidoso que alguém naquela casa, pela sua idade e inserção socio-urbana, goste de Tony Carreira - e goste o suficiente para colocar um poster seu na parede de casa).

Como me disse a companhia com que fui ao cinema, o filme seria muito melhor se fosse mudo. É verdade. Mas concordar com isto não constitui, como pode parecer à primeira vista, qualquer sintoma patológico de aversão à fonética portuguesa cinematográfica - nada disso. O português que é falado nos filmes de tantos outros realizadores portugueses (Teresa Villaverde, César Monteiro, Pedro Costa ou Manoel de Oliveira) é, tanto quanto se saiba, exactamente o mesmo, e o problema não se coloca. O mudo funcionaria melhor tão-só pelas razões que atrás referi: Canijo filma bem, mesmo muito bem, daí que a força visual do filme (cenas de interiores e exteriores, actores, paisagem) resulte maculada pelo fraco desempenho na interpretação, a qual vive também, como é óbvio, da forma com os actores dizem o texto. E no dizer vai grande parte dos traços (psicológicos e físicos, até) da personagem que se interpreta...



Por fim, o argumento.
Atento o interesse primordial que subjaz ao filme de Canijo - o de documentar a tal portugalidade -, ele (argumento) não é, para o bem e para o mal, central na análise que se faça ao filme. Isto é: se o filme fosse uma obra-prima, o argumento, provavelmente, não era ponto de controvérsia; a não ser uma obra prima, o argumento também não releva por aí além, porque o que ressalta é a tal incapacidade (ou desvirtuamento, pelas razões que atrás ficaram expostas) do realizador em captar a realidade sociológica e cultural que pretende. Todavia, sempre se pode dizer, ainda assim, que, despido o filme do resto, o que sobra é uma argumento telenovesco, de trazer na algibeira, e cujo núcleo central (a relação adúltera) se conta em três ou quatro linhas, sem densidade nem nervo. Sim, está bem, há uma certa "surpresa", mas ela tem mais de estapafúrdia do que de excitante (gostava de dizer um pouco mais sobre isto, mas correria o risco de contar tudo, o que não interessa a quem ainda não viu o filme).



Por isto (e por tudo o mais que nos assalta quando estamos numa sala de cinema, mas que se nos escapa da memória teimosamente), é que fiquei tremendamente desiludido depois de ver "Sangue do meu Sangue". Até porque, nesse dia, levei comigo alguém a quem queria fazer crer as virtudes do (bom) cinema português. 1-0, estou a perder.

até já



Com mais de 30 espectadores, o Cineclube repetiu uma sessão de sucesso com a exibição de "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog, que contou com a prévia apresentação do José Miguel Mesquita.

Atento o feriado previsto para a próxima semana, o Cineclube faz uma mini-pausa e regressa aos vossos corações no dia 8 de Novembro, com "MARY AND MAX" (2009, Adam Elliot).
Até lá! Bons filmes.

sábado, outubro 22, 2011

próxima 3ª (25 Out.): "GRIZZLY MAN"

Design: Luísa Beato


Depois de uma sessão inaugural muitíssimo concorrida, o Cineclube FDUP prossegue a sua programação com "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog, naquela que é a primeira incursão do Cineclube pelo registo documental. Uma aposta, pois, a ser creditada pelos nossos espectadores.

É na próxima terça-feira, dia 25, na sala 1.28 (Anfiteatro), às 18h15. A apresentação estará a cargo do José Miguel Mesquita, nosso amigo e ex-director do Cineclube FDUP.
Haverá, ainda, sorteio de um bilhete para uma sessão nos cinemas UCI, aproveita!
Até lá!

quinta-feira, outubro 20, 2011

fundido




Les Anges du Péché (1943), Robert Bresson.

quarta-feira, outubro 19, 2011

reentré


A reentré do Cineclube foi um sucesso, com quase 50 (!) pessoas a assistirem a "Amarcord", de Federico Fellini, e à excelente apresentação introdutória do David Barros.

Mantenham-se ligados aqui, no blog, e no facebook, para estarem a par das sessões seguintes. Para quem quiser receber a newsletter, por favor envie email para cineclubefdup@gmail.com com a palavra "newsletter".


A próxima sessão é já para a semana, terça-feira (25 Out.), às 18h15, com "GRIZZLY MAN" (2005), de Werner Herzog. Agora sim, na sala 1.28.

Até lá!

segunda-feira, outubro 17, 2011

primeira sessão: "AMARCORD", 18 Out, 18h15

Design: Luísa Beato





Tem hoje início a nova programação do Cineclube FDUP!
A primeira sessão contará com a exibição de "AMARCORD", de Federico Fellini. A apresentação estará a cargo de David Pinho Barros, Mestre em Cinema Pela Universidade Nova de Lisboa.

