terça-feira, maio 26, 2009
João Bénard da Costa: 10 filmes da sua vida
Ciclo João Bénard da Costa no Teatro do Campo Alegre
JOÃO BÉNARD DA COSTA – 10 FILMES DA SUA E DA NOSSA VIDA
quinta, 28 Maio, OPINIÃO PÚBLICA / A WOMAN OF PARIS, Charlie Chaplin, 1923
sexta, 29 Maio, AURORA / SUNRISE, Friedrich W. Murnau, 1927
sábado, 30 Maio, FATALIDADE / DISHONORED, Joseph von Sterberg, 1931
domingo, 31 Maio, O EXTRAVAGANTE SR RUGGLES / RUGLES OF THE RED GAP, Leo McCarey, 1935
segunda, 1 Junho, VONTADE INDÓMITA / THE FOUNTAINHEAD, King Vidor,1949
terça, 2 Junho, SENTIMENTO / SENSO, Luchino Visconti, 1954
quarta, 3 Junho, DEUS SABE QUANTO AMEI / SOME CAME RUNNING, Vincent Minelli, 1958
quinta, 4 Junho, VERTIGO / A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES, Alfred Hitchcock, 1958
sexta, 5 Junho*, A BELA IMPERTINENTE / LA BELLE NOISEUSE, Jacques Rivette, 1991
sábado, 6 Junho, O SOL DO MARMELEIRO / EL SOL DEL MEMBRILLO, Victor Erice, 1992
Sessões às 18h30 e 22h, excepto A BELA IMPERTINENTE, às 21h.
sábado, maio 23, 2009
sexta-feira, maio 22, 2009
conhecendo o homem
Grande parte do que conheço de João Bénard da Costa (JBC) chega-me do que ouço de pais e amigos ou o que leio de jornais e revistas.
No entanto, já aconteceu algumas vezes passar os olhos por escritos do autor sobre obra cinematográfica. E gostei muito. Lembro-me que quando escrevi uma crítica aqui para o Cineclube, a propósito do Los Olvidados do Buñuel, uma das fontes de que me servi foi a sua compilação de folhas da Cinemateca acerca do realizador espanhol, que o meu pai havia comprado há já muito tempo.
A sensibilidade com que JBC utilizava as palavras para traduzir a mesma sensibilidade do filme e a abordagem tão vasta e absorvente que fazia da fita (com curiosas incursões pela filosofia ou pela literatura romancista) cativaram-me sobremaneira. Por outro lado, a exposição técnica - longe de ser enfadonha (tarefa difícil) - era igualmente prazerosa, pois recordava-me cenas precisas do filme e percebia a intenção e o porquê de fazer assim e não fazer assado; o porquê de utilizar isto para sugerir aquilo, subtis pormenores que simbolizam correntes; etc.
Assim foi que até um excerto seu ipsis verbis coloquei na minha crítica, tal era o valor e o modo como se identificava com o que eu pretendia expôr. E o mesmo fez o Tiago Ramalho na sua crítica ao How Green Was My Valley, do Ford. Sem me querer imiscuir nas considerações do Tiago, penso que essa citação também reflectirá parte do que aqui quis transmitir.
Acima de tudo, tenho JBC como um homem de fina sensibilidade. Alguém que pensou o Cinema de forma muito própria. E a mim agrada-me muitíssimo lêr alguém que pensa algo (diferente de pensar sobre), que o sistematiza, que o expõe com argúcia e lucidez. O Direito a intrometer-se na 7ª Arte, porventura...
Não me interessam agora as questão institucionais, digamos assim, mais ou menos felizes a que JBC esteve ligado. Neste momento faço o tributo apenas ao homem das letras.
