terça-feira, setembro 04, 2007
Estou de volta, caros cineclubistas. Depois de uma semana paradisíaca e inesquecível em terras longínquas, voltar ao Porto é sempre uma experiência de díficil de definir. Quando comparamos a beleza das paisagens e das gentes nórdicas com a nossa, juntando-lhe uma cultura assaz diferente, de preocupação artística e ecológica e social inigualável, sentimo-nos sempre a perder.
Só para deixar algumas curiosidades, em Copenhaga não vi um único traço de sujidade nas ruas, embora tivesse de correr tudo para encontrar um único caixote do lixo. E as bicicletas têm prioridade sobre os carros - estão em maioria, claro está. Na Noruega, um país com apenas 6 milhões de pessoas e o dobro do tamanho do nosso (a capital, Oslo, cuja área é quatro vezes a de Paris, tem apenas 500 000 habitantes), o equivalente ao IVA varia entre 15% e 25% e o IRS entre 30% e 50%. A maior parcela da riqueza nacional advém, no entanto, da exportação de petróleo, pois o seu consumo interno representa apenas algo como 10% da energia utilizada - os restantes 90% provêm de energias renováveis e gás natural. Cerca de 30% de toda a riqueza nacional é canalizada para o sistema de Segurança Social, e pasme-se, apenas 1% das escolas de ensino básico e secundário são privadas, e 3% no ensino superior. Ah, e até aos 13 anos as crianças não recebem notas na escola - transitam sempre de ano.
É claro que nem tudo é perfeito. O café não presta, as pessoas à meia-noite já estão em coma alcoólico, e o tempo é um desespero. Por isso, quando volto à minha terra há coisas às quais dou um valor imenso - o sol, o calor, o "cimbalino", a praia, os pastéis de nata, as legendas nos filmes. O Porto, apesar de tudo, é a minha cidade, a cidade à qual sempre voltarei, mesmo após ficar deslumbrada com todas as outras. Pedem-me usualmente para definir o Porto. Não sei que diga. Afirmações banais são traições banais. Então penso que a melhor forma de perceber o Porto reside no género. Quase todas as cidades europeias são femininas. Vamos a Lisboa. A Madrid. A Paris. A Londres. A Roma. A Praga. Não é por acaso. Existe nestas cidades uma leveza feminina, uma graciosidade pueril muito avessa à rudeza dos machos. O Porto é outra história. É o Porto. Cinzento. Rude. Masculino. Cativante na sua sensualidade. Por vezes violento. Intratável na linguagem. Mas cúmplice como um amigo de copos e rixas. Lisboa, como diz a canção, pode ser menina e moça. O Porto, pelo contrário, é muito homem. O Porto é um gajo porreiro. E um daqueles gajos que nunca deixa de me apaixonar. Só queria poder andar de bicicleta - com espaço, sem medos.
Peço desculpa pela dimensão do texto (males de quem não tem um outro blog para divagar...). Para parecer que este post tem algo a ver com cinema, deixo fotos da Cinemateca Dinamarquesa, em Copenhaga, e Norueguesa, em Oslo.
Quanto ao nosso Cineclube, esperem novidades em breve e uma programação de arromba para este semestre!
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