IMPORTANTE: Excepcionalmente, a sessão de amanhã decorrerá na sala 0.01 (piso do bar), e não na habitual 1.28 (como consta do cartaz).






Se desejares receber a newsletter do Cineclube, onde daremos conta de todas as sessões com antecedência, envia email para cineclubefdup@gmail.com com a palavra "newsletter"!

domingo, outubro 16, 2011

Programação até Dezembro

Design: Luísa Beato



Aí está a tão aguardada programação do Cineclube FDUP até Dezembro!



Como novidades para este semestre, o Cineclube FDUP aposta, pela primeira na sua história, em dois formatos fora da ficção: por um lado, o registo documental, com a exibição de GRIZZLY MAN, do alemão Werner Herzog; por outro, na Animação, o filme MARY AND MAX promoverá a estreia do género.

Paralelamente, o Cineclube prosseguirá o seu trilho na divulgação de diferentes estéticas e filmografias no campo da ficção. Fá-lo-á, desde logo, com dois realizadores absolutamente fundamentais: Fellini (AMACORD), em Itália, autor entre um tardo-neorealismo e uma subsequente exploração de universos oníricos e surrealistas; e Tarkovsky (O ESPELHO), na Rússia, um poeta das imagens que, como ninguém, construíu um cinema de autognose, contemplativo e esteticamente ímpar. A fechar, será a vez de SUPERFLY, filme-hino ao género "Blaxploitaition" que, nos anos 70, viria a reflectir toda a "fúria de viver" da comunidade negra dos EUA, uma década depois do movimento libertador dos civil rights. E, como cereja em cima do bolo, a banda-sonora: Curtis Mayfield a emprestar a soul toda ao filme de Gordon Parks Jr..


As sessões serão, como habitualmente, às 18h15, na sala 1.28 (em caso de alteração de sala, a mesma será anunciada com antecedência). Em cada sessão, será sorteado um bilhete para uma sessão nos cinemas UCI, aproveita!



Esta terça-feira, dia 18 Out., pelas 18h15, o Cineclube FDUP inaugura a sua programação com AMARCORD (1973), filme icónico de Federico Fellini. A apresentação estará a cargo de David Pinho Barros, Mestre em Cinema pela Universidade de Lisboa.


Até terça, venham e tragam um amigo!






PROGRAMAÇÃO COMPLETA:


18 Out.

Amarcord (1973), Federico Fellini


25 Out.

Grizzly Man (2005), Werner Herzog


8 Nov.

Mary and Max (2009), Adam Elliot


22 Nov.

O Espelho (1975), Andrey Tarkovsky


6 Dez.

Superfly (1972), Gordon Parks Jr.

sábado, outubro 15, 2011

O Cineclube está de volta!


Como prometido, anunciamos o primeiro filme deste ano lectivo:

Amarcord (1973), de Federico Fellini



Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1975, Amarcord (cujo título deriva da expressão italiana "a m'arcord", e significa "eu recordo-me") é tido como o filme mais autobiográfico do realizador italiano, e considerado um dos seus melhores.

Passado na Itália fascista dos anos 30, Amarcord é o retrato de um bairro baseado na cidade-natal de Fellini, Rimini. Aqui, a memória mistura-se com a imaginação, resultando num desfile de momentos burlescos, hilariantes, mas também de grande beleza e sensibilidade. Exemplar do mundo fantástico que deu origem ao adjectivo "felliniano", este é um filme a não perder.

A sessão decorrerá no dia 18 de Outubro, terça-feira, às 18h15, no sala 0.01, e será apresentada por David Barros, Mestre em Cinema pela Universidade Nova de Lisboa.

Os restantes filmes do ciclo serão anunciados amanhã.

Apareçam!




quinta-feira, outubro 13, 2011

hoje: "FAHRENHEIT 451" (21h45), na FAUP




Tem hoje lugar a exibição de Fahrenheit 451 (1966), pelas 21h45, na Faculdade de Arquitectura da UP. Oportunidade para ver em tela um dos filmes maiores de François Truffaut.

terça-feira, outubro 11, 2011

amanhã: "AFTERSCHOOL" (22h), no Passos Manuel




Depois de ter sido adiada por motivos técnicos, a exibição do filme "Afterschool" (2008), de Antonio Campos, terá lugar amanhã, no Passos Manuel, pelas 22h. Pela mão da Milímetro.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Cineclubistas de todo o mundo,




Uni-vos!... Ou talvez não precisareis de tanto, já que a programação do Cineclube FDUP está quase, quase a voltar para mais um semestre de bom cinema.