Não tendo ainda, na verdade, uma real percepção do peso de JBC no Cinema português, posso dizer, da minha parte, que as suas linhas me despertaram a vontade de ler mais e mais. O que não deixa de ser um aspecto poderoso, não fosse o Cinema a arte da imagem (e de muito mais, é certo); imagem que, na gíria, "vale mais do que mil palavras". Talvez as de JBC não sejam assim tão facilmente superáveis.
sexta-feira, maio 15, 2009
Ainda em 2009
Adaptação da obra de Maurice Sendak por parte de Spike Jonze, outro renegade do cinema norte-americano. Pelo que já pude ver em trailers e snapshots (e o cartaz), aliciantes não faltam ao filme. A óptima fotografia e o bom gosto arrebatador sobressaem obviamente. (trailer)
Com o selo de qualidade da WingNut Films de Peter Jackson, District 9 é visto também como inspirado na badalada curta-metragem de Neill Blomkamp de 2005, Alive in Joburg. (trailer)
clicar sobre o titulo do filme ou poster para aceder à pagina IMDB
segunda-feira, maio 11, 2009
12 Maio - Easy Rider
sexta-feira, maio 08, 2009
proposta
segunda-feira, maio 04, 2009
The Grapes of Wrath - Apresentação crítica
Todas as escolhas são circunstanciais e esta por mais do que uma razão. Há anos que incluo “As vinhas da ira” na selecção de filmes de temática laboral, embora a classificação seja insuportavelmente redutora. É-o, mas é muito mais: é, entre muitas outras perspectivas, um manifesto político e sindical, uma elegia familiar, uma saga matriarcal, um épico da gente comum perante a adversidade ou um fresco da Dust Bowl ou da Grande Depressão. E por ser tudo isto e muito mais ganhou redobrada actualidade na desgraçada crise que atravessamos. Ainda há dias a BBC News, referia-se-lhe como uma obra profética, um clássico para os dias de hoje, pelo paralelismo da falência institucional da trilogia bancos-empresas-Estado.
Em suma, é uma obra-prima, que resistiu ao tempo do tempo e da técnica. É um cruzamento raríssimo de génio: ao romance maior de John Steinbeck, juntaram -se a imensidão de talento do realizador John Ford, as representações prodigiosas de Jane Darwell ou de John Carradine e o carisma de Henry Fonda. A estes nomes deve, todavia, acrescentar-se um menos conhecido, mas nem por isso menos decisivo: Gregg Toland, o director de fotografia.
Não é seguramente por acaso, que a dramaticidade da escrita de Steinbeck gerou uma série de conhecidos outros filmes (“East of Eden”, “Viva Zapata”, por exemplo) e de títulos literários memoráveis: “A Pérola”, “O Inverno do nosso Descontentamento” ou “A um Deus Desconhecido”. O filme, porém, tem vida própria, bem expressa pela divergência do final, que a opção de Ford ou o pudor dos tempos não mostraram na crueza do livro. A meu ver, no entanto, o filme acabou por envelhecer melhor do que o livro.
Apesar da utilização pedagógica que dele faço, por condensar muitas das questões fundantes do Direito do Trabalho, tais como o papel do trabalho na vida, a legitimidade da propriedade, o conceito de trabalho digno, os efeitos devastadores da precariedade e do desemprego, a existência de working poors, a natureza conflitual da relação laboral, o carácter alimentar do salário, os problemas da intermediação e do recrutamento, a superação do desequilíbrio contratual através da acção colectiva ou até a justificação do direito à greve e do princípio da não substituição de grevistas, a minha adesão emocional às “vinhas da ira” prende-se, sobretudo, com o facto de ser um road movie da provação – “nenhum ser humano aguentaria tanta miséria”, diz um personagem menor - e uma magnífica corporização simbólica das forças e fraquezas humanas: a caminhada inicial de um Tom Joad sozinho na iminência do encontro com o infortúnio, o avô que morre quando desenraizado do seu nativo Oklaoma, a avó que não sobrevive à travessia do deserto, a gravidez de Rosasharn, a Ma – personagem maior do que a vida - que se desfaz da sua história pessoal antes de partir, que se recusa a olhar para trás ou que ampara a sogra morta para fazer prosseguir a família através da fronteira estadual.
Do ponto de vista formal, é uma narrativa que só podia ter sido filmada a preto e branco, pois é, constantemente, uma narrativa de claro-escuro, de desencanto e de esperança, de dureza e ternura, de injustiça e revolta, de solidão e solidariedade, tal como a vida. Espero que confrontados com as belíssimas imagens do filme sintam o murro no estômago que só pode ser dado pela realidade, mesmo quando ela é tão simbolicamente retratada. Segundo consta, este foi, aliás, o propósito de Steinbeck, quando terá referido ao seu editor que fez o possível para “arrasar os nervos” dos leitores. Não sei se conseguiu tão universalmente quanto John Ford.