Estejam atentos!

segunda-feira, outubro 03, 2011

amanhã: "PARANOID PARK", no Passos Manuel (22h)

A Milímetro fecha amanhã, dia 4 Out., o ciclo "Back to Skool" com o filme "PARANOID PARK" (2007), de Gus Van Sant.





Às 22h, no cinema Passos Manuel.

sábado, outubro 01, 2011

a última ceia


Viridiana (1961), Luis Buñuel.


Adenda:
É engraçado reparar que quem está ao centro - no original, como é sabido, Jesus Cristo - é, aqui, um dos pedintes, mais precisamente aquele que é... cego. A cegueira como virtude cristã, como modo de fazer justiça (a própria figura contemporânea da Justiça - que remonta à grega Diké - usa, como se sabe, uma venda sobre os olhos) sem olhar a categorias sociais e respectivas posses? Talvez seja uma visão demasiado idílica das coisas, ou não estivéssemos nós a falar de um homem como Buñuel... (o tal que disse: "Graças a Deus, sou ateu")

Adenda da adenda:
Outra proposta: procurando retratar a progressiva degradação da Igreja católica (seus valores e princípios), Buñuel filma os pobres - os esquecidos, os ignorados, os rejeitados, os mal-tratados por uma doutrina conspurcada pela conivência dos seus representantes com o poderio dos mais ricos (nobreza, primeiro; burguesia, depois). E filma-os com duas peculiaridades. Por um lado, com um plano de conjunto, fixo, cujo objecto é decalcado de A Última Ceia (Da Vinci), aspecto extremamente importante por duas razões: logo à partida, por ser um quadro icónico do imaginário cristão; depois, porque se trata da última refeição que Cristo toma com os seus discípulos (entre os quais se encontra Judas - o segundo a contar da direita -, o qual, perdoem-me a memória, não sei neste momento se é o que corresponde ao pedinte que no filme de Buñuel admite já ter traído um amigo, o que merece a reprovação dos restantes), antes de ser preso e crucificado. Também em Viridiana se trata da última refeição - já não a de Cristo (ou a do pedinte cego), mas a última daqueles pobres, pois ao serem surpreendidos com a chegada dos donos da casa, serão inevitalvemente expulsos.

A segunda peculiaridade prende-se com o facto de, sendo os "discípulos" aqui filmados os indigentes, os desgraçados, o cenário - de fausto, abundância, opulência - em que são enquadrados contrasta violentamente (diríamos mesmo: miseravelmente) com a sua condição. Donde a ideia de degradação por que começámos: luxúria (espaço), pobreza (homens), hipocrisia (doutrina cristã). A ideia ou tese de que uma doutrina, uma filosofia (a cristã) se desvirtuou, se enlameou em virtude do "esquecimento" a que os seus pregadores votaram as suas ideias originais ("puras", neste sentido) de amor ao próximo e solidariedade, trocando-as por ambições materialistas, de riqueza e ostentação. Chegados a este estado das coisas, Buñuel põe as coisas no seu lugar (ou de pernas para o ar, conforme a perspectiva...): é aos pobres, e já não aos privilegiados do costume, que cabe uma noite de abundância e de um pantagruélico prazer; e, por isso, é com regozijo (ou, pelo menos, foi para mim...) que assistimos a esta comovente cena: cena em que os pobres, ali reunidos, com todas as suas virtudes e defeitos (os mesmos que existem em todos nós, e esta é uma lição central do filme), se lambuzam com um magnífico banquete, como que ajustando contas com o mundo injusto em que se inserem, tão avesso aos valores cristãos que o regem (ou que regem concretamente aquele lugar, Espanha). Mas, como os pobres são pobres - expressão de um determinismo/fatalismo que Buñuel tanto evidencia neste filme, nomeadamente na cena em que Jorge compra o cão a um viandante -, essa noite é, apesar de tudo, a última. É, portanto, a primeira e a última...
Não serão presos no sentido propriamente dito, como Cristo, mas sim numa acepção metafórica: depois do banquete, descobertos pelos donos da casa, voltarão às ruas, à fome, à miséria - esta a sua prisão. E quem são os donos da casa, aqueles a quem compete manter tudo no sítio (numa certa ordem natural das coisas)? A resposta não podia ser mais óbvia: eles são Jorge (o burguês, filho bastardo de um rico proprietário) e Viridiana (a freira, representante da Igreja católica), ainda que esta última não seja classicamente alguém de dentro da igreja que trai os valores que apregoa, pelo menos no que toca a ambições materiais (já no que diz respeito à carne e à sexualidade, o filme carrega uma tensão - tão cara a Buñuel - que daria aso a um post dedicado exclusivamente a esse tema